Luís Correia: “A reunião anual do GEDII constitui o fórum por excelência e de excelência dos especialistas mais dedicados ao tema”

04/01/2022
Na reunião principal saliento a discussão da problemática do crescimento das doenças, as particularidades das doenças em grupos especiais de doentes como os oncológicos, a problemática da infeção associada às doenças e às terapêuticas imunossupressoras, o diagnóstico de doenças contundentes e, sempre muito importante, as diferentes estratégias de tratamento

A propósito da reunião anual do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal (GEDII), que se irá realizar entre os dias 6 e 8 de abril, o membro da Direção da GEDII Luís Correia defende que este evento é o fórum por excelência e de excelência dos especialistas mais dedicados ao tema, devido à multidisciplinariedade de oradores, nacionais e internacionais, que irão marcar presença. Explica, ainda, a importância e pertinência dos temas que estarão em debate, e os critérios para a escolha dos mesmos.

Healthnews (HN) – Qual a importância da reunião anual do GEDII? O que se espera desta reunião de 2022, percorrendo várias latitudes e diferentes áreas de atividade e esferas de competência?

Luís Correia (LC) – A reunião anual do GEDII constitui hoje, como desde o primeiro dia da sua realização, o momento em que a comunidade de profissionais de saúde que se dedicam às doenças inflamatórias crónicas do intestino, designação genérica para um grupo de doenças em que predominam a colite ulcerosa e a doença de Crohn, se encontram para partilha do seu interesse comum.

HN – Em que consiste essa partilha e de que forma este encontro contribui para a atualização de conhecimentos dos participantes?

LC – Sem desprimor para outras reuniões organizadas pelo grupo de estudos no decurso do ano, ou até para outras reuniões de organizações de carácter mais generalista que possam abordar áreas das DII,  a reunião anual do nosso grupo de estudos constitui o fórum por excelência e de excelência dos especialistas mais dedicados ao tema: gastrenterologistas, cirurgiões, investigadores clínicos e de ciência básica, imagiologistas, patologistas, enfermeiros, representantes da organização nacional de doentes, entre outros. A partilha assenta no debate, na discussão livre e amigável das opiniões e ideias, em bom racionalismo científico.  As novidades da ciência básica e clínica, nacional e internacional, o ensaio clínico ou o estudo retrospetivo, a meta análise ou o curso de formação, de médicos ou enfermeiros, todos estarão representados.

HN – Quanto aos temas escolhidos, quais os mais prementes e importantes e o que foi tido em conta para essa mesma escolha?

LC – A escolha dos temas fez-se pela sua importância, privilegiando as novidades científicas, mas também a revisão dos temas, que pelo seu significado clínico são incontornáveis no âmbito da vertente formativa da reunião. Áreas de interface são, como habitualmente, fortemente representadas: da ciência básica com a clínica, da gastrenterologia clínica com a endoscopia, da terapêutica médica com a cirurgia, do médico com a enfermeira e a qualidade de vida do doente. Como habitualmente, de alguns anos para cá, o GEDII insiste em manter e apoiar ativamente uma reunião dedicada a um grupo de profissionais de saúde indispensáveis na abordagem das DII: a enfermagem. Este ano a formação dos internos e jovens especialistas fica fortemente representada pela recepção de um curso da European Crohn and Colitis Organization (ECCO), organização de que Portugal faz parte, fazendo-se representar pelo GEDII. Estes cursos, muito disputados entre os diferentes países membros da ECCO, tem um modelo de organização e implementação misto, com representantes internacionais e locais, com sucesso garantido pela sua credenciação e qualidade reconhecidas.

Na reunião principal saliento a discussão da problemática do crescimento das doenças, as particularidades das doenças em grupos especiais de doentes como os oncológicos, a problemática da infeção associada às doenças e às terapêuticas imunossupressoras, o diagnóstico de doenças contundentes e, sempre muito importante, as diferentes estratégias de tratamento, onde as novidades são muitas e a discussão se prevê acesa.

Finalmente, uma representatividade especial para o que de melhor se faz no país na investigação básica e clínica, com prémios para os melhores grupos e trabalhos, com representatividade europeia e transatlântica.

HN – Que importância assume a presença de vários especialistas internacionais?

LC – Ainda bem que coloca essa questão porque essa constitui uma óbvia manifestação de vitalidade do grupo: uma representatividade record de convidados estrangeiros, não porque não pudéssemos ter muitos dos temas discutidos por membros da comunidade nacional das DII mas porque privilegiamos a discussão vinda do exterior e voltada para a comunidade científica global. O número ímpar de participantes estrangeiros, para os quais, mesmo em contexto pandémico, não tivemos dificuldades de aceitação dos convites, diz muito sobre a importância que o GEDII assumiu e que não para de crescer. Em tempos de derivas autoritárias e ameaças à paz na Europa, esta é também uma manifestação da vitalidade do espírito de racionalismo e democracia europeia. Este ano foi assumida a etapa final da internacionalização da reunião com a obrigatoriedade de, não só ter os slides em inglês como já acontecia há anos, como fazer todas as intervenções nessa língua.

HN – De que forma é que o contexto pandémico afetou os doentes com doença inflamatória intestinal?

LC – A pandemia de COVID-19 afetou de forma significativa todas as doenças crónicas, incluindo também as DII. Não tendo as doenças ou as terapêuticas utilizadas tido problemas significativos com o vírus SARS-CoV-2, o impacto sentido foi uma expressão do profissionalismo dos diferentes grupos nacionais e internacionais na abordagem das doenças. Ou seja, se é verdade que as limitações de acesso a cuidados de saúde primários, redução de acesso a unidades de endoscopia ou de utilização de blocos operatórios ou o encerramento temporário de alguns hospitais tiveram transitoriamente alguma limitação de cuidados, também é verdade que os maiores e melhores centros do país, onde incluo o do CH Lisboa Norte-HSM, não reduziram e até aumentaram a utilização dos hospitais de dia para controlo da doença, graças ao esforço coordenado dos seus grupos de DII. Com o advento de um esforço nacional maciço de vacinação, eficaz neste grupo de patologias, os problemas residuais deveriam ter sido normalizados para níveis pré pandémicos.

HN – Para terminar, que palavras deixa a todos os que irão participar?

LC – Bem-vindos à maior e melhor reunião nacional de DII, uma das melhores da Europa. Tragam a vossa máscara para presencialmente, em segurança, partilharem da ciência básica e clínica, da inovação científica, de uma discussão acalorada, mas amiga e de uma magnifica vista para a baía de Cascais. Em prol da Medicina científica, do espírito europeu e da qualidade de vida dos doentes com DII. Bem hajam.

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