Um estudo recente focado em crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 7 anos mostrou que as suas habilidades motoras beneficiam da participação em desportos organizados, e forneceu informação sobre a importância de alguns traços de personalidade no que diz respeito às mesmas – mais especificamente, traços como a atividade e a capacidade de atenção. Este resultado é uma novidade, já que a associação entre o temperamento e o desenvolvimento motor não foi ainda amplamente estudada.
Resumidamente, o termo habilidades motoras refere-se à habilidade locomotora, com bola e ao equilíbrio, tudo presente em tarefas do dia-a-dia como correr, escalar, atirar objetos ou até desenhar. As capacidades motoras adequadas deixam com que participemos em jogos típicos e vários tipos de brincadeiras para todas as idades e fases de desenvolvimento, como a apanhada ou jogos que envolvam bolas e corrida.
“Ainda que as habilidades motoras se desenvolvam com a idade, o seu desenvolvimento necessita de ser estimulado conscientemente”, explica Donna Niemstö, uma estudante de doutoramento da faculdade de Desporto e Ciências da Saúde na Universidade de Jyväskylä, na Finlândia. “Estas habilidades não se desenvolvem sem treino, até porque o seu desenvolvimento consiste na repetição e tem uma forte ligação à movimentação das crianças em vários aspetos. Num estudo atual descobrimos mais provas de que a participação em desportos organizados pode ser útil por dar mais oportunidades de treinar e repetir movimentos essenciais”.
Os traços do temperamento referem-se às caraterísticas biológicas e individuais de uma criança, tais como a resposta biológica da mesma ao que a rodeia, e são essencialmente estáveis ao longo da vida.
Até à data existem poucos estudos que digam respeito às habilidades motoras de uma criança e aos seus traços temperamentais, apesar de existir mais informação disponível sobre idades mais avançadas.
“Crianças que tendem a ter um tipo específico de temperamento, tal como crianças que se mostram persistentes quando se deparam com um desafio, podem apresentar-se persistentes e motivadas em aprender exercícios motores também. Por isso mesmo, estes resultados são lógicos e previsíveis. Uma criança com um temperamento ativo consegue reagir mais rapidamente. Consequentemente, vai repetir mais movimentos, mais rápido, e vai também aprender mais rápido com todas essas repetições”.
Ainda para mais, a capacidade de manter a atenção é igualmente importante para a aquisição de habilidade. “Para aprender coisas novas, uma pessoa tem que ser capaz de se concentrar e manter o foco, ainda que o que estamos a aprender possa parecer desafiante e mesmo difícil no início”, continua Niemistö.
Ambos estes traços temperamentais são capazes de influenciar o desenvolvimento de habilidades motoras. Por isso mesmo, é importante que os pais, tanto como os educadores e professores, estejam cientes destes fatores individuais no caso de quererem influenciar o desenvolvimento motor das suas crianças. “Por exemplo, não há que incentivar uma criança ativa a tornar-se ainda mais ativa”, explica Niemistö. “Contudo, com uma criança ativa, um pai pode guiá-la para que seja capaz de manter o foco e a atenção apesar de possíveis distrações”.
As habilidades motoras são avaliadas de acordo com medidas bem conhecidas internacionalmente. A primeira ferramenta de avaliação mede as capacidades de locomoção com um bola, a segunda o equilíbrio e a coordenação de uma criança. Uma vez que ambas medem aspetos divergentes do desenvolvimento motor, foram também constatadas diferenças entre os fatores associados às capacidades motoras envolvidas em cada teste.
“O desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação é melhor em crianças descritas como mais estáveis emocionalmente”, esclarece Niemistö. “Por outro lado, habilidades locomotoras são melhores em crianças cujos pais possuem um maior nível de educação, e o desenvolvimento das habilidades com uma bola beneficiam do facto das crianças terem acesso a infraestruturas desportivas perto de casa”.
O estudo dos “Miúdos Talentosos” (“Skilled Kids” em inglês), conduzido na Universidade de Jyväskylä entre 2015 e 2017, tem uma amostra de representação geográfica de 945 crianças e suas famílias provenientes de 37 estabelecimentos de ensino na Finlândia. O temperamento das crianças e dados sobre participação em desportos organizados foram obtidos através de um questionário feito aos pais.
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NR/HN/João Daniel Ruas Marques
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