Primeiros medicamentos anunciados no maior teste clínico para o COVID-19

12 de Junho 2020

Duas empresas farmacêuticas do Reino Unido vão ser as primeiras a formar parceria como as Universidades de Birmingham e Oxford num novo teste clínico de grande escala para testar tratamento em pacientes hospitalizados com COVID-19.

No que pode ser um desenvolvimento significativo na luta contra o vírus, o ensaio clínico CATALYST, uma colaboração com o Hospital Universitário de Birmingham (HUB), vai testar vários novos fármacos, incluindo alguns em utilização para pacientes com cancro e doenças inflamatórias como artrite reumatoide.

Levado a cabo pela Inflamation –Advanced and Cell Therapy Trials Team (I-ACT) no Centro de Pesquisa para o Cancro do Reino Unido na Universidade de Birmingham, o teste está a ocorrer em parceria próxima com o HUB e o Centro de Pesquisa Biomédica do Instituto de Pesquisa Médica Nacional de Birmingham (CPB IPMNB) e com colaboração próxima da Universidade de Londres e Oxford.

A empresa farmacêutica sediada em Oxford, Izana Bioscience, vai fornecer os primeiros quatro tratamentos prontos a serem testados. O Namilumab (IZN-101) é um anticorpo monoclonal totalmente humano e está na fase mais avançada dos testes para tratar a artrite reumatoide e uma doença inflamatória chamada espondilite anquilosante. O medicamento ataca uma citocina chamada GM-CSF (um fator estimulante para as colónias de granulócito-macrófagos), que é naturalmente segregada pelas células imunitárias no corpo mas, quando em níveis fora de controlo, é considerada a principal causa de inflamações excessivas e perigosas nos pulmões apresentadas por pacientes de COVID-19.

O segundo medicamento, Infliximab (CP-P13) desenvolvido pela Celltrion Healthcare UK sediada em Slough, é uma terapia de fator anti necrose tumural desenhada para se acoplar a uma proteína envolvida na inflamação. E é atualmente utilizado como tratamento para outras condições inflamatórias incluindo oito doenças autoimunes, como a artrite reumatoide e síndrome do cólon irritável, sob o nome comercializável de Remsima®.

Espera-se que ao utilizar medicamentos dirigidos aos sintomas mais sérios do vírus, a severidade do diagnóstico possa ser reduzida levando a uma redução no número de pacientes que precisam de ser admitidos nos cuidados intensivos e, ultimamente, uma redução nas mortes relacionadas com o vírus.

O Dr. Bem Fisher, co-investigador clínico do teste médico CATALYST do Instituto de Inflamações e envelhecimento da Universidade de Birmingham e Reumatologista assessor de reumatologia no Hospital Universitário de Birmingham, diz que “tem havido um esforço tremendo em realizar esta iniciativa tão rápido. Provas recentes estão a demonstrar o papel crítico de medicamentos anti-inflamatórios na tempestade de citocina associada a infeções graves de COVID-19. No CATALYST esperamos demonstrar que com uma só dose deste tipo de medicamentos em pacientes hospitalizados, conseguimos atrasar ou prevenir a rápida deterioração em cuidados intensivos e a necessidade de ventilação invasiva para pacientes críticos”.

“Esperamos que ao usar um tratamento já existente para o tratamento de inflamações noutras doenças autoimunes sejamos capazes de gerir inflamações associadas ao COVID-19 mais cedo”, disse Marc Feldman, professor de Imunologia na Universidade de Oxford. “Se, quando as pessoas são inicialmente internadas, formos capazes de manter os sintomas nos níveis toleráveis, isto pode reduzir o número de pacientes que precisam de ser internados nos cuidados intensivos”.

Dr. Someit Sidhu, administrador e cofundador da Izana Bioscience disse: “Estamos orgulhosos de apoiar os testes clínicos do CATALYST liderados pela equipa altamente experiente da Universidade de Birmingham e pelo Hospital Universitário de Birmingham, o maior centro de cuidados críticos integrados da Europa”.

“Acreditamos que o Namilumab pode desempenhar um papel significativo em parar as inflamações observadas em pacientes com infeções graves de COVID-19, e estamos empenhados em trabalhar com as entidades reguladoras de todo o mundo para assegurarmos que esta potencial terapia possa ser desenvolvida para pacientes com COVID-19 que precisam de tratamento urgente”, acrescentou.

“Este é um momento particularmente importante para mim, apoiar a resposta global a esta pandemia através do trabalho de uma equipa do Hospital Universitário de Birmingham – o hospital onde estudei como médico antes de seguir a minha carreira e fundar a Izana”, explica ainda o fundador da farmacêutica.

“Estamos ansiosos para colocar os nossos recursos e experiência à disposição do estudo para o tratamento da inflamação para abrandarmos o surto de COVID-19. O CT-P13 tem sido usado há vários anos no tratamento de condições inflamatórias, o que o torna num bom candidato para os testes no tratamento para o COVID-19 devido à sua disponibilidade e perfil de segurança já estabelecido”, disse o consultor médico da Celltrion Healthcare UK, o Dr. Dan Casey,

O novo desenho deste ensaio clínico permite testes mais rápidos para a eficácia de cada medicamento, com 40 pacientes recrutados para cada braço. O efeito de cada medicamento será medido pela quantidade de oxigénio no sangue, bem como outros indicadores rigorosos da doença (falha de órgãos, por exemplo). Medicamentos que mostrem uma redução da quantidade de oxigénio necessária pelo paciente e outras causas de alarme serão recomendadas para mais testes no âmbito da continuação a nível nacional do ensaio clínico.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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