Tratamento intensivo da hipertensão beneficia os doentes mais idosos

7 de Setembro 2021

O tratamento intensivo da pressão arterial em pacientes hipertensos mais velhos reduz a incidência de eventos cardiovasculares em comparação com a terapia padrão, sem aumentar os desfechos adversos

Esta é a constatação de uma investigação apresentada na sessão “Hot Line” do Congresso da ESC 2021 e publicada no “New England Journal of Medicine”.

Mais de mil milhões de pessoas têm hipertensão em todo o mundo. A prevalência global nos adultos é de cerca de 30-45%, aumentando para mais de 60% nas pessoas com idade superior a 60 anos. À medida que as populações envelhecem, adotam estilos de vida mais sedentários e aumentam o seu peso corporal, a prevalência da hipertensão a nível mundial continuará a aumentar. A pressão arterial elevada foi o principal fator responsável, em todo o mundo, para a morte prematura em 2015, com quase 10 milhões de mortes.

Ensaios de redução da pressão arterial em idosos com hipertensão têm obtido resultados mistos e as diretrizes recomendam diferentes alvos. O estudo STEP foi realizado para fornecer novas evidências sobre os benefícios da redução da pressão arterial em pacientes mais velhos com hipertensão. Especificamente, examinou se o tratamento intensivo que visa uma pressão arterial sistólica (PAS) abaixo de 130 mmHg, poderia reduzir o risco de doenças cardiovasculares em comparação com uma meta abaixo de 150 mmHg.

O estudo envolveu 8.511 doentes mais velhos com hipertensão essencial de 42 serviços de saúde na China. Todos os participantes tinham entre 60 e 80 anos, com uma SBP de 140-190 mmHg durante três visitas de rastreio ou estavam a tomar medicação anti-hipertensiva. Foram excluídos os doentes com AVC prévio. Os participantes foram aleatoriamente atribuídos a tratamento intensivo (meta de PAS abaixo de 130 mmHg, mas não inferior a 110 mmHg) ou tratamento padrão (meta PAS 130-150 mmHg).

Todos os participantes foram agendados para acompanhamento em 1, 2 e 3 meses, e de 3 em 3 meses até ao mês 48 ou até à visita de encerramento. Todos os hospitais que participaram no estudo utilizaram dispositivos validados de medição da pressão arterial, o que minimizou o viés dos investigadores na determinação da pressão arterial durante as consultas clínicas de acompanhamento.

Um importante ponto forte do ensaio foi que a medição da pressão arterial no domicílio foi monitorizada como um acessório das medições realizadas em consultório, através de uma aplicação “smartphone-based”. No início do estudo, todos os participantes receberam o mesmo modelo validado de monitores automáticos de medição da pressão arterial no domicílio. A função “Bluetooth” do monitor permitia aos pacientes transmitir as leituras a um “data center”. Se a pressão arterial não fosse medida regularmente e transmitida ao centro de dados, a aplicação enviava lembretes através do “WeChat”. Por outro lado, os médicos recebiam um relatório mensal sobre as medições efetuadas no domicílio, com o objetivo de melhorar a eficiência do controlo da pressão arterial durante o ensaio.

Durante um período médio de seguimento de 3,34 anos, a diminuição média da PAS a partir da linha de base foi de 20,4 mmHg no grupo de tratamento intensivo e de 10,8 mmHg no grupo de tratamento padrão. A PAS média atingiu 125,6 mmHg e 135,2 mmHg nos grupos intensivo e padrão, respetivamente, com uma diferença média entre grupos de 9,6 mmHg.

Foram documentados 196 eventos primários no grupo de tratamento padrão (4,6%) em comparação com 147 eventos no grupo de tratamento intensivo (3,5%), com uma redução relativa do risco da ordem dos 25% (rácio de risco com tratamento intensivo 0,75; intervalo de confiança de 95% [IC] 0,60-0,92).

Em relação aos eventos secundários, o tratamento intensivo esteve associado a um risco relativo de AVC 34% menor (IC 95% 0,46-0,95) e um risco relativo 32% inferior de síndrome coronária aguda (95% IC 0,48-0,95). A progressão da rigidez arterial avaliada pela velocidade da onda de pulso braquial-tornozelo foi significativamente mais lenta no grupo de tratamento intensivo. As taxas de eventos adversos graves e desfechos renais não diferiram entre os dois grupos, exceto hipotensão, que ocorreu em 146 (3,4%) e 113 (2,6%) pacientes nos grupos de tratamento intensivo e padrão, respetivamente (p=0,03).

O Professor Jun Cai, investigador principal do estudo, da Academia Chinesa de Ciências Médicas, em Pequim, afirmou: “O controlo ativo da PAS abaixo de 130 mmHg em doentes hipertensos mais velhos, em comparação com valores inferiores a 150 mmHg, resultou numa menor incidência de eventos cardiovasculares importantes, sem aumento das lesões renais. O controlo da pressão arterial no domicílio refletiu com maior precisão as flutuações a longo prazo da pressão arterial, em comparação com as medições do consultório”.

NR/AO/HN

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APDP apresenta projeto “Comer Melhor, Viver Melhor” no Parlamento Europeu

Uma alimentação que privilegie um maior consumo de produtos vegetais, quando planeada equilibradamente, pode contribuir para melhorar os resultados em saúde nas pessoas com diabetes tipo 2, evidencia o projeto “Comer Melhor, Viver Melhor”, apresentado pela APDP no Parlamento Europeu no passado dia 18 de abril.

SIM recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou hoje que recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas para apoio à frequência de cursos habilitadores à Competência em Gestão dos Serviços de Saúde.

Abertas inscrições para as jornadas ERS

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) vai realizar no próximo dia 23 de maio a terceira edição das Jornadas ERS – Direitos e Deveres dos Utentes dos Serviços de Saúde. As inscrições já se encontram abertas.

CUF assegura cuidados de saúde a atletas do Rio Maior Sports Centre

A CUF e a DESMOR celebraram um protocolo de cooperação que assegura a articulação do acesso dos atletas em treino no Rio Maior Sports Centre a cuidados de saúde nos hospitais e clínicas CUF. O acordo foi formalizado a 30 de abril no Centro de Estágios de Rio Maior.

Finalistas do concurso “Três Minutos de Tese” da UAlg já são conhecidos

A apresentação pública das candidaturas selecionadas na primeira fase do concurso “Três Minutos de Tese (3MT-UAlg)” vai realizar-se no dia 11 de maio, às 14h30, no anfiteatro 1.5 do Complexo Pedagógico do Campus da Penha. Foram selecionados 25 candidatos, dos 53 que se apresentaram a concurso.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights