Ana Rita Vieira Anestesiologista - Unidade Dor, Hospital Cruz Vermelha

Dor nas pernas?

05/25/2022

Se o doente se queixar de cãimbras, inchaço, prurido, sensação de “pernas pesadas” ou de “má circulação”, em determinadas áreas do membro inferior, então poderemos estar perante um quadro de dor vascular.

A dor vascular instala-se quando há obliteração aguda ou crónica do fluxo sanguíneo. É o sintoma clínico mais importante e transversal a todas as patologias do foro vascular.

Pode ser aguda ou crónica, intermitente ou contínua – dependendo do tipo e gravidade do quadro -, ter características mistas com componente nociceptivo e neuropático, estar associada a descriptores como dormência, fraqueza ou formigueiro. A relação com o esforço deve ser sempre avaliada visto ser indicador de gravidade com impacto no prognóstico e na terapêutica mais adequada.

A causa da dor nem sempre é clara – são várias as patologias que podem levar à instalação da dor vascular e importa distinguir as causas arteriais e as venosas uma vez que o tratamento e prognóstico são distintos.

Patologia arterial
Orgânica Funcional
Isquémia arterial crónica Ateroslcerose Raynaud
Tromboangeíte obliterante
Síndrome compartimental
Isquémia arterial aguda Embolia arterial Eritromelalgia
Trombose
Traumatismo vascular
Aneurismas periféricos complicados

A aterosclerose  é a cabeça-de-cartaz quando nos referimos a dor arterial periférica (DAP), afectando cerca de 15-20% dos indivíduos com mais de 70anos e constitui a principal causa de isquémia periférica.

O controlo da dor isquémica permite prevenir ou a limitar a extensão da perda do membro, facilita a mobilização e os exercícios que visam manter a perfusão distal e também ajuda a paliar os sintomas quando a revascularização cirúrgica não é possível.

Além da adopção de medidas higiénico-dietéticas com controlo do factores de risco cardiovasculares, do recurso a fármacos antiagreagantes, anticoagulantes, fibrinolíticos, prostanóides e analgésicos ditos convencionais, estão disponíveis algumas técnicas invasivas que podem atrasar ou até mesmo evitar o tratamento cirúrgico. Exemplos são o bloqueio simpático epidural, a simpatectomia química ou por radiofrequência e ainda a possibilidade de neuroestimulação medular.

Não menos dolorosa é a dor venosa – consequência da insuficiência venosa crónica (IVC) que surge da obstrução mecânica ou incompetência valvular do sistema venoso superficial e profundo do membro inferior.

O espectro de apresentação da IVC inicia-se com o aparecimento de aranhas vasculares e veias reticulares que, por sua vez, progridem para veias varicosas, seguindo-se instalação de edema com estase e ulceração venosa.

A base do tratamento inicial para IVC associada dor é, também, a prevenção da doença com modificação do estilo de vida.

A abordagem conservadora visa restaurar a função fisiológica venosa através da elevação das pernas, exercício físico regular e utilização de dispositivos de compressão. Quando esta falha, a abordagem médica pode ser um adjuvante eficaz recorrendo a   agentes farmacológicos vasoativos (flavonóides, extractos de folha de videira vermelha) e reológicos(pentoxifilina),

Os recentes procedimentos vasculares minimamente invasivos – como a ablação térmica endovenosa por laser ou radiofrequência, a escleroterapia com espuma ou líquido e, ainda a embolização com cianoacrilato – ao evitarem a abordagem cirúrgica, contribuem para um maior conforto e elevada satisfação do doente, menor taxa de complicações e recuperação mais rápida.

Melhores vasos, melhor controlo da dor, melhor qualidade de vida.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

LIVRE questiona Primeiro-Ministro sobre a privatização do Serviço Nacional de Saúde

Durante o debate quinzenal na Assembleia da República, a deputada do LIVRE, Isabel Mendes Lopes, dirigiu questões ao Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, relativamente a declarações proferidas pelo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d’Almeida, esta manhã, em Atenas, num evento da Organização Mundial de Saúde.

Ana Paula Gato defende fortalecimento dos centros de saúde no SNS

Ana Paula Gato, enfermeira e professora coordenadora na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, apresentou  uma análise detalhada do Relatório do Observatório da Fundação Nacional de Saúde, numa iniciativa realizada no Auditório João Lobo Antunes da Faculdade de Medicina de Lisboa. A sua intervenção focou-se na importância dos centros de saúde como pilar fundamental do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e na necessidade de reforçar os cuidados de proximidade.

MAIS LIDAS

Share This