Como conversar sobre a guerra com as crianças?

1 de Março 2022

Com notícias, imagens e conversas sobre a guerra a invadir a nossa realidade, é natural que os mais novos tenham perguntas e formas diferentes de reagir. Para os ajudar a perceber o mundo que hoje existe, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) divulgou o documento “Conversar sobre a Guerra”, com perguntas e respostas, para pais e cuidadores de crianças e jovens.

O documento “Conversar sobre a Guerra” começa por deixar claro que o melhor a fazer é estar disponível para escutar as preocupações, conversar e responder às dúvidas dos mais novos.

Porque é importante conversar sobre a guerra?

Mesmo sem estarem em ambientes de guerra, muitas crianças são expostas à violência e não percebem o que está a acontecer. É natural que se sintam ansiosas, aterrorizadas, confusas ou com medo. Por isso, é importante responder às dúvidas e dar-lhes informação apropriada à idade, capacidade de compreensão e experiências para que se sintam seguras e protegidas. É essencial conversar quando é preciso, mas também não se deve forçar a tomar consciência sobre a existência de uma guerra se as crianças – sobretudo as mais pequenas – não se mostrarem interessadas ou não quiserem falar. Contudo, mostre que estará disponível caso a criança queira.

As crianças não vão sentir-se ainda mais assustadas por estarmos a conversar sobre guerra?

«Por muito que conversar sobre violência, conflitos e guerra possa ser assustador e gerar medos, é ainda mais assustador pensar que ninguém pode falar connosco sobre esses sentimentos», pode ler-se no documento. É importante conversar de forma sensível e apoiar os mais novos no que estão a sentir, deixando claro que podem sempre dizer o que estão a pensar e a sentir. Não menos importante é perceber o que sabem sobre o assunto, corrigir ídeias erróneas, filtrar a informação e transmitir segurança.

As crianças/jovens conseguem compreender o que é uma guerra?

Se para os adultos é difícil compreender uma guerra, para as crianças a quem se passa mensagens de respeito, bondade, paz e compaixão ainda pode ser mais confuso. Contudo, os mais novos sabem identificar o sofrimento e conseguem fazer analogias com a sua própria experiência. É natural que se sintam confusas, perturbadas, ansiosas, assustadas, preocupadas ou tristes, com alterações no sono, no comportamento, apetite ou concentração. O documento ressalva que crianças que estejam a passar por situações de violência, divórcio ou morte de um familiar podem ter um risco mais elevado de experienciar mais ansiedade e mais alterações do comportamento.

Como conversar sobre a guerra?

Por ser complexo e assustador falar sobre a guerra com os mais novos, a OPP sugere que se dê espaço à criança para expressar os seus pensamentos, que se escute atentamente e descubra o que a criança já sabe, que se valide os seus sentimentos e que se adeque a linguagem e a informação à idade da criança. Outras sugestões igualmente importantes são assegurar que a criança está protegida, sublinhar que há esperança e muitas pessoas a ajudar, assistir às notícias em conjunto (com crianças mais velhas), evitar estereótipos, encorajar comportamentos pró-sociais e monitorizar a saúde psicológica das crianças. «Não precisamos de ser especialistas num assunto para ouvir o que as crianças/jovens pensam e sentem».

Como responder a perguntas específicas sobre a guerra?

Perante perguntas mais complexas é importante perceber primeiro o que sabe a criança. Depois, deve-se mostrar que existem diferentes perspetivas ao olhar para um conflito. O documento apresenta algumas pistas de resposta a perguntas mais recorrentes como “o que é a guerra?”, “porque existem guerras?”, “os nossos amigos/familiares são morrer?”, “os avós estão bem?”, “também nos vão atacar?” ou “porque há pessoas que matam outras pessoas?”.

Como podemos aproveitar a guerra para educar para a não violência e construir a paz?

A guerra pode ser um pretexto para procurar oportunidades de aprendizagem e de educar para a não violência, interiorizando a ideia de que os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica. Mostrar empatia, ajudar a identificar e expressar a raiva, demonstrar os passos necessários para resolver um problema e valorizar as competências de não violência são algumas das propostas que se podem ler no documento. «É importante falar com as crianças e jovens sobre os esforços que nós, enquanto comunidades e sociedades, podemos envidar para promover e construir diálogos, pontes, justiça e paz».

Para aceder ao documento clique aqui

PR/HN/AL

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APDP apresenta projeto “Comer Melhor, Viver Melhor” no Parlamento Europeu

Uma alimentação que privilegie um maior consumo de produtos vegetais, quando planeada equilibradamente, pode contribuir para melhorar os resultados em saúde nas pessoas com diabetes tipo 2, evidencia o projeto “Comer Melhor, Viver Melhor”, apresentado pela APDP no Parlamento Europeu no passado dia 18 de abril.

SIM recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou hoje que recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas para apoio à frequência de cursos habilitadores à Competência em Gestão dos Serviços de Saúde.

Abertas inscrições para as jornadas ERS

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) vai realizar no próximo dia 23 de maio a terceira edição das Jornadas ERS – Direitos e Deveres dos Utentes dos Serviços de Saúde. As inscrições já se encontram abertas.

CUF assegura cuidados de saúde a atletas do Rio Maior Sports Centre

A CUF e a DESMOR celebraram um protocolo de cooperação que assegura a articulação do acesso dos atletas em treino no Rio Maior Sports Centre a cuidados de saúde nos hospitais e clínicas CUF. O acordo foi formalizado a 30 de abril no Centro de Estágios de Rio Maior.

Finalistas do concurso “Três Minutos de Tese” da UAlg já são conhecidos

A apresentação pública das candidaturas selecionadas na primeira fase do concurso “Três Minutos de Tese (3MT-UAlg)” vai realizar-se no dia 11 de maio, às 14h30, no anfiteatro 1.5 do Complexo Pedagógico do Campus da Penha. Foram selecionados 25 candidatos, dos 53 que se apresentaram a concurso.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights