No último pacote destinado a travar o vírus SARS-CoV-2, os legisladores norte-americanos cortaram quase todo o financiamento para conter o vírus além-fronteiras, o que pode, segundo os especialistas, facilitar uma transmissão descontrolada e propícia ao surgimento de variantes de preocupação do coronavírus.
Os EUA têm dado o maior contributo para uma resposta global à pandemia, distribuindo mais de 500 milhões de vacinas pelos países mais pobres, além de promover campanhas de vacinação em massa nos Camarões e de construir um centro de tratamento da covid-19 na África do Sul e de doar mil ventiladores àquele país.
Financiaram também campanhas de vacinação em dezenas de países, entre os quais Uganda, Zâmbia, Costa do Marfim e Mali, que podem, agora, vir a ser interrompidas.
“É como um pontapé nos dentes dos países pobres, que receberam a promessa de milhares de milhão de vacinas e de outros recursos no ano passado, da parte do G7 e do G20”, disse Michael Head, investigador de saúde global da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Segundo o investigador, “está claro que todas essas promessas foram quebradas e, se não houver um esforço e dinheiro para combater a covid-19 nos próximos meses, a pandemia pode persistir durante anos.
Enquanto 66% da população norte-americana já foi totalmente imunizada contra a covid-19, menos de 15% das pessoas nos países mais pobres receberam uma dose única da vacina.
Autoridades de saúde de países em desenvolvimento apoiados pelos EUA dizem que esperam observar uma regressão nos progressos na luta contra o coronavírus assim que as verbas forem retiradas.
“A vacinação vai parar ou nem sequer começar nalguns países”, advertiu a diretora executiva da agência governamental de caridade norte-americana (CARE), Rachel Hall.
Segundo as estimativas da agência, o corte nos financiamentos significará a eliminação do fornecimento de testes, tratamentos e cuidados de saúde para 100 milhões de pessoas.
Também o líder cessante da ‘task force’ da Casa Branca para a covid-19, Jeff Zients, lamentou que a legislação não inclua recursos para a luta internacional contra a pandemia, o que também compromete os esforços para rastrear a evolução genética do vírus.
“É uma deceção que não exista um financiamento global neste projeto de lei. O vírus não conhece fronteiras e é do nosso interesse nacional vacinar o mundo e proteger-nos contra possíveis novas variantes”, apontou.
Vários especialistas disseram ainda temer que a suspensão do apoio global dos EUA na luta contra a covid-19 possa levar as autoridades a abandonar as suas atuais metas de vacinação.
A Organização Mundial de Saúde estabeleceu como meta imunizar pelo menos 70% das pessoas em todos os países até meados deste ano, mas com quase 50 países com menos de 20% da população inoculada, será muito improvável atingir essa meta.
NR/HN/LUSA
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