Células cancerígenas por alimentar tornam-se mais sensíveis à quimioterapia

24 de Junho 2020

Ao prevenir a absorção de açúcares, os investigadores foram bem-sucedidos em aumentar a sensibilidade de células cancerígenas à quimioterapia

Os estudos, conduzidos por investigadores da Universidade de Lund na Suécia, foram conduzidos em células cancerígenas em ambiente laboratorial, e os resultados publicados no jornal de investigação Haematologica.

Tal como as células corporais, as células cancerígenas precisam de energia como a molécula do açúcar – glucose. Os investigadores estão há muito interessados em descobrir se é possível fazer estas células cancerígenas “passar fome” ao impedir a absorção de açúcar.

É também sabido que algumas células cancerígenas aumentam a absorção de moléculas de açúcar como um mecanismo de sobrevivência, o que pode reduzir o efeito do tratamento. Será possível prevenir a glucose de entrar na célula cancerígena de forma a aumentar o efeito da quimioterapia? É o que os investigadores das Universidades de Lund e Pisa têm estado a estudar.

Para permitir a entrada de moléculas de açúcar na célula cancerígena através da membrana celular, a célula utiliza os chamados transportadores de açúcar, que podem ser ligados a portas que deixam entrar e sair substâncias. No total, os investigadores podem atualmente identificar 14 transportadores de açúcar. Neste estudo, os investigadores debruçaram-se sobre a GLUT1 e o seu papel na leucemia mieloide aguda (conhecida como AML).

Ao introduzir inibidores especialmente desenhados – substancias que previnem ou impedem atividades na membrana celular – os investigadores foram bem sucedidos em bloquear a absorção de açúcar pela parte das células cancerígenas.

“Examinamos então se o efeito da quimioterapia utilizado no tratamento da AML teria ou não melhorado quando bloqueamos a absorção de açúcar. Foi claro que as células cancerígenas se tornaram bem mais sensiveis aos medicamentos da quimioterapia”, explicou Karin Lindkvist, professora de Biologia Celular na Universidade de Lund e líder do estudo.

A forma de cancro estudada pelos investigadores, leucemia mieloide aguda, é uma das mais comuns formas de leucemia entre adultos. A AML tem um prognostico relativamente fraco e um alto risco de retorno, sobretudo nas populações mais idosas, já que muitas vezes não conseguem tolerar o impiedoso regime de tratamento tão bem como as populações mais jovens.

“A nossa esperança é que ao combinar a quimioterapia com inibidores que bloqueiem a absorção de açúcar nas células cancerígenas possamos melhorar o efeito do tratamento, e assim curar mais pacientes no futuro”, afirmou Anna Hagström, palestrante sénior na Divisão de Genética Clínica da Universidade de Lund, e coautora do estudo.

Compreender estas proteínas e como regulam a entrada e saída de moléculas é um importante campo de investigação, de acordo com Karin Lindkvist. “Proteínas membrana são alvos de interesse no desenvolvimento de novos tratamentos e são geralmente conhecidos cerca de metade dos medicamentos no mercado que são capazes de as atingir.

Não há muito a acontecer na célula, e estas proteínas controlam o que entra e sai. Este transportador de açucares particular parece desempenhar um papel chave, já que é altamente eficaz na ajuda que presta á célula a absorver açucares. É também a razão pela qual a célula cancerígena tira mais partido do transportador para absorver mais energia”, explicou Karin Lindkvist.
Resta ainda bastante pesquisa a realizar antes de o marcador poder ser utilizado em pacientes.

“Os resultados precisam de ser repetidos tanto em estudos experimentais como em ensaios clínicos. A minha esperança é que alguém consiga levar isto mais além com o objetivo de tratar pacientes que sofram de AML ou outras doenças cancerígenas que saibamos utilizar transportadores GLUT1 para a absorção de açúcar”, conclui a autora do estudo.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Sofia Ramalho eleita nova bastonária da Ordem dos Psicólogos

A atual vice-presidente da direção nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Sofia Ramalho, foi hoje eleita nova bastonária, substituindo Francisco Miranda Rodrigues, que estava no cargo desde 2016, de acordo com os resultados provisórios.

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

MAIS LIDAS

Share This