Cabo-verdianos na expetativa de conhecer já hoje o novo Presidente

17 de Outubro 2021

Centenas de cabo-verdianos começaram a votar pouco depois das 07:00 para escolher o próximo Presidente da República, as terceiras eleições em pandemia, entre as dúvidas de uma segunda volta, daqui a 15 dias.

“O meu desejo é que seja resolvido ainda hoje, para que não haja mais dispêndio, mais material. Assim, toda a gente vai para casa descansada”, confessou à Lusa José António Tavares, 65 anos, um dos primeiros a comparecer na sua mesa de voto, instalada na escola primária de Safende, arredores da Praia.

Passavam poucos minutos das 07:00 (mais duas horas em Lisboa) quando este reformado votou, depois de cumpridas as formalidades de identificação e as de higienização, devido à pandemia, às quais todos já estão habituados.

“É um dia importante para todos os cabo-verdianos, tendo em conta que é o dever cívico de todos de exercer o seu direito de voto. Cada um vai escolher a pessoa que quer que lhe represente”, recorda.

Estas eleições encerram o ciclo eleitoral em Cabo Verde, iniciado em 25 de outubro de 2020 com as autárquicas e que prosseguiu em 18 abril passado, com as legislativas, sempre com a aplicação de medidas de proteção sanitária, como a utilização de máscara e desinfeção obrigatória à entrada das assembleias de voto, devido à pandemia de Covid-19.

“A CNE, o Estado de Cabo Verde, preparou estas eleições como as anteriores. Penso que está correto e sinto-me seguro”, admitiu José António Tavares, ao deixar a escola, onde hoje estão a funcionar cinco mesas de voto numa única assembleia.

Numa dessas mesas, pelas 07:04, votou o primeiro eleitor. Carla Cardoso, 24 anos, é a presidente dessa mesa, tal como aconteceu nas duas últimas eleições, praticamente com a mesma equipa, e garante que essa experiência é que permitiu a abertura à hora prevista, contrariamente às restantes.

“Acho que deve ser experiência, já é a terceira vez que sou presidente da mesa e sempre abrimos primeiro e fechamos na hora. Deve ser a equipa que eu tenho. Cumprimos sempre o horário, viemos cedo, contamos os boletins e fazemos questão de abrir sempre às 07:00”, explicou à Lusa a presidente da mesa, que conta com 431 eleitores inscritos.

Contrariamente a atrasos que se verificaram noutras mesas, até na mesma assembleia, nesta todos os membros receberam os equipamentos de proteção individual e de higienização a tempo da abertura das urnas, conforme programado.

“Esperamos que corra tudo bem, não ter nenhum problema durante o dia”, atirou.

À entrada daquela escola, um elemento da CNE garante a higienização com álcool gel de todos os eleitores e fornece máscaras a quem não tem.

Pelas 07:20, José Tavares, reformado de 69 anos, apresentou-se à entrada da escola à procura da mesa de voto e da mesma forma espera que o final do dia traga já um novo Presidente da República.

“Que seja resolvido ainda hoje. Mas depende da consciência do povo”, apontou, admitindo esperar que a eleição dê a Cabo Verde “um bom Presidente”, que “cuide de todas as pessoas”.

É que caso nenhum dos sete candidatos que se apresentam hoje a sufrágio obtenha a maioria absoluta, os dois mais votados disputam uma segunda volta, já agendada para 31 de outubro.

“Mas é um grande dia para mim e para todos os cabo-verdianos”, disse ainda, satisfeito com as condições de proteção sanitária que encontrou.

As mesas de voto para as eleições presidenciais em Cabo Verde abriram hoje depois das 07:00 locais (09:00 em Lisboa), embora algumas com atraso devido a questões logísticas, constatou a Lusa na cidade de Praia.

A abertura oficial das assembleias de voto instaladas no arquipélago aconteceu uma hora antes do horário habitual de eleições anteriores ao período de pandemia, conforme medidas de prevenção definidas pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Cabo Verde, e a admissão de eleitores poderá ser feita até às 18:00 (20:00 em Lisboa), para garantir o cumprimento das normas sanitárias e evitar aglomerações.

Numa ronda feita pela Lusa por assembleias de voto foi possível verificar alguns atrasos, sobretudo por questões logísticas, como limpeza e higienização dos locais de votação e a preparação dos elementos das mesas de voto, obrigados a usar equipamentos de proteção individual, nomeadamente máscaras e viseiras, devido à pandemia de Covid-19.

Está previsto o funcionamento de um total de 1.053 mesas de voto distribuídas pelo arquipélago e 243 na diáspora, 64 das quais em Portugal.

Segundo o caderno eleitoral publicado pela Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) em 23 de setembro, estão inscritos para votar nos 22 círculos eleitorais do país 342.777 eleitores, enquanto os 16 círculos/países no estrangeiro contam 56.087 eleitores recenseados, totalizando assim 398.864 cabo-verdianos em condição de votar.

Na diáspora, o círculo de Portugal é o que conta com mais eleitores inscritos para votar nas eleições presidenciais, 17.914 eleitores, e o quinto com mais votantes incluindo os círculos nacionais.

O Tribunal Constitucional admitiu as candidaturas a estas eleições de José Maria Pereira Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.

Esta é a primeira vez que Cabo Verde regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.

A estas eleições já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.

As eleições presidenciais de Cabo Verde vão ser acompanhadas em todo o país por 104 observadores internacionais, sendo 30 da União Africana, numa missão liderada pelo diplomata e antigo ministro angolano Ismael Gaspar Martins, 71 da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e três da Embaixada dos Estados Unidos da América na Praia.

Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 – 1991) por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 – 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.

As últimas presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

LUSA/HN

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