“Era expectável que em 2021, com a retoma gradual da vida social e económica [após as restrições aplicadas devido à pandemia de Covid-19, em 2020], os crimes conhecessem comparativamente um aumento, e é igualmente o que vem acontecendo em várias latitudes do mundo por causa das crises”, afirmou hoje o diretor-nacional da Polícia Nacional, Emanuel Moreno, ao apresentar os números mais recentes da criminalidade em Cabo Verde.
Ao intervir na sessão de abertura do 16.º Conselho de Comandos daquela força policial, o superintendente geral Emanuel Moreno disse que esse aumento da criminalidade interrompeu o ciclo de cinco anos, desde 2016, em que “consecutivamente se registou uma diminuição acentuada de ocorrências criminais” no país.
“Cuja redução acumulada real [2016 a 2020] foi de 23,7%, em comparação com o quinquénio anterior, isto é, de 2010 a 2015”, afirmou o responsável.
Segundo Emanuel Moreno, o número de homicídios caiu 19,4% face a 2020, com menos sete casos, tendo em conta os 36 contabilizados pela Polícia Nacional no ano anterior. “De realçar que na Praia, em particular, tivemos menos dois homicídios em comparação com o ano 2020, em que tivemos 19 homicídios”, disse ainda.
O diretor-nacional acrescentou que em termos de tipologia, os crimes contra o património representam 57,8% do total das ocorrências registadas pela Polícia Nacional em Cabo Verde durante o ano de 2021, e “conheceram um agravamento de 52,9% a nível nacional”.
“A destacar os roubos, em 1,7%, e furtos, em 46,4%. Os crimes contra pessoas representam 43% do total das ocorrências e a nível nacional conheceram um agravamento de 13,7%, provocado por VBG [Violência com Base no Género], com mais 26% – com mais 478 ocorrências em comparação com o ano 2020 -, abuso sexual de menores, com mais 23% – mais 21 ocorrências – ofensas corporais com mais de 4%, ameaça com mais de 350 ocorrências – portanto mais 31%”, anunciou ainda Emanuel Moreno.
Acrescentou que 2021 continuou a ser um “ano atípico” devido à pandemia da Covid-19, ao condicionar as instituições nacionais ao nível da “capacidade de materialização e realização das suas ações”.
“Mas, mesmo perante estas limitações, a Polícia Nacional realizou inúmeras atividades com resultados francamente positivos”, reconheceu.
Chamou igualmente a atenção para o aumento do número de “furtos e roubos no geral”, que representaram 16,7% e 29,2%, respetivamente, do total das ocorrências criminais em Cabo Verde em 2021, o que “justifica os esforços conjuntos” para enfrentar a criminalidade.
Em todo o ano de 2021, os efetivos da Polícia Nacional apreenderam 320 armas artesanais, 167 armas convencionais, 2.842 armas brancas e 3.064 munições.
“Enfim, o número total de ocorrências registadas em 2021 é comparável com o volume registado em 2018. Com efeito, nos anos de 2019 e 2020 os dados espelham a situação vivida em períodos marcados por fortes restrições à mobilidade das pessoas e inclusivamente por períodos de confinamento obrigatório. Portanto, era expectável que em 2021, com a retoma gradual da vida social e económica, os crimes conhecessem comparativamente um aumento, e é igualmente o que vem acontecendo em várias latitudes do mundo por causa das crises”, sublinhou Emanuel Moreno, na mesma intervenção.
Para o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, o aumento da criminalidade era expectável.
O governante presidiu, na Praia, à abertura desta reunião dos Comandos da Polícia Nacional, que integra ainda a realização do seminário “Operações Especiais de Prevenção Criminal”, com a presença igualmente de especialistas de Portugal.
“Houve muita diminuição de circulação de pessoas, de muitas atividades, e na retoma sentimos esse aumento. Mas há outras razões que podem explicar, desde logo um aumento da conflitualidade social, nós temos um aumento da violência, das ameaças, das agressões e das ofensas à integridade. Tivemos também um aumento dos crimes sexuais contra crianças, há, portanto, um aumento da conflitualidade que ajuda a explicar esta questão do aumento das ocorrências criminais”, disse.
Para Paulo Rocha, há “estratégias que têm de ser executadas”, particularmente no domínio da prevenção criminal, para inverter esta tendência, como com “operações especiais de prevenção criminal” nos bairros mais problemáticos, em que apenas foram realizadas duas em 2021, necessitando articulação entre a polícia e as autoridades judiciais.
“Ainda existem algumas dúvidas quanto ao modelo de implementação (…). A coordenação é boa, funciona bem, o relacionamento é excelente. É certo que existem sempre dificuldades, mas a coordenação e o relacionamento são bons”, concluiu o governante.
LUSA/HN
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