António de Sousa Uva Médico e professor

A Saúde Ocupacional e o dia Internacional da Mulher

03/10/2022

Comemora-se hoje, 8 de março de 2022, o dia internacional da mulher, como de resto sucede sempre, e há muito, nesta data.

A ligação concreta entre aquela data e a comemoração não tem sido consensual e, inicialmente, existiram mesmo outras datas no início do século XX para essa comemoração. Desde a década de 70 do século passado a Organização das Nações Unidas (1975) declarou, solenemente esse dia, como o dia dessa comemoração que, como referido, já vinha a ser comemorado.

Apesar de alguma controvérsia sobre as razões da escolha desse dia e do que está na sua origem, tudo leva a crer que essa escolha se relaciona com o trabalho da mulher e a luta pela melhoria das condições de trabalho. De facto, atribui-se a Clara Zetkin, activista comunista, no início do século XX, a sugestão de um dia para essa comemoração1.

E que relação terá a Saúde Ocupacional com essa comemoração?

Na sua origem estão acontecimentos relacionados com “a Mulher e o Trabalho” muito alicerçados em movimentos de natureza sindical relacionados com exigências de melhores condições de trabalho. Se bem que o foco se situe mais em horários de trabalho e em exigências salariais, as más condições de trabalho também, como é sabido, terão sido avocadas.

A Saúde Ocupacional também se relaciona com as condições de trabalho, ainda que centradas na perspectiva da saúde (e na segurança) de quem trabalha. Interprete-se, a prevenção individual e ambiental das doenças profissionais e dos acidentes de trabalho.

Será que, para além da comemoração, estamos a fazer o necessário para que essas relações e interdependências não coloquem a saúde das trabalhadoras em risco?
Não seria também essa forma de comemorar totalmente desejável?
Já existirá total equidade salarial para homens e mulheres no sector secundário?

Parece, no mínimo, que poderíamos fazer muito mais por melhorar as condições de trabalho de homens e mulheres, seguramente com o contributo da Saúde (e Segurança) Ocupacional(ais), sistematicamente desvalorizada no mundo do trabalho e tanto mais quando menos diferenciados são os (e as) trabalhadore(a)s.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This