Mário André Macedo Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil

É urgente recuperar a atividade programada

07/14/2020

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

É urgente recuperar a atividade programada

14/07/2020 | Opinião | 0 comments

Segundo informações fornecidas pela ministra da saúde, até maio foram efetuadas menos 902 mil consultas com uma redução da atividade cirúrgica em 85 mil atos. Com a manutenção da suspensão da atividade programada na região metropolitana de Lisboa, a tendência será de consequente agravamento diário.

Semanalmente, dezenas de milhares de consultas, cirurgias e exames complementares de diagnóstico são suspensos, num efeito cumulativo que se torna cada vez mais insustentável. O impacto na saúde desta suspensão é incalculável: começando pelo agravamento das morbilidades, ao estado de saúde autopercepcionado, assim como na confiança que o cidadão tem na resposta do SNS. Gera também uma iníqua desigualdade no acesso aos cuidados de saúde, quem tem meios de o fazer, recorre a prestadores privados para satisfazer as suas necessidades. Não podemos ter um país a duas velocidades na saúde. O combate às desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, deve ser uma dimensão fundamental da saúde em Portugal.

Este efeito indireto na saúde dos portugueses, poderá ser tão grave como os efeitos diretamente causados pelo Covid-19. É necessário um plano de ação que produza urgentemente as necessárias respostas que o cidadão necessita.

Uma das soluções seria uma aposta clara nas novas tecnologias. De acordo com o portal transparência.sns, houve um acréscimo de duas mil teleconsultas efetuadas, em relação ao período homólogo de 2019. Manifestamente insuficiente para a magnitude do problema que temos em mãos. Precisamos de melhores sistemas de informação assim como uma cultura profissional-utente que aceite este novo paradigma. Não será solução para todo o tipo de consultas, mas seria, sem dúvida, um importante auxílio.

Torna-se essencial a definição de circuitos separados entre doentes Covid e não Covid. Esta definição tem de se tornar mais abrangente, incluindo a alocação de hospitais na área metropolitana de Lisboa (AML) exclusivamente a doentes Covid, desta forma, os restantes hospitais, cumprindo exigentes regras de segurança, podem dedicar-se à recuperação da atividade programada. Segundo dados disponíveis na Pordata, existem cerca de dez mil camas de internamento disponíveis na AML, quatro centenas de casos internados não deveriam bloquear o sistema desta maneira.

De forma a recuperar a atividade programada, seria necessário utilizar a capacidade instalada na sua plenitude. Reforçar as equipas de profissionais de saúde com novas contratações, assim como, com respeito pelos trabalhadores, negociar e propor a extensão de horário de forma a dar resposta às necessidades urgentes de saúde. Os recursos físicos e materiais existem, é preciso haver vontade política para os dotar de recursos humanos para que sejam utilizados.

A dinâmica da evolução pandémica, irá produzir, naturalmente, situações regionais pontualmente mais delicadas e difíceis de gerir. É preciso mapear as necessidades em saúde de médio e longo prazo, conjugando com as necessidades de resposta à pandemia, de forma a garantir que ninguém fique para trás. Algumas regiões, podem ser alvo de discriminação positiva, aquando da negociação da contratualização, recebendo verbas extras para garantir a manutenção de toda a produção hospitalar.

O desafio que temos pela frente é enorme e não tem precedentes. Devemos estar preocupados pela ausência de um plano ou de um rumo traçado. Ao momento, ainda não foi explicado como esta situação será invertida. É urgente definir metas ambiciosas e alocar recursos necessários, de forma a que este sério problema de saúde pública tenha solução à vista.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This