Um terço dos pacientes com asma grave tomam doses perigosas de esteroides

8 de Julho 2020

Katrien Eger médica e estudante de doutoramento em pneumologia no Centro Médico da Universidade de Amsterdão, nos Países Baixos

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Um terço dos pacientes com asma grave tomam doses perigosas de esteroides

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08/07/2020 | Alergologia

Um terço dos pacientes com asma grave tomam doses perigosas de esteroides orais, de acordo com um estudo que incluiu vários milhares de pessoas nos Países Baixos.

A maioria destes pacientes poderia evitar tomar esteroides via oral ao aderir a outras formas de medicação para a asma ou a outro tipo de inalador, explicaa Dra. Katrien Eger, médica e estudante de doutoramento em pneumologia no Centro Médico da Universidade de Amsterdão, nos Países Baixos. Ainda assim, fica a faltar uma porção de doentes que pode ser elegível para tratamento com novos medicamentos biológicos para a asma, ainda que apenas metade desses doentes os esteja a administrar.

Segundo a Dra. Katrien Eger: “Os pacientes com asma que recorram a altas doses de esteroides orais estão em risco de sérios efeitos secundários como a diabetes, osteoporose e insuficiência ad-renal, em que as glândulas ad-renais deixam de produzir quantidades adequadas de hormonas esteroides.

“As nossas descobertas mostram que muitos pacientes com asma grave estão a tomar doses altamente perigosas de esteroides orais para a asma grave. Toda a receita para esteroides orais deve alertar os médicos para a avaliação da adesão a terapias e técnicas de inalação nesses pacientes. Para além disso, agora que há um crescente número de medicamentos biológicos para a asma disponíveis que evitam a necessidade de tomar esteroides orais, os médicos deveriam iniciar o tratamento biológico em pacientes que se adequem, para reduzir a exposição a esteroides orais perigosos”.

A Dra. Katrien Eger e os seus colegas analisaram informação de uma base de dados farmacológica de 500 mil e 500 habitantes dos Países Baixos para identificar quem estaria a utilizar altas doses de corticosteroides inaláveis (500 microgramas ou mais por dia), mais agonistas beta de longa duração, e foram identificados como tendo asma grave de acordo com a Iniciativa Global para a Asma (GINA). A base de dados continha também informação sobre o uso de esteroides orais (cortisona).

Os investigadores enviaram questionários a 5002 destes pacientes e analisaram então 2312 respostas. A informação da base de dados farmacológica deixou-os juntar informação sobre o uso de esteroides e adesão à medicação. Farmacêuticos analisaram as técnicas de inalação numa amostra dos pacientes.

O questionário colocava perguntas sobre o historial médico, incluindo quaisquer outras condições médicas, diagnósticos e controlo de asma, e historial de fumar. Se as receitas foram cumpridas 80% ou mais das vezes, os pacientes seriam considerados como aderentes à medicação.

“Descobrimos que 29% dos pacientes com asma que utilizavam altas doses de esteroides inaláveis estariam também a ingerir doses perigosamente altas de esteroides orais de 420 miligramas por ano ou mais”, disse a Dra. Eger. Destes pacientes, 78% teriam fraca adesão à medicação inalável ou realizariam a técnica de inalação de forma incorreta. Por isso mesmo, estes problemas deveriam ser considerados primeiramente nestes pacientes antes de considerar tratamento biológico. Os restantes 22% são candidatos a medicamentos biológicos.
“Se extrapolarmos os nossos resultados da base de dados para a população geral dos Países Baixos, isto significa que existem cerca de 6000 pacientes com asma grave que são candidatos para tratamento biológico – 1,5% de toda a população com asma. Mas menos de metade – 46% – estão atualmente a recebe-lo. Isto mostra que existe potencial para reduzir substancialmente o uso excessivo de esteroides”, acrescentou.

A Dra. Eger disse ainda que a sua pesquisa não mostrou porque tantos pacientes estariam a utilizar esteroides orais em demasia e porque estariam tão poucos a receber tratamentos biológicos, mas uma das razões poderá assentar no facto de os doentes não consultarem os seus médicos e quando o fazem, os médicos não os avaliam com rigor ou não os identificam como candidatos para tratamento biológico.
Ainda que os tratamentos biológicos, tais como o omalizumab, mepolizumab, reslizumab, benralizumab e dupilumab, sejam relativamente dispendiosos, identificar e tratar os pacientes que podem beneficiar deles tem benefícios económicos, disse a Dra. Eger.

“Se reduzirem a exposição a esteroides orais perigosos e assim reduzirem os efeitos adversos, isto poderia conduzir a uma redução dos custos dos cuidados de saúde. Um outro prisma importante é que os pacientes podem realizar mais exercício físico e experienciar menos exacerbações das suas doenças, e assim ter menos dias fora do trabalho devido à doença”, acrescentou.

A proporção de pacientes com asma que não adere à sua medicação inalável ou que tem fraca técnica de aplicação do dispositivo é provavelmente semelhante noutros países. Ainda assim, o acesso a tratamento biológico pode variar entre países.

“Nos Países Baixos temos um acesso bastante bom a cuidados de saúde e os biológicos estão disponíveis para todos os que os necessitem. Infelizmente, este não é o caso em todas as partes do mundo”, disse a Dra. Eger.

A investigação mostra que no tempo de uma vida, a dose cumulativa entre 0,5-1 gramas de esteroides orais está associada com efeitos secundários adversos. O risco aumenta quanto maior a dose.

O professor Guy Brusselle, da Universidade de Ghent, na Bélgica, faz parte da direção do Conselho Científico da Sociedade Europeia respiratória e não esteve envolvido no estudo. Para ele “corticosteroides orais são um medicamento importante para o tratamento agudo de crises de asma moderada a grave; eles reduzem a inflamação nas vias respiratórias dos pacientes durante os ataques e tornam mais fácil recuperar o folego, ajudando assim a reduzir o risco de hospitalização. Ainda assim, sabemos que o uso excessivo de esteroides orais, tais como o a utilização crónica, vão prejudicar a saúde dos pacientes no longo termo, uma vez que estas medicações têm muitos efeitos secundários.

“Tratamentos alternativos como medicamentos biológicos podem constituir uma forma de reduzir o uso a longo termo de corticosteroides orais, mas apoiar estes pacientes para que melhorem a sua técnica de inalação e adesão a outros medicamentos de asma, sobretudo inaladores, vai limitar o uso de corticosteroides orais e ajudar a proteger melhor a saúde geral dos pacientes com asma”.

 

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