Helena Oliveira Sá Membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia

Relação da Hipertensão Arterial e da Doença Renal Crónica

05/16/2022

A pressão arterial elevada, vulgo a hipertensão arterial (HTA), é o principal fator de risco isolado determinante de mortalidade no mundo inteiro1. Para além de fator de risco de morte e incapacidade para várias patologias, donde se destacam os acidentes vasculares cerebrais e os eventos coronários agudos, a HTA é fator de progressão da doença renal crónica (DRC) e um sinal importante revelador desta doença que evolui, frequentemente, de forma silenciosa.

A DRC, definida sumariamente como a lesão estrutural ou funcional dos rins com duração superior a 3 meses, tal como outras doenças crónico/degenerativas tem grande impacto na saúde pública, sendo o seu crescimento resultado do aumento significativo da esperança de vida, da persistência de casos de HTA desconhecida ou mal controlada, do aumento de prevalência da diabetes, da obesidade, bem como da presença de doenças císticas, litíase ou doenças glomerulares.

Se você, leitor atento de jornal diário, pretende fazer algo com impacto na sua saúde nada melhor do que começar por avaliar a sua pressão arterial (PA). Mesmo sendo já um doente hipertenso, deverá ter o cuidado de monitorizar regularmente a sua PA. Dirija-se a uma farmácia ou, em alternativa, disponha de um aparelho medidor de PA digital, com braçadeira adaptada ao seu braço, e sente-se confortavelmente num ambiente calmo, atentando em evitar bebidas excitantes como o café e exercício na ½ h que antecede. Faça, se for possível, 3 medições intervaladas. Se a média de duas medições for superior a 140/90 mmHg, deverá repetir as medições noutra ocasião e, caso persistam esses valores, deverá aconselhar-se com o seu médico assistente:
– Caso seja doente hipertenso poderá ter que melhorar o controlo de fatores de risco para a hipertensão tais como o consumo de sal, o tabagismo, a obesidade, o stress e merecer um ajuste na sua medicação anti-hipertensora;
– Se for doente hipertenso com DRC e/ou diabetes a sua PA ótima tem como alvo valores inferiores a 130/70 mmHg e é recomendado a utilização de fármacos anti-hipertensores que, de acordo com a gravidade da DRC e a sua causa específica, poderão sofrer individualização e ajuste de dose, acompanhamento clínico a cargo do seu médico de família ou nefrologista (especialista em doenças renais);
– Se não sabia que tinha HTA previamente, deverá iniciar desde já medidas comuns para controlar a PA. O seu médico assistente solicitar-lhe-á exames de rotina essenciais tais como uma avaliação da creatinina sérica e a medição da excreção de proteínas na urina;
Os rins constituem 1/200 do peso do organismo humano contudo recebem ¼ do débito cardíaco, sendo responsáveis pela eliminação de fluidos e sal e pela regulação vasomotora da circulação periférica através da ativação de compostos que circulam no sangue tais como a renina, a angiotensina, a aldosterona e a endotelina. Sendo assim, tanto a pressão arterial sistémica elevada pode ter repercussões nocivas a nível da filtração e depuração de diferentes compostos pelos rins como, em sentido inverso, qualquer doença aguda ou crónica com envolvimento renal poderá ter como sintoma crucial a HTA.

Do que está à espera? Agora, ou logo que termine o trabalho com que se comprometeu, a festa a que não deverá faltar (com os devidos cuidados face à infeção SARS-CoV-2), os seus compromissos familiares, avalie pela sua saúde, e em especial pela sua saúde renal, a sua PA e siga os conselhos básicos de prevenção da HTA e da DRC.
Um conselho da SPN, no âmbito da campanha #SEMFILTROS, no dia das comemorações do Dia Internacional da HTA.

Referência
1. Global Burden of Disease Risk Factor Collaborators. Global, regional, and national comparative risk assessment of 84 behavioural, environmental and occupational, and metabolic risks or clusters of risks for 195 countries and territories, 1990–2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2018;392:1923–1994

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