Estudo explora a utilização de vírus no ataque a células cancerígenas.

28 de Maio 2020

Um adenovírus é agora mais capaz de identificar e matar células cancerígenas devido à adição de um elemento estabilizador RNA.

Os cientistas da Universidade de Hokkaido (na imagem) criaram um adenovírus que se replica especificamente dentro das células cancerígenas e que as mata ao utilizar um elemento estabilizador RNA especial. Os detalhes da investigação foram divulgados na publicação Cancers.

Muita da pesquisa dos anos recentes tem-se focado na modificação genética de adenovírus para combater o cancro, e algumas avançaram para estudos clínicos. Quando injetados, estes adenovírus replicam-se dentro das próprias células cancerígenas e eliminam-nas. Os cientistas estão agora a tentar desenhar vírus mais eficientes, que sejam melhores a identificar as células cancerígenas e que não perturbem as saudáveis.

O oncologista molecular da Universidade de Hokkaido, Fumihiro Higashino, liderou uma equipa de cientistas na criação de dois novos adenovírus que atacam especificamente células cancerígenas. Para o fazer utilizaram elementos ricos em adenilato-uridilato (AREs), que funcionam como sinais nas moléculas RNA, conhecidas por acelerar o declínio de RNAs mensageiros (mRNAs) em células humanas. “Os AREs certificam-se de que os mRNAs não continuam a processar proteínas nas células desnecessariamente”, explica Higashino. “Os genes requisitados para o crescimento e proliferação das células tendem incluir AREs”.

O AdARET matou células cancerígenas (A549, H1299 e C33A) de forma dependente da dose, enquanto as células normais (BJ e WI38) não foram afectadas, particularmente com pequenas doses infectadas com AdARET e AdAREF nos MOIs indicados. As células vivas foram coradas de azul. O MOI indica o número de partículas de vírus por célula. (Yohei Mikawa et al., Cancers, 11 de Maio de 2020.

 

Fumihiro Higashino da Escola de Medicina Dentária da Universidade de Hokkaido

Contudo, sob certas condições de stresse os mRNAs que contenham ARE conseguem ser estabilizados temporariamente permitindo a manutenção de alguns processos celulares necessários. Os ARE-mRNAs também estabilizam as células cancerígenas, permitindo que se espalhem.

Higashino e a sua equipa introduziram AREs de dois genes humanos num adenovírus que o replica, criando dois novos adenovírus: AdARET e AdAREF. “A ideia por trás é que os AREs estabilizem os adenovírus fazendo com que se repliquem apenas dentro da célula cancerígena”, explica Higashino.

De facto, tanto o AdARET como o AdAREF foram criados para se replicarem e matarem células cancerígenas em laboratório, enquanto dificilmente afetam células normais.

Os cientistas injetaram depois células cancerígenas humanas debaixo da pele de um rato careca que se desenvolveram em tumores. Quando o AdRET e o AdAREF foram injetados nos tumores, estes resultaram numa redução significativa no tamanho dos mesmos.

Esta não foi a primeira vez que a equipa testou o uso de AREs em adenovírus. Num estudo anterior um outro cientista utilizou um ARE proveniente de um gene diferente e encontrou que este adenovírus funcionava especificamente em cancros que provocam uma mutação num gene chamado RAS. AdARET e AdAREF, por outro lado, parecem ser eficazes contra células cancerígenas sem essa mutação no gene RAS, fazendo com que os vírus com ele criados tenham uma aplicabilidade a uma maior variedade de células.

“Uma vez que a estabilidade dos ARE-mRNA também foi relatada em outras doenças que não o cancro, achamos que os vírus que fabricámos possam ter potencial para tratar outras doenças relacionadas com inflamações, infeções virais ou hipoxia, e radiação ultravioleta”, explica o líder do estudo.

Mais sobre o estudo: Aqui

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