Cuidadores precisam urgentemente de apoio psicológico

1 de Fevereiro 2023

Um inquérito da Merck, realizado com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, revela que a maioria dos cuidadores portugueses se encontra numa situação de vulnerabilidade – psicológica, emocional e social.

O estudo mostra que 63,7% sentem dificuldade em estar à vontade ou descontraídos, 47,7% não são capazes de rir e/ou ver o lado positivo como faziam antes, 45,7% sentem-se muitas vezes ansiosos/contraídos e 37,4% têm descurado o seu aspeto físico.

“De forma geral, os resultados deste estudo são muito expressivos”, confirma Ana Carina Valente, psicóloga responsável por este estudo e docente do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida.

“Estes resultados demonstram que os cuidadores informais apresentam níveis elevados de sofrimento psicológico, baixos níveis de bem-estar e sintomatologia depressiva e ansiosa, contribuindo, em muitos casos, para o surgimento de psicopatologias”, acrescenta a especialista, que vai marcar presença hoje, a partir das 10h00, no Auditório do Jornal Público, num evento onde serão apresentados os dados do estudo e onde o presente e o futuro dos cuidadores informais em Portugal vai estar em debate.

Os dados deste inquérito nacional, realizado junto de mais de mil cuidadores informais, revela que a maioria (83,3%) admite ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento, com 78,5% a concordarem que o seu estado de saúde mental influencia o desempenho do seu papel de cuidador informal.

“Segundo a Organização Mundial de Saúde, não existe saúde sem saúde mental. E, neste sentido, podemos afirmar que muitos dos cuidadores – ao apresentarem estes resultados em escalas que avaliam Ansiedade e a Depressão e o seu Bem-estar psicológico, emocional e social -, sob o ponto de vista psicológico, não estão com saúde. E esse estado pode em alguns casos influenciar a forma como ‘me sinto e lido comigo e com os outros'”, alerta Ana Carina Valente.

Quatro em cada dez (41,5%) não acreditam que a forma como a sociedade funciona faz sentido, com 37,3% a não se sentirem parte da comunidade.

A maioria (77,9%) dos cuidadores informais reconhece ainda a necessidade de apoio psicológico, mas são poucos os que realmente procuram e usufruem deste apoio extra (42,1%), ainda que muitos (69,7%) manifestem o desejo de o ter. A maioria (83,9%) dos inquiridos confirma também que uma linha de apoio com profissionais especializados é algo que veem com bons olhos. “Muitas vezes, não procuramos apoio psicológico porque o Serviço Nacional de Saúde não nos dá uma resposta eficaz, pelo que a resposta obtida, muitas vezes, é ‘privada e paga’, não estando ao alcance de todas as pessoas. Uma linha de apoio psicológico eficaz faria, com certeza, muita diferença na vida de muitos cuidadores. Essa possibilidade traduz-se, entre muitas coisas, na possibilidade de cuidar de mim. Cuidar da minha saúde mental”, reforça a psicóloga.

Para a especialista, não há mesmo dúvidas: “as pessoas que são cuidadores informais precisam de apoio. Precisam que toda uma sociedade (todo um Estado) as acolha e as ajude, por forma a minimizar ‘os danos e as consequências’ que a sua condição de cuidador ‘trouxeram’ à sua vida, à forma como vivem a sua vida. Que todos possamos ouvir os cuidadores e refletir sobre estes resultados. Que todos possamos fazer a nossa parte. Que se criem respostas efetivas de ajuda aos cuidadores”.

Segundo Pedro Moura, Diretor-Geral da Merck, “o Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais realizou, durante o ano de 2021, um estudo aos cuidadores informais em Portugal e concluiu que 52,0% dos cuidadores sente falta de apoio psicológico, principalmente por parte do Estado, e que há necessidade de um maior apoio neste campo”.

Este novo estudo, “com o apoio da psicóloga Ana Carina Valente e do Movimento, veio aprofundar esta problemática e (…) recolher mais informações sobre a saúde mental dos cuidadores informais e as suas necessidades. É fundamental que a sociedade e o Estado tomem consciência que é urgente dar este apoio psicológico”, conclui Pedro Moura.

PR/HN/RA

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