“Quando os alunos ficam mais tranquilos, conhecem melhor os seus limites, conseguem comunicar e gerir melhor os seus sentimentos e preocupações acabam por ficar mais disponíveis para aprender e isso reflete-se nos resultados”, contou à Lusa Celeste Simões, coordenadora do projeto PROMEHS em Portugal.
O projeto internacional PROMEHS – Promover a Saúde Mental nas Escolas começou em 2019, antes da pandemia. Um grupo de investigadores desenhou um currículo universal para melhorar a saúde mental das crianças e jovens, dos três aos 18 anos, que pudesse ser implementado nas escolas por educadores de infância e professores.
No passado ano letivo, cerca de 10 mil alunos e mil docentes de seis países europeus – entre os quais Portugal – participaram no projeto piloto, que revelou melhorias no estado emocional dos alunos, sendo visível a redução de sintomas como ansiedade ou comportamentos agressivos.
Depois de uma formação de 50 horas, os professores levaram para as salas de aula algumas das atividades previstas no currículo de saúde mental. Muitos docentes foram apoiados pelos psicólogos das próprias escolas, disse Celeste Simões, professora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.
Em Portugal, o projeto piloto contou com a participação de 125 professores e educadores de infância e cerca de 1.500 alunos de 45 escolas do pré-escolar ao secundário, desde Bragança a Odemira.
Os alunos portugueses tiveram 12 sessões e no final notou-se que tinham “melhorado significativamente a motivação, o envolvimento no processo ensino-aprendizagem e os resultados académicos”, revela o estudo.
O projeto dividiu os alunos em dois grupos – os que tiveram as 12 sessões e o “grupo em lista de espera” que não teve qualquer intervenção – e os resultados confirmam a importância de um currículo de saúde mental nas escolas, sublinhou Celeste Simões.
No grupo experimental, notou-se melhorias significativas no desempenho académico, enquanto o grupo em lista de espera não apresentou alterações significativas.
Na perspetiva dos docentes, a implementação do programa diminuiu também a ocorrência de problemas de comportamento, hiperatividade e problemas de relacionamento com os colegas.
Também os professores consideraram que foi vantajoso terem implementado o currículo: Os docentes sentiram que tinham melhorado a relação com os alunos e que eram agora mais eficazes no que toca ao envolvimento do aluno, nas estratégias de ensino, e até na gestão da sala de aula.
“A relação entre os alunos e o professor melhorou e abriu-se um canal de comunicação e empatia que é fundamental para a aprendizagem”, afirmou a investigadora, recordando uma outra investigação realizada há seis anos que revelou que a relação com o professor afeta o rendimento académico.
O curriculo de saúde mental está dividido em três grandes temas e subtemas que são abordados na sala de aula recorrendo a um conjunto de atividades desenhado pela equipa responsável pelo projeto.
Celeste Simões deu como exemplo uma atividade que consiste em contar de uma história focada num problema e depois transferir a problemática para a vida real, perguntando aos alunos se já viveram aquela situação e se conhecem alguém que a tenha vivido.
Estas conversas levaram à identificação de problemas que alguns alunos estavam a viver e, em algumas situações, as crianças acabaram mesmo por ser reencaminhadas para os psicólogos da escola ou para uma ajuda exterior, contou Celeste Simões.
Os investigadores defendem que quantas mais sessões têm, melhores são os resultados obtidos, tanto para alunos como para professores.
Celeste Simões disse à Lusa que o ideal seria implementar o projeto desde o pré-escolar até ao secundária, permitindo acompanhar de forma sistemática os alunos ao longo da sua vida académica.
Um dos objetivos do projeto é precisamente promover a inovação das políticas educacionais, integrando este currículo nas políticas nacionais de educação e saúde: “Gostaríamos que este não fosse apenas mais um projeto europeu que desaparece quando acabam os apoios”, defendeu a docente.
NR/HN/LUSA
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