Empresários apostam em segurança privada para colmatar insegurança da noite no Porto

28 de Agosto 2022

Com casa cheia e a situação financeira a aliviar "ligeiramente", empresários de bares e discotecas do Porto apostam em segurança privada para, da porta para dentro, colmatarem a insegurança que se vive na rua e protegerem clientes e funcionários. 

Neste verão, em que “praticamente já não se sente a pandemia”, a afluência de clientes portugueses e estrangeiros no Moreclub, discoteca na Rua da Galeria de Paris, tem sido “maior do que em 2019”, contou à Lusa António Brandão, um dos sócios-gerentes do espaço que abriu portas em 2010.

O negócio “está a correr bem” e, lá dentro, os clientes usufruem da noite, do ócio e da diversão com “segurança”.

“É preciso que o público em geral perceba que os espaços de diversão noturna oferecem muita segurança no interior”, observou o empresário.

É, no entanto, na via pública envolvente aos espaços de diversão noturna da cidade, maioritariamente localizados na baixa e zona da Movida, que existe “insegurança”, assegurou António Brandão.

“Mas, isso é uma questão que pode facilmente ser corrigida e assegurada pelo policiamento. As forças de autoridade podem, com facilidade, criar segurança na via pública”, referiu.

Com a “insegurança” na rua, os hábitos dos clientes mudaram: “apesar de gostarem imenso das esplanadas, hoje, os clientes facilmente procuram mais cedo os espaços interiores para dançarem e ouvir música”.

“Talvez, por sentirem que dentro há mais segurança do que fora dos espaços”, acrescentou António Brandão.

Para colmatar a insegurança que se vive na via pública, e “garantir aos clientes uma segurança efetiva”, o empresário​ reforçou a segurança privada no Moreclub.

“A segurança privada é um instrumento muito caro, mas o retorno é a segurança e o ‘feedback’ dos clientes é que se sentem realmente seguros dentro dos espaços”, reforçou António Brandão, lembrando que é “obrigação” do Estado manter a segurança na via pública.

Com capacidade para acolher 300 clientes, a discoteca tem tido, nestes dias, uma lotação de “100%”, permitindo “recuperar gradualmente” os danos financeiros causados pela pandemia da Covid-19.

“Estamos agora a conseguir recuperar gradualmente e sentimos que as pessoas usam de forma civilizada os espaços. O público em geral sai para se divertir e não para criar conflitos”, disse o empresário.

Os conflitos que decorrem na via pública já “afastam alguns clientes”, garante Carlos Machado, responsável por dois estabelecimentos na zona da Movida do Porto, o Romanoff, na rua de José Falcão, e o Griffon’s, na rua Conde Vizela.

“Há clientes que já vão quase diretamente para o estabelecimento e que evitam andar ali nas ruas, ou então, já não vão mesmo para aquela zona mais problemática”, observou o empresário, acrescentando que “não há policiamento e, quando há, o que é raro, é para inglês ver”.

“Os clientes evitam ir para os locais onde há mais violência e outras coisas desagradáveis. Não é só violência que existe na Movida, existem outras coisas desagradáveis”, acrescentou.

À semelhança de António Brandão, também Carlos Machado reforçou a segurança privada num dos estabelecimentos para “reconfortar os clientes e os funcionários”, mas também para fazer face à falta de policiamento na rua.

“Isso vê-se em todas as grandes cidades e principalmente onde há um aglomerado de bares e discotecas, acho que só aqui no Porto é que não se vê”, referiu, acrescentando que se a insegurança vivida não for, atempadamente, colmatada “pode ser, a médio prazo, prejudicial”.

Tanto no Romanoff como no Griffon’s, o negócio tem estado “calmo”, ainda que nos dias que abrem portas ao público, os espaços se encham de clientela.

Apesar da afluência de clientes, a recuperação dos danos financeiros provocados pela pandemia “ainda vai demorar muito tempo”, garante o empresário.

“Vai demorar a recuperar, porque há coisas que não deixámos de pagar, como a renda e as moratórias”, acrescentou Carlos Machado.

Também o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, Nuno Cruz, afirmou hoje à Lusa que a segurança na cidade foi “abandonada” pelo Governo e defendeu mais “polícias na rua” da Movida, onde se concentram os estabelecimentos de diversão noturna.

À semelhança de Nuno Cruz, também as associações de bares e discotecas do Porto defenderam hoje o reforço de policiamento permanente na zona da baixa e do centro histórico, temendo que a insegurança afaste os turistas e locais que têm promovido a retoma económica do setor.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This