Um estudo pioneiro publicado na revista Biological Psychiatry, da Elsevier, reforça a importância dos espaços verdes no desenvolvimento cerebral durante a adolescência, com impacto direto no desempenho escolar e na saúde mental dos jovens. A investigação foi conduzida por uma equipa internacional, destacando-se Qingyang Li, MSc, do Departamento de Neuroimagem do Institute of Psychology, Psychiatry & Neuroscience do King’s College London, e contou com a colaboração de John Krystal, MD, editor da publicação.
A equipa analisou dados de mais de 7.000 adolescentes, com idades entre os 9 e os 10 anos, provenientes do estudo Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), abrangendo 21 locais nos Estados Unidos. O objetivo foi avaliar a relação entre a exposição a espaços verdes nesta faixa etária e as alterações na estrutura cerebral dois anos depois, bem como a evolução dessas alterações ao longo do tempo.
Os resultados revelam que a exposição a espaços verdes está associada a um aumento da área superficial total e do volume cortical, maior espessura cortical em regiões temporais e na ínsula, menor espessura em áreas frontais, e maior volume de estruturas subcorticais como o núcleo caudado, putâmen e núcleo accumbens. Estes efeitos foram observados tanto numa análise transversal como longitudinal, sugerindo que o contacto regular com a natureza potencia o crescimento de áreas cerebrais cruciais para o bem-estar mental e o sucesso académico.
Além disso, a investigação demonstrou que estas alterações estruturais no cérebro mediam, de forma significativa, a relação entre a exposição a espaços verdes e os resultados positivos ao nível académico e da saúde mental. Este efeito persistiu mesmo após o controlo de fatores socioeconómicos, como o contexto familiar e do bairro, o que sublinha o papel universal dos ambientes naturais no desenvolvimento saudável dos jovens.
Segundo Qingyang Li, “a exposição a espaços verdes está associada a mudanças estruturais no cérebro, tanto a nível global como regional. Verificámos ainda um efeito indireto da exposição a espaços verdes em melhores resultados académicos e de saúde mental, através da estrutura cortical total e regional, independentemente das desvantagens familiares e do bairro”.
A adolescência é uma fase marcada por rápidas transformações cerebrais e maior sensibilidade às influências ambientais. Com a previsão de que, até 2050, cerca de 68% da população mundial viverá em cidades, a redução do contacto com a natureza torna-se uma preocupação acrescida para a saúde pública. Os autores defendem, por isso, a integração de espaços verdes em ambientes urbanos e escolares como estratégia fundamental para promover o bem-estar e a resiliência das novas gerações.
Referência: “Longitudinal Associations Between Greenspace Exposure, Structural Brain Development, and Mental Health and Academic Performance During Early Adolescence,” by Qingyang Li, Sarah Whittle, and Divyangana Rakesh (https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2025.03.026). It appears online in Biological Psychiatry, published by Elsevier. The article is openly available at https://www.biologicalpsychiatryjournal.com/article/S0006-3223(25)01120-5/fulltext.
NR/HN/AlphaGalileo
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