Em declarações à Lusa, Paula Teixeira (na foto), investigadora da ESB, afirmou hoje que o estudo visava desenvolver tecnologias alternativas para eliminar a Listeria monocytogenes, a bactéria patogénica transmitida por alimentos que “mais mata na Europa e que mais hospitalizações causa”.
“Esta é uma das bactérias que mais preocupa a indústria e a comunidade científica, daí os esforços para a combater”, realçou a docente, adiantando que o estudo, publicado na revista científica Food Microbiology, teve por base o impacto desta bactéria, que causa a listeriose, no leite.
Recorrendo a um método, intitulado de “tecnologia das barreiras”, os investigadores submeteram simultaneamente a Listeria a três tratamentos: a proteínas produzidas por bactérias “amigas do homem”, a bacteriófagos (vírus que ‘comem’ as bactérias) e a uma tecnologia “emergente de alta pressão”.
“Combinando estes três tratamentos conseguimos controlar a Listaria. Além de a eliminarmos, impedimos que eventuais sobreviventes possam desenvolver-se novamente durante o armazenamento”, avançou Paula Teixeira.
De acordo com a investigadora, esta combinação de tratamentos, que “nunca foi utilizada” pela comunidade científica, é também “mais eficiente e amiga do ambiente”.
“Neste tratamento, a eficiência energética é diferente porque temos menos gastos do que com o tratamento convencional do leite, que é o tratamento térmico”, sublinhou, acrescentando que a equipa está já a aplicar o método a outros produtos alimentares.
“Este estudo foi aplicado no leite, mas estamos a aplicar a outras matrizes alimentares em que o crescimento da Listeria pode ser controlado por agentes químicos e que, neste caso, esses agentes químicos podem ser substituídos por esta combinação de barreiras. Neste momento, estamos em fase de publicação de um novo artigo em que a combinação foi aplicada a produtos de charcutaria”, referiu.
À Lusa, Paula Teixeira salientou que a indústria está “muito aberta” a este tipo de soluções, isto porque a introdução de bactérias antimicrobianas não põe em causa os padrões de qualidade dos alimentos.
A poucos dias de se celebrar o Dia Mundial da Segurança Alimentar, que se assinala no domingo, a investigadora sublinhou que a “segurança alimentar continua a ser pouco relevante para a população em geral”.
“As pessoas dão pouca importância à segurança alimentar. Todos os anos falamos dos 23 milhões de casos de doenças transmitidas por alimentos, cinco mil mortes na Europa e parece que estes números não alteram a visão das pessoas”, afirmou, acrescentando que também o número de casos de listeriose na Europa “tem aumentado nos últimos anos”.
Segundo a investigadora, o lema da Organização Mundial de Saúde (OMS) deste ano para celebrar o Dia Mundial da Segurança Alimentar é que esta é “uma responsabilidade de todos”, incluindo cientistas, consumidores, governos, produtores e distribuidores.
LUSA/HN
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