HealthNews (HN) – Qual o impacto do tratamento na qualidade de vida dos doentes com psoríase?
Pedro Mendes Bastos (PMB) – Habitualmente, dividimos a psoríase em dois grupos, de acordo com a gravidade. Por um lado, a psoríase ligeira, com lesões limitadas a zonas restritas da pele, constitui a grande maioria dos casos. Os tratamentos são, fundamentalmente, tópicos: cremes, pomadas, espumas… Por outro lado, temos psoríase moderada a grave, que carece de fototerapia ou medicamentos orais ou injetáveis. Destacamos, naturalmente, os medicamentos biológicos como opções mais inovadoras e que vieram revolucionar o tratamento destas formas de psoríase.
A psoríase é uma doença imunológica que pode envolver comorbilidades, ou seja, outros problemas de saúde que orbitam em seu redor. Os tratamentos têm como objetivo manter a doença mais controlada, minimizar o impacto dos sintomas e das comorbilidades e aumentar a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Com o tratamento, mesmo as pessoas com psoríase moderada a grave podem sentir um impacto positivo significativo na sua vida.
HN – De que forma os medicamentos biológicos vieram modificar o curso da doença?
PMB – Nos últimos 20 anos têm surgido várias opções de tratamento, principalmente os novos medicamentos biológicos. São anticorpos monoclonais que nos permitem tratar a psoríase de um modo mais específico, com maior eficácia e com menor risco de efeitos adversos.
Anteriormente, as opções de tratamento, mais limitadas, não eram tão eficazes e tinham risco maior de efeitos adversos. Era, portanto, tudo mais difícil e deprimente para as pessoas e para os próprios dermatologistas, uma vez que a psoríase era difícil de tratar.
HN – A grande diferença está no facto de os medicamentos biológicos atingirem alvos específicos do mecanismo da doença?
PMB – Hoje sabemos que não precisamos de atuar no sistema imunitário de forma tão abrangente para controlar a psoríase. Felizmente, o conhecimento sobre a imunopatogénese – surgimento, desenvolvimento e perpetuação da doença – foi mais clarificado.
Assim, começaram a desenvolver-se medicamentos contra alvos específicos do sistema imunitário que permitem controlar a psoríase de uma forma muito dirigida. Na prática, as vantagens são claras: maior eficácia, menor risco de efeitos adversos e, obviamente, maior satisfação das pessoas e melhoria da qualidade de vida.
Importa também falar de artrite psoriática, uma comorbilidade que atinge entre 20 a 30% das pessoas com psoríase. Nestes casos, a doença não se manifesta apenas a nível da pele mas envolve o sistema musculoesquelético, designadamente, as articulações. Também neste caso as novas opções terapêuticas inovadoras têm mostrado benefício.
HN – Com o tratamento atempado da psoríase, é possível evitar o desenvolvimento de artrite psoriática?
PMB – Essa é uma questão muito importante para a qual ainda não temos uma resposta clara. Mas estão em curso estudos nesse sentido (necessariamente demorados, com longos períodos de seguimento).
Aquilo que sabemos hoje é que os medicamentos biológicos podem tratar não só a psoríase mas também a artrite psoriática.
Nesse âmbito, importa sublinhar as vantagens de estabelecer uma boa relação com os nossos colegas reumatologistas e trabalhar em equipa para tratar ambas as vertentes da doença.
HN – Existe um impacto negativo na saúde física e mental das pessoas que vivem com psoríase. Considera que atualmente existem preconceitos e falsas questões em torno da doença?
PMB – Podemos dizer, de forma categórica, que, em algumas pessoas, a psoríase está associada a perturbações de ansiedade e depressão. Essa questão é extremamente importante porque quando conseguimos tratar eficazmente a doença com os tratamentos de que dispomos hoje em dia, sem dúvida que podemos também contribuir para a recuperação da saúde mental.
Infelizmente, ainda existe estigma e discriminação em relação à psoríase e, em geral, às doenças de pele crónicas. As pessoas não devem desistir, procurando um médico determatologista com quem discutir qual o melhor tratamento no seu caso.
Em termos físicos, sabemos que as pessoas com psoríase moderada a grave têm um maior risco de sofrer enfartes ou acidentes vasculares cerebrais (AVC). Isso significa que precisamos de tratar a pessoa como um todo e não apenas a pele.
HN – Essa ajuda especializada permite controlar a saúde dos doentes em todas as vertentes?
PMB – Claro que sim. É preciso perceber que existem vários tratamentos e que estes não funcionam de igual forma em todas as pessoas. O médico dermatologista, em articulação com a pessoa com psoríase, tem que encontrar a melhor solução.
Hoje em dia, os nossos objetivos terapêuticos são muito exigentes. Queremos que a pessoa fique sem lesões ou praticamente sem lesões de psoríase. Com as opções disponíveis, conseguimos este nível de eficácia de uma forma bastante provável.
HN – Em que patamar se encontra hoje a investigação sobre a psoríase?
PMB – A investigação em psoríase tem trazido grandes sucessos nos últimos 20 anos. Tornou possível o tratamento eficaz de muitos milhares de pessoas em todo o mundo. Mas ainda não sabemos tudo sobre psoríase.
Ainda nos falta conhecimento sobre como personalizar melhor os tratamentos, ou seja, qual o melhor tratamento para cada doente e, por outro lado, saber prever quem são as pessoas que poderão progredir para a artrite psoriática ou como poderemos tratar de uma forma assertiva as comorbilidades psicológicas e cardiovasculares da doença.
Outra linha de investigação atualmente em curso prende-se com a remissão da doença. De uma forma geral, mesmo com os tratamentos biológicos, estamos a falar de tratamentos de longa duração; aquilo que se pretende saber é se, entre as nossas ferramentas, já existe algum medicamento que consegue modificar a doença. Ou seja, se pararmos o tratamento, conseguimos que a doença “desapareça” por longos períodos? Ou mesmo que entre em remissão sem necessidade de mais tratamentos? Esta é uma linha de investigação que envolve um novo medicamento biológico para a psoríase e cujos resultados aguardamos com grande expectativa.
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