Situação da Urgência em Faro é a de um “hospital do terceiro mundo”

16 de Junho 2022

A situação da Urgência no hospital de Faro é “inaceitável” e semelhante à de um “hospital do terceiro mundo”, quando ainda nem se atingiu o pico do verão, alertou hoje o Sindicato dos Enfermeiros Democráticos de Portugal (SINDEPOR).

“O hospital de Faro tem outros problemas que iremos expor numa reunião com o Conselho de Administração, mas o que se passa na Urgência é inaceitável, é de um hospital do terceiro mundo e não de um país da União Europeia”, criticou Luís Mós, coordenador da região sul do SINDEPOR, que esta semana visitou a unidade.

Em comunicado, o dirigente sindical refere que, apesar de ainda não se ter atingido o pico do verão, “a situação já está de tal ordem que deveria levar os responsáveis do hospital e pela saúde em Portugal a agir de imediato”.

Luís Mós refere que no dia em que visitou a unidade de Faro do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), “às 15:15 havia 80 doentes na zona de balcão da Urgência, mas às 17:30 o número já tinha subido para 116” e ambulâncias “à espera eram sete, tendo no último domingo chegado a ser 12″.

Segundo calcula o SINDEPOR, faltam cerca de 20 enfermeiros na Urgência do hospital de Faro, serviço que não tem espaço para uma população “que costuma triplicar” no verão” e onde o “material também escasseia”, faltando macas, cadeiras de rodas e sofás para colocar os doentes, assim como ar condicionado.

De acordo com Luís Mós, os enfermeiros daquela unidade “estão extenuados” e alguns “trabalham 150, 160 ou 170 horas mensais”, existindo “vários pedidos de transferência e de mobilidade” sem resposta por parte da direção de enfermagem, “sob pena de os recursos humanos ficarem ainda mais escassos”.

Segundo descreveu um enfermeiro ao dirigente sindical, as suas férias são para “ficar de cama para recuperar”, enquanto outra enfermeira contou que recentemente assistiu a uma ambulância que chegou às 3:00 e só saiu às 9:00.

“Numa manhã desta semana, o cenário no interior da Urgência era de degradação humana, com os corredores cheios de macas com doentes a precisar de cuidados, na sua maioria idosos”, refere, sublinhando que não denuncia esta situação apenas pelos enfermeiros, mas também pelos utentes.

De acordo com Luís Mós, diz quem conhece o espaço “que está a acontecer algo nunca visto: agora até já colocam macas nos acessos aos corredores”.

Segundo denunciou outro enfermeiro, “há doentes que entram na Urgência na maca dos bombeiros, são vistos e saem na maca dos bombeiros porque não há macas do hospital disponíveis”.

Uma outra enfermeira apontou que a “qualidade do atendimento na Urgência regrediu 10 anos”.

Nos últimos dias têm-se sucedido encerramentos das urgências de ginecologia e obstetrícia um pouco por todo o país, por dificuldades em assegurar escalas.

Na segunda-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou um “plano de contingência” até setembro para fazer face ao problema que se vive no setor.

NR/HN/LUSA

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