Vasco Cordeiro, que assumirá a presidência do Comité das Regiões Europeu em meados deste ano, fez na sexta-feira, em declarações aos jornalistas, um balanço positivo da 9.ª Cimeira das Regiões e dos Municípios, que decorreu em Marselha, França, considerando que o encontro cumpriu todos os seus objetivos “apesar das circunstâncias extraordinárias” em que decorreu, após a invasão russa da Ucrânia, na última semana, um tema que acabou por dominar boa parte das intervenções dos dois dias de trabalhos.
Em declarações à agência Lusa, o líder do PS/Açores, atual deputado no parlamento açoriano e ex-presidente do Governo Regional, acrescentou que as preocupações que já estavam na agenda da cimeira estão relacionadas com algumas das que levanta a guerra na Ucrânia, nomeadamente, o futuro, a defesa e o aprofundamento da democracia na Europa ou as políticas de coesão.
“A democracia é o valor que está em causa” no ataque russo à Ucrânia, afirmou.
Quanto à coesão europeia, uma ideia “inerente à da própria Europa”, Vasco Cordeiro referiu o movimento de refugiados ucranianos para regiões de países vizinhos da Ucrânia que são membros da União Europeia (UE), que precisam “de forma mais imediata” de assistência, sendo que esta é uma situação que deverá continuar “a colocar-se no futuro”.
O apoio a estas regiões europeias que estão a receber os refugiados da Ucrânia foi um dos temas abordados na cimeira, a que Vasco Cordeiro juntou “uma segunda dimensão”: “a consciência” que todos devem ter de que haverá também um impacto “em toda a Europa”, com a provável necessidade de “mais recursos” e de “todos os países e regiões” terem de “reavaliar as suas disponibilidades em termos de fundos para acudir a esta situação”.
“Tenho consciência que a Europa está já a fazer muito em relação a esta situação, está a agir de uma forma surpreendentemente rápida, surpreendentemente eficaz em vários aspetos […]. Mas, penso que o impacto na vida dos cidadãos europeus se vai manifestar de forma mais intensa nos próximos tempos”.
Nesse momento, quando cada um começar a sentir “na sua vida” esses impactos, será preciso lembrar as manifestações atuais de solidariedade unânime em relação à Ucrânia e às regiões e países da UE mais próximas do conflito, acrescentou.
Para Vasco Cordeiro, a guerra na Ucrânia pode trazer riscos à concretização de alguns desafios europeus, como o da transição energética, dada a dependência europeia da Rússia em relação ao abastecimento de gás.
“Quando de forma mais intensa a Europa for confrontada com questões de abastecimento a esse nível, poderá haver a tentação de, em vez de avançar, aprofundando, aperfeiçoando, apesar de todas as dificuldades técnicas que se colocam, ceder à tentação de recuar e recuperar fontes de energia que já estavam encerradas e ultrapassadas”, afirmou.
Já quanto à recuperação económica no pós-pandemia de Covid-19, considerou que “obviamente esta é uma situação que perturba”, mas reforçou que “o principal” são as “vidas humanas” perdidas no conflito ou os deslocados por causa da guerra.
Neste contexto, Vasco Cordeiro congratulou-se por a cimeira que hoje terminou, nas intervenções relacionadas com a Ucrânia, mas também nas que se debruçaram sobre as desigualdades e a convergência na Europa ao longo dos anos, ter consolidado a “perspetiva de que a coesão deve estar presente nas múltiplas vertentes da ação da União” e “deve enformar as políticas” da UE, que “não é uma política do passado” e “deve estar cada vez mais presente”.
No balanço da cimeira de Marselha, Vasco Cordeiro destacou ainda a reivindicação das regiões e municípios para serem “parte mais ativa” nos processos de decisão no futuro da União Europeia.
O Comité das Regiões Europeu, criado em 1994, é a assembleia da UE dos representantes regionais e locais dos Estados-membros, sendo atualmente composto por 315 membros efetivos, dez deles portugueses.
A Cimeira Europeia das Regiões e dos Municípios acontece de dois em dois anos.
LUSA/HN
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