João Valente Nabais Vice-Presidente da Federação Internacional da Diabetes, Professor Auxiliar da Universidade de Évora, Assessor da Direção da APDP

E se de repente um estranho lhe oferecer uma boa causa? Aceite, vai fazer-lhe bem!

08/12/2020

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E se de repente um estranho lhe oferecer uma boa causa? Aceite, vai fazer-lhe bem!

12/08/2020 | Opinião

As associações de doentes crónicos desempenham um conjunto variado de atividades que visam o bem-estar, a qualidade de vida e a defesa dos direitos das pessoas a viver com determinada patologia. Estas atividades podem ser de natureza educativa, recreativa, de promoção de interação e ajuda pelos pares e de advocacia, vulgarmente designada de lobby. Em Portugal, demasiadas vezes e na perceção de muitas pessoas, a palavra lobby está associada a tráfico de influências e outras atividades menos lícitas e obscuras. Contudo, fazer lobby não deve ter esse significado pejorativo, antes pelo contrário, significa a defesa dos interesses de determinado grupo, por exemplo das pessoas que sofrem de determinada patologia, para que as decisões políticas sejam as melhores, mais ponderadas e mais eficazes. Claro que esta atividade de advocacia implica falar com os decisores, mostrar e explicar os problemas existentes e apontar soluções possíveis e implementáveis para a resolução dos mesmos. Claro que isto implica, muitas vezes, fazer pressão através da comunicação social e de outros meios de comunicação, como por exemplo as redes sociais, e de meios legais ao nosso dispor, tal como petições e cartas ao Provedor de Justiça. Todas estas atividades devem ser feitas com clareza e transparência. Aos decisores cabe aceitar as causas, ouvir, ponderar e decidir.

Vou agora particularizar para a causa da diabetes.

Que mensagem central deve ser usada nas atividades de advocacia? A resposta mais óbvia será que depende do objetivo da atividade e do que se pretende alcançar.

Contudo, às vezes as mensagens podem parecer quase antagónicas o que constitui uma dificuldade acrescida. Por um lado, a diabetes continua a ser a maior causa não traumática de amputações, um fator determinante para as doenças cardiovasculares e para as falências renais. Estas são algumas das complicações da diabetes, que podem ser bastante danosas para as pessoas com diabetes e cujo tratamento tem um peso considerável nos custos da diabetes. Para não maçar os leitores com números sugiro que quem queira saber mais consulte os relatórios do Observatório Nacional da Diabetes em:

www.spd.pt/index.php/observatrio-mainmenu-330

Por outro lado, a vida com diabetes pode (e deve, diria eu) ser plena, produtiva, sem limitações e sem qualquer complicação descrita anteriormente, ou outras. Existem excelentes exemplos de campeões olímpicos, políticos com altos cargos, gestores de topo, pessoas e equipas de futsal (www.facebook.com/DiabPTUnited) todos com diabetes e que alcançaram os seus objetivos.

Estes dois lados da mesma moeda, não são antagónicos! Está provado cientificamente, por diversos estudos, que a diabetes quando bem tratada não é uma limitação permitindo a prevenção ou o atraso do surgimento das complicações da diabetes. Assim, são duas mensagens que podem perfeitamente coexistir pois no fundo as duas estão focadas no mesmo aspeto central e determinante, a necessidade que as pessoas com diabetes tenham o melhor tratamento possível para cada caso e tenham acesso aos cuidados de saúde e aos meios farmacológicos e tecnológicos de qualidade. É também fundamental que as pessoas com diabetes tenham estilos de vida saudáveis, que adiram à terapêutica recomendada e que façam tudo o que está ao seu alcance para tratar bem a sua diabetes. Se isso acontecer vamos diminuir as complicações da diabetes, essas sim com potencial de ser incapacitantes.

Outro bom exemplo é o impacto da pandemia associada à covid-19. Embora os dados não sejam sempre fiáveis e os diversos estudos já publicados não sejam totalmente coerentes, sabe-se que a idade e as comorbilidades, tal como a diabetes, são fatores de risco para o surgimento de complicações graves após a pessoa ter sido infetada. Também se sabe que nos casos em que a diabetes está bem controlada que esse risco é menor. Para proteger as pessoas com diabetes mais vulneráveis a estas complicações foi muito relevante e fundamental para o bem-estar pessoal, e impactos negativos sociais, que a diabetes tenha sido inserida no regime de proteção especial, em particular pela alteração do Decreto Lei 20/2020 através da Lei 31/2020, publicada a 11 de Agosto de 2020. Aqui devo realçar o papel crucial que a Associação dos Diabéticos de Portugal (APDP) teve neste processo, com as suas atividades de advocacia foi possível alcançar esta alteração que tem um impacto altamente positivo na vida de cada um de nós. Mas, isso não quer dizer que todas as pessoas com diabetes tenham que obrigatoriamente usufruir desta proteção, cada caso é um caso e deve ser assim analisado, e nem a mesma deve servir para agravar a discriminação que ainda hoje existe em relação às pessoas com diabetes!

A diabetes não torna as pessoas menos capazes, menos produtivas, menos profissionais e com menores capacidades para atingir objetivos.

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