As famílias que têm que “dançar” pandemia fora

26 de Junho 2020

O que acontece quando não é possível planear com antecedência? Quando os consumidores não conseguem planear… “dançam”.

Gestores de marketing e académicos têm estudado a maneira como as famílias planeiam com antecedência as decisões familiares e de consumo para o longo prazo. Mas o que acontece quando não é possível planear com antecedência? Quando os consumidores não conseguem planear… “dançam”.

Ainda que a maneira como o COVID-19 abrandou a vida familiar dê muito que falar, um novo estudo publicado no Journal of Marketing Management por investigadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, da Universidade de Melbourn, na Austrália, e da Universidade Adolf Ibanez, no Chile, afirma que esse não é o caso para todas as famílias.

A Dra. Pilar Rojas Gaviria, Palestrante de Marketing na Universidade de Birmingham, comenta que “para muitas famílias, a vida tornou-se mais precária, ansiosa e acelerada. Em vez de uma combinação de atividades estratégicas e decisões bem planeadas, descobrimos que quando a normalidade é interrompida abruptamente, os cuidados familiares assemelham-se mais a uma dança intrincada.

A Dra. Rojas Gaviria e os seus colegas notam que quando se deparam com uma disrupção não planeada da vida familiar, tal e qual o COVID-19, enquanto algumas famílias disfrutam de mais tempo livre por não terem de se deslocar ao trabalho, outras enfrentem situações sem precedentes como a interrupção da carreira profissional, a necessidade de cuidar dos outros ou a perda de rendimentos.

“Devemos evitar assunções sobre como as famílias foram todas afetadas da mesma maneira. Muitas famílias estão a lutar pela sua saúde mental enquanto outras estão a lidar bem com ela. Muitas perderam amigos, membros da família… enquanto outras não”, comenta a Dra. Rojas Gaviria.

“Isto quer dizer que as organizações devem almejar compreender melhor as necessidades dos empregados individualmente e das suas famílias, e pensar sobre como os podem ajudar ao reconhecer que as suas necessidades são diferentes e que mudam ao longo do tempo”, acrescenta.

Em particular, a Dra. Rojas Gaviria e os colegas descobriram que as famílias que já lidam com maiores e mais intensivas necessidades de cuidados – como as famílias que incluem um paciente crónico – têm que “dançar” pelas situações de disrupção do dia-a-dia, como é o caso durante a crise do COVID-19.

As famílias balançam entre as rotinas diárias – recorrendo ao que os investigadores chamam de atividades ‘terrenas’ – e outras mais criativas, lideradas pelas emoções ou atividades inspiradoras que vão para além das suas agendas como uma maneira de contradizer a disrupção em massa da sua vida diária.

No seu estudo das famílias que vivem com crianças diabéticas, os investigadores descobriram como, no meio do caos, a família encontra o seu próprio estilo para “dançar” pelas peripécias da vida ao alternar entre as ‘atividades terrenas’ e as ‘atividades aéreas’.

Os investigadores também concluíram que este processo ocorre muitas vezes de forma instintiva e invisível, e é geralmente liderado por um membro da família que orquestra os recursos e os talentos à mão para ajudar as famílias a desenvolverem a sua própria dança.

“Ao manter a dança em andamento, é essencial para a família balançar os movimentos terrenos com os movimentos aéreos, que tranquilizam, inspiram e motivam os membros da família”, explica a Dra. Rojas Gaviria.

“Por exemplo, vimos como, durante o isolamento do COVID-19, tanto as ‘atividades terrenas’ (como cozinhar ou jardinagem, …), combinadas com as ‘atividades aéreas’ (ajudar a comunidade, apoiar os negócios vizinhos, angariar fundos, …) para confortar as famílias e ajuda-las a conectarem-se uma à outra, mesmo à distância”, explica Rojas Gaviria defendendo uma necessidade de politicas públicas e programas de apoio flexíveis e adaptáveis a diferentes momentos e circunstancias de vida, e que aumentem as capacidades criativas das famílias.

“O objetivo deve ser ajudar as famílias a juntar recursos para o movimento (energia, tempo, concentração, esperança para o future) em vez de lhes dizer como se devem mexer ao estabelecer regras muito estritas que nem toda a gente é capaz de seguir. Desenhar um conjunto de ferramentas de apoio que possa ser oferecido para circunstâncias diferentes e em momentos diferentes no tempo é um desafio para os nossos sistemas societários”, acrescenta.

NR/HN/João Daniel Ruas Marques

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