Ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro diz que governador recebia 20% de subornos

29 de Agosto 2020

O ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Edmar Santos disse ao Ministério Público brasileiro que os recursos desviados da pasta iam para um fundo único e que 20% dos subornos eram destinados ao governador, Wilson Witzel (na imagem).

Na manhã de sexta-feira, Witzel, ex-juiz e eleito governador do Rio de Janeiro em 2018, foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de participar em esquemas ilícitos para desviar recursos da área da saúde durante a pandemia da covid-19, tendo sido afastado do seu cargo por 180 dias por ordem do Superior Tribunal de Justiça.

Edmar Santos já tinha sido detido no início de julho por supostos desvios e fraudes de recursos destinados à aquisição de material médico para o combate à covid-19, tendo posteriormente fechado um acordo de delação premiada (benefício legal concedido a um réu que aceite colaborar na investigação criminal) com as autoridades.

As informações que prestou nesse acordo levaram ao afastamento de Witzel do cargo de governador.

Segundo a delação do ex-secretário, a que a imprensa teve acesso, o dinheiro dos subornos era dividido da seguinte forma: 30% para Edmar Santos; 20% para o governador Wilson Witzel; 20% para pastor evangélico e presidente do Partido Social Cristão (PSC), Everaldo Dias Pereira, que acabou detido na sexta-feira; e 15% para cada um dos operadores Edson Torres e Victor Hugo Barroso.

Edmar Santos revelou ainda que os pagamentos dos subornos eram feitos através de cartão de crédito, viagens e dinheiro vivo.

Desde o início da manhã de sexta-feira, procuradores do Ministério Público Federal (MPF), polícias federais e auditores da Receita Federal cumpriram diversos mandados de detenção e de busca e apreensão em moradas ligadas aos principais nomes do governo ‘fluminense’.

Além de Witzel, estão entre os alvos a primeira-dama Helena Witzel, o vice-governador do Rio de Janerio, Cláudio Castro, e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano .

O MPF indicou que o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel era utilizado para intermediar o pagamento de subornos para o seu marido.

O escritório, que não tinha nenhum outro funcionário, recebeu 554 mil reais (86,3 mil euros) suspeitos de serem subornos destinados ao governador, entre 13 de agosto de 2019 e 19 de maio deste ano.

Apesar de também ter sido alvo da operação, Cláudio Castro assumiu na tarde de sexta-feira o posto de governador, após Witzel ter sido afastado.

Castro foi alvo apenas de mandados de busca e apreensão, não tendo sido determinada a sua detenção, nem afastamento do cargo.

A operação, batizada de “Tris in Idem”, é um desdobramento da Operação Placebo, que investiga corrupção em contratos públicos do governo do Rio de Janeiro na área da saúde.

O nome da operação é uma referência ao facto de se tratar do terceiro governador do estado que alegadamente utilizaria esquemas ilícitos semelhantes para obter vantagens indevidas.

“Segundo apurado pelos investigadores, a partir da eleição de Wilson Witzel estruturou-se no âmbito do governo estadual uma organização criminosa, dividida em três grupos, que disputavam o poder mediante o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos”, lê-se num comunicado sobre a operação publicado pelo MPF brasileiro.

Os investigadores suspeitam que neste alegado esquema ilícito “o principal mecanismo de obtenção de recursos financeiros pelos grupos era através do direcionamento de licitações de organizações sociais, mediante a instituição de uma ‘caixinha’ [fundo] de suborno”.

Deste modo, haveria a “cobrança de uma percentagem sobre pagamentos de restos a pagar a empresas fornecedoras do estado”.

Uma das ações objeto da operação diz respeito à contratação da Organização Social Iabas para gerir os hospitais de campanha idealizados para o tratamento de pacientes com covid-19 na pandemia.

NR/HN/LUSA

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