Manifesto: Médicos defendem especialização em Medicina de Urgência/Emergência

27 de Maio 2022

De acordo com dados da OCDE, “Portugal é o país da União Europeia com a maior taxa de procura pelos serviços de urgência (SU). Já dados do Ministério da Saúde mostram que a média mensal de episódios de urgência, registados pela Triagem de Manchester, ultrapassa os 500.000

Para assinalar o Dia Internacional da Medicina de Emergência promovido pela Sociedade Europeia de Medicina de Emergência (EuSEM – European Society for Emergency Medicine), que se assinala hoje, a Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE) difundiu um manifesto alertando para os muitos problemas que se registam nesta área, ainda não reconhecida como especialidade em Portugal.

“A Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE) é uma associação científica médica sem fins lucrativos, cujo interesse comum é a Medicina de Urgência/Emergência – incluindo as suas várias vertentes como a Urgência Hospitalar, Pré-hospitalar e Medicina de Catástrofe e de Conflito – e a sua implementação como Especialidade em Portugal. A SPMUE é membro acreditado da EuSEM e a sua representante oficial em Portugal, tendo organizado em outubro de 2021 o Congresso Europeu em Lisboa, o qual juntou mais de 2000 médicos de todo o Mundo”, começam por explicar os signatários do manifesto que, em menos de 12 dias, foi já subscrito “por mais de 1200 médicos de todas as especialidades, muitos dos quais em lugares de chefia e responsabilidade no Sistema, alguns “não especialistas” a exercer nos SU desde há muitos anos a quem nunca foi dada a oportunidade formativa e de carreira profissional nesta área, jovens médicos que procuram a oportunidade de se especializarem nesta área sem ter de emigrar e aos quais é vedada esta perspetiva de vida profissional em Portugal, entre outros”.

De acordo com dados da OCDE, “Portugal é o país da União Europeia com a maior taxa de procura pelos serviços de urgência (SU). Já dados do Ministério da Saúde mostram que a média mensal de episódios de urgência, registados pela Triagem de Manchester, ultrapassa os 500.000 (site SNS monitorização).

Uma verdadeira “avalanche” de necessidades que coabitam com o facto de “em Portugal, a maioria dos SU Polivalentes (SUP), Médico-cirúrgicos (SUMC) e Básicos (SUB) não dispõem de equipas médicas próprias e com formação desejável nesta área”, afirma-se no comunicado enviado às redações.

Na nota, os signatários testemunham: “todos os dias somos confrontados com notícias de SU em rotura e com dificuldades em assegurar os serviços à população. O Estado vê-se assim obrigado a contratar profissionais com vínculos de trabalho precários, com elevados custos para o erário público, alvo fácil de descontentamento por quem os procura e por quem neles trabalha”.

Um problema que poderia ser colmatado “com a criação da Especialidade de Medicina de Urgência/Emergência”, defendem.

De facto, argumentam, há mais de duas décadas que “os peritos que têm integrado os grupos de trabalho criados pelo Ministério da Saúde de vários governos para “avaliar e encontrar estratégias para os SU” têm invariavelmente deliberado no sentido da criação de equipas fixas no SU e, concretamente, da necessidade da criação da Especialidade de Medicina de Urgência/Emergência”.

“A criação da Especialidade de Medicina de Urgência/Emergência assume-se como a resposta para a estabilização de recursos humanos médicos com diferenciação e capacitação técnica adequadas.

A criação da Especialidade permite não só uma formação de base nuclear – que inclui conhecimentos técnicos e científicos essenciais nesta área – mas também os conhecimentos organizacionais para priorizar, coordenar e direcionar o atendimento a estes doentes”, acrescentam.

No comunicado, os signatários reconhecem que “a criação da Especialidade não resolve por si todos os problemas dos SU”. Não obstante, defendem, “é peça angular na qualidade assistencial e formativa – sob a égide da Ordem dos Médicos – e crucial para implementação de mudanças organizacionais a pôr em prática no futuro, pela estabilidade que pessoas motivadas e com espírito de equipa asseguram, caminhando na mesma direção dos restantes parceiros europeus e outros países desenvolvidos do mundo, onde queremos ver-nos incluídos.

A concluir, a SPMUE afirma que “a forte adesão da classe médica a este Manifesto é um sinal inequívoco de interesse e vontade de mudar. A “Especialidade faz a diferença”.

PR/HN/MMM

 

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