O conhecimento disponível quanto a indicadores de prognóstico da asma profissional torna imperativo que a exposição ocupacional ao ao agente (também alergénio) seja evitada, o mais precocemente possível, a partir do diagnóstico da doença. No caso concreto das doenças alérgicas profissionais, alguns mecanismos etiopatogénicos não estão ainda completamente esclarecidos, sabendo-se todavia que, a partir do momento em que um indivíduo fica sensibilizado, qualquer exposição, por mais ínfima que seja, possa, potencialmente, provocar doença. Apesar disso, a “predisposição individual” tem sido quase sempre mais valorizada do que os aspectos relativos ao ambiente de trabalho, que se consideram, quase sistematicamente, imutáveis.
Se é verdade que determinadas características pessoais – como é o caso paradigmático da atopia – adquirem, em determinadas situações de exposição profissional (a faneras de animais, por exemplo), uma importância decisiva, não é menos verdade que, na maioria dos casos de exposição a substâncias químicas de baixo peso molecular, a atopia não desempenha, no desencadeamento de patologia alérgica profissional, um papel de primeira importância. Mas mesmo que, por absurdo, a hipersusceptibilidade constituísse factor determinante, tal não implicaria – face à elevada prevalência de atopia na população geral – que a intervenção em termos de prevenção colectiva pudesse ser dispensada, como parece ser a situação maioritariamente encarada.
Mantém-se polémica a fixação de concentrações máximas admissíveis para alergénios profissionais, apesar de ser quase consensual que tal prática deve ser mantida. Outro aspecto muito importante é a circunstância de existir uma forte possibilidade da exposição cutânea a um alergénio poder resultar na sensibilização e a potencial resposta à exposição por outra via, por exemplo do aparelho respiratório. Este aspecto coloca objectivamente em causa a actual estratégia de fixação de VLE baseada, principalmente, na exposição profissional por via inalatória.
O conceito tradicional da fixação de limites de exposição baseada na perspectiva de um limiar abaixo do qual a maioria dos trabalhadores não adoeceria está posto em causa, no caso da exposição a alergénios. São, de facto. efeitos essencialmente estocásticos, isto é, efeitos em que não existe uma dose limite de exposição segura, ainda que a sua probabilidade de ocorrência pareça aumentar com a dose de exposição.
A asma profissional coloca hoje importantes desafios que, para além dos aspectos teóricos ainda incompletamente conhecidos, encerra em si mesmo um vasto conjunto de entidades, diversas entre si, que determinam respostas necessariamente diferentes. Todavia, existe um denominador comum à asma profissional, asma relacionada com o trabalho e asma agravada pelo trabalho, (leia-se, asma ligada ao trabalho) que reside na sua complexidade e na dificuldade prática em se ser eficaz na prevenção ou no tratamento da doença, até mesmo após o afastamento do agente causal. Tal complexidade deveria, pois, determinar a sua prevenção, essencialmente. dirigida para a evicção da exposição a alergénios e não, essencialmente, para a “seleção” de quem pode (ou não) estar exposto.
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