Marionet estreia em Coimbra espetáculo sobre a condição de ouvir vozes

22 de Novembro 2021

A companhia Marionet estreia na quinta-feira, em Coimbra, “Vozes sem Conta”, um espetáculo de teatro que se debruça sobre pessoas que ouvem vozes, procurando abrir portas a uma reflexão e discussão sobre o tema.

O espetáculo, que vai estar no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB) até domingo, é inspirado “pela condição de ouvir vozes”, onde as vozes e aqueles que as ouvem assumem-se como personagens principais de uma peça de teatro ficcional ancorada na realidade, afirmou a companhia.

A peça surgiu de um desafio de uma investigadora do Centro de Estudos Sociais à Marionet para trabalhar o tema, acabando a companhia por montar um projeto, que conta também com a parceria do Movimento Ouvir Vozes Portugal e da Rádio Aurora (emitida a partir do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa), explicou à agência Lusa o diretor da companhia, Mário Montenegro.

O projeto contou com muita pesquisa e uma série de entrevistas a pessoas que ouvem vozes, para compreender essa realidade, que é, acima de tudo, diversa.

“Há pessoas institucionalizadas, há outras que nunca foram institucionalizadas e conseguem viver a sua vida normal e lidar com as vozes que ouvem e outras que tiveram crises e que tentam depois manter um certo equilíbrio nas suas vidas”, contou.

As vozes que ouvem são também elas múltiplas, frisou.

Há vozes interiores e outras exteriores, vozes que são mentoras, vozes que ajudam, outras que insultam, vozes de desconhecidos ou familiares, vozes que se dirigem às pessoas, outras que falam indiretamente, explicou.

Segundo Mário Montenegro, essa multiplicidade está também presente na peça, com uma dramaturgia escrita a oito mãos, para vincar “a diversidade de perspetivas sobre o fenómeno”.

Numa ficção “ancorada numa realidade muito forte”, o espetáculo desenvolve-se a partir de determinadas situações cénicas, onde quatro atores tanto podem representar pessoas que ouvem vozes como as vozes em si.

Para além do modo como as vozes são apresentadas – “podem ter corpo, podem ser só ouvidas, podem ser amplificadas” – há também um trabalho de sonoplastia e musical “muito forte” no espetáculo, com a participação dos músicos Rita Redshoes e Marcelo dos Reis.

“A nível de sonoridade, vai ficar bastante preenchido. Sentimos a necessidade desse preenchimento”, frisou.

Para além da peça de teatro, o projeto conta ainda com uma série de artigos publicados no P3 (do jornal Público), uma série de ‘podcasts’ da Rádio Aurora e uma instalação sonora de Sílvio Santos, que estará também presente no TCSB, no período em que a peça será lá apresentada.

De quinta-feira a sábado, o espetáculo é apresentado às 21:30, e no domingo às 16:00.

A peça, que é apoiada pela Direção-Geral das Artes no âmbito do programa “Arte e Saúde Mental”, conta com dramaturgia de Andreia Fernandes, Joana Ferrajão, Mário Montenegro e Nuno Geraldo, estando como intérpretes Ana Teresa Santos, Mafalda Canhola, Nuno Geraldo e Sílvia Santos.

O espetáculo utiliza linguagem explícita e contém referências a violência.

LUSA/HN

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