Nos Estados Unidos: Valores da pressão arterial aumentaram durante a pandemia

10 de Janeiro 2022

Traços ateroscleróticos referidos como “rigidez arterial” parecem ser fatores independentes de pressão arterial elevada e hipertensão entre adolescentes e adultos jovens.

Os especialistas estão preocupados porque valores de pressão arterial mais elevados podem resultar em mais mortes por doença cardíaca.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), quase metade dos adultos nos Estados Unidos têm hipertensão. E os níveis da pressão arterial aumentaram durante a pandemia, com as mulheres e os idosos a registarem os aumentos mais significativos, de acordo com um novo estudo que usou dados de saúde de quase meio milhão de norte-americanos. Os resultados foram publicados na revista “Circulation”, da “American Heart Association”.

“No início da pandemia, a maioria das pessoas não se cuidou devidamente. O aumento da pressão arterial provavelmente está relacionado com a mudanças nos hábitos alimentares, aumento do consumo de álcool, menor atividade física, diminuição da adesão aos medicamentos, mais stresse emocional e problemas de sono”, referiu Luke J. Laffin, codiretor do “Center for Blood Pressure Disorders” da Cleveland Clinic, em Ohio, e principal autor do estudo. “Sabemos que mesmo pequenos aumentos da pressão arterial aumentam o risco de enfarte e de outros eventos cardiovasculares”

Essas descobertas são importantes e confirmam o que os médicos estão a observar no consultório todos os dias, diz o cardiologista Lawrence Phillips, cardiologista, diretor médico de cardiologia da “NYU Langone Health”, em Nova York.  “Durante a pandemia de Covid-19, a gestão das doenças crónicas, incluindo a monitorização da pressão arterial, por vezes tem sido negligenciada pelos pacientes. E compreensivelmente, porque foram amplificados outros fatores de stresse na sua vida diária”. 

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, quase metade dos adultos nos Estados Unidos (47%, o que corresponde a 116 milhões de pessoas) têm hipertensão.

Para estudar alterações nos níveis de pressão arterial antes e durante a pandemia de Covid-19, os investigadores utilizaram dados de saúde anónimos de 464.585 funcionários e seus cônjuges ou parceiros que estavam inscritos num programa de bem-estar. A média de idade dos participantes foi de 46 anos; 54% eram mulheres.

Os indivíduos mediram a sua pressão arterial durante uma triagem anual de saúde dos funcionários, entre 2018 a 2020. Os participantes foram categorizados em quatro grupos: pressão arterial normal, elevada, hipertensão fase 1 e fase 2, de acordo com as diretrizes atuais de pressão arterial da “American Heart Association”.

Durante a pandemia, entre abril a dezembro de 2020, o aumento médio da pressão arterial variou de 1,10 para 2,50 mmHg no que diz respeito à pressão arterial sistólica e de 0,14 a 0,53 mmHg para a pressão arterial diastólica, em comparação com o período homólogo de 2019. Foram observados valores mais elevados entre as mulheres na pressão arterial sistólica e diastólica, nos participantes mais velhos (na pressão arterial sistólica), e nos mais jovens (na pressão arterial diastólica).

De abril a dezembro de 2020, em comparação com os tempos pré-pandemia, 26,8% dos participantes entraram numa categoria de hipertensão mais alta, enquanto apenas 22% mudaram para uma categoria mais baixa.

Pequenos aumentos populacionais na pressão arterial estão associados ao aumento da incidência a longo prazo de grandes eventos cardiovasculares adversos, e estes resultados podem significar um aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares mais tarde, de acordo com os autores.

Embora este estudo não tenha sido criado para descobrir por que motivo a pressão arterial aumentou durante a pandemia, é provável que seja devido às mudanças de estilo de vida, diz Lawrence Phillips. “No início da pandemia as pessoas ficaram mais em casa, exercitaram-se menos, aumentaram a ingestão de álcool, fizeram uma alimentação mais pobre, ganharam peso e experimentavam níveis mais elevados de stresse generalizado. Não é de surpreender que esses fatores tenham resultado em valores mais elevados de pressão arterial”.

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