O Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas (PLANAPP) divulgou o primeiro estudo abrangente sobre a satisfação e retenção dos profissionais de saúde em Portugal, abrangendo 3.843 participantes (1.398 médicos e 1.494 enfermeiros no SNS; 472 médicos e 479 enfermeiros no setor privado). Financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e conduzido pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT-NOVA), o estudo identifica desafios críticos para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com foco em médicos e enfermeiros.
Metodologia e Amostra
A pesquisa, realizada entre julho e outubro de 2024, utilizou inquéritos representativos estratificados por região e especialidade no SNS, enquanto no setor privado as amostras foram por conveniência. O instrumento de avaliação incluiu 13 dimensões de satisfação, desde condições de trabalho até vencimento, validado por técnicas de Grupo Nominal e Painel Delphi. As amostras do SNS garantiram representatividade nas cinco regiões de saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve), com quotas para 50 especialidades médicas e 6 de enfermagem.
Principais Conclusões: SNS Sob Pressão
Satisfação Global Moderada, Mas Alarmes Soam
Médicos e enfermeiros do SNS reportam satisfação global moderada (3.26 e 3.29 numa escala de 1-5), mas com picos de insatisfação:
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Vencimento é a dimensão mais crítica (2.11 para médicos; 1.90 para enfermeiros).
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Carreira e formação contínua também geram descontentamento (2.34 e 2.25).
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Burnout afeta 37% dos profissionais, especialmente jovens, mulheres e quem acumula empregos.
Perfis de (In)Satisfação
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Mais satisfeitos: Profissionais em cuidados primários, com horários fixos, exclusividade no SNS, cargos de chefia e idade avançada. Médicos no Alentejo e enfermeiros no Centro destacam-se positivamente.
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Menos satisfeitos: Jovens em hospitais, turnos rotativos e multiemprego (52% dos médicos têm dupla jornada). No Algarve e Lisboa, a insatisfação é aguda, ligada a falhas tecnológicas e gestão.
Diferenças Regionais e Setoriais
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Médicos hospitalares estão mais insatisfeitos que os de cuidados primários em 11 das 13 dimensões.
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Enfermeiros mostram menor variação regional, mas o Norte relata piores condições físicas e conciliação trabalho/família.
Setor Privado: Estabilidade Relativa
Profissionais do setor privado têm satisfação global mais alta (3.69 para médicos; 3.19 para enfermeiros), sem níveis críticos de insatisfação. Clínicas sem internamento geram maior contentamento, enquanto hospitais privados replicam problemas do SNS (ex.: carga burocrática). Médicos mais velhos e com chefia são os mais satisfeitos; enfermeiras jovens em turnos são as mais afetadas por burnout.
Retenção: O Que Faz os Profissionais Ficarem?
No SNS, 30% da intenção de permanecer é explicada por:
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Satisfação global, ambiente tecnológico e ausência de burnout.
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Médicos valorizam salário e autonomia; enfermeiros, liderança direta.
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Perfil de risco: Jovens sem chefia ou familiares a cargo, especialmente no Algarve.
No setor privado, fatores divergem:
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Médicos priorizam conciliação trabalho-família.
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Enfermeiros focam-se em salário e características do trabalho.
A retenção é mais estável no privado (especialmente entre médicos), mas enfermeiros têm menor intenção de permanência (3.13 vs. 4.09 dos médicos).
Recomendações Estratégicas
O estudo apela a políticas diferenciadas:
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SNS: Revisão salarial, redução de burocracia e investimento em tecnologia.
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Cuidados primários: Modelo a ser replicado para melhorar satisfação hospitalar.
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Regiões críticas (Algarve, Lisboa) exigem intervenções urgentes.
O relatório completo está disponível no site do PLANAPP. - PR/HN
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