José Cabrita: “A avaliação do benefício/risco é essencial em todos os setores do circuito do medicamento”

04/01/2023
“A ideia de fazer este curso online era um desejo antigo, tendo em conta o potencial deste método de ensino para a difusão do conhecimento”, explica o Prof. Doutor José Cabrita, coordenador do primeiro curso em eLearning de Farmacoepidemiologia e professor catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. “A aquisição de conhecimentos, competências e capacidades no âmbito da Farmacoepidemiologia será seguramente uma mais-valia para todos os profissionais que participam no ciclo de vida do medicamento”.

HealthNews (HN) – O que é a Farmacoepidemiologia?

José Cabrita (JC) – A Farmacoepidemiologia é uma área científica recente que se encontra na interface entre a Farmacologia Clínica e a Epidemiologia. Utiliza os métodos e processos de raciocínio epidemiológico para avaliar o risco e o benefício da utilização de medicamentos na saúde das populações, ou seja, o seu impacto positivo e negativo na Saúde Pública.

Os medicamentos são, sem dúvida, a tecnologia de saúde mais popular e mais eficiente, aquela que mais tem contribuído para a obtenção de ganhos em saúde, nomeadamente para o aumento da esperança de vida das populações e para a melhoria da qualidade com que esta é vivida.

O desenvolvimento da indústria farmacêutica a partir das primeiras décadas do século XX permitiu a produção em larga escala de medicamentos com elevado potencial terapêutico, o que originou um considerável impacto positivo na Saúde Pública. No entanto, a crescente utilização dos medicamentos teve um efeito perverso, pois aumentou a ocorrência de efeitos adversos graves, particularmente em populações mais vulneráveis, o que gerou um impacto negativo na Saúde Pública.

Assim, tornou-se imperioso avaliar de forma sistemática e rigorosa o impacto negativo e positivo de cada medicamento e da globalidade do arsenal terapêutico disponível numa comunidade de forma a potenciar os seus benefícios e reduzir os seus riscos.

Foi neste contexto que emergiu, há cerca de 60 anos, a Farmacoepidemiologia, que tem como objetivo final garantir que o medicamento é, não só eficaz face à doença para a qual é administrado, mas também é seguro, ou seja, que o seu potencial terapêutico é elevado e que o risco iatrogénico é aceitável para o utilizador e para a sociedade.

Embora a Farmacoepidemiologia seja área científica recente, assume já um papel preponderante no âmbito das ciências do medicamento, como corolário da necessidade imperiosa em assegurar aos prestadores de cuidados de saúde e à população em geral que os benefícios do arsenal terapêutico superam os riscos inerentes à sua utilização. Para tal, a Farmacoepidemiologia fornece opções metodológicas adaptadas às características da exposição ao medicamento e aos seus efeitos biológicos e intervém nas diversas etapas do ciclo de vida do medicamento, antes e após a sua comercialização, para avaliar o risco iatrogénico e os ganhos em saúde associados ao uso.

A avaliação do benefício/risco do medicamento é essencial em todos os setores do circuito do medicamento; os centros de investigação e a indústria farmacêutica que contribuem para a sua descoberta e produção; as agências reguladoras que os avaliam e aprovam a sua introdução ou determinam a sua retirada do mercado terapêutico; os médicos que os prescrevem e os farmacêuticos que os dispensam, e finalmente, os utilizadores do medicamento, os doentes que esperam beneficiar em segurança do seu efeito terapêutico. E estes são todos nós, a comunidade em geral.

HN – Como surgiu a ideia de fazer este curso online?

JC – Desde há muito que o ensino à distância, quando suportado por tecnologias informáticas e métodos pedagógicos adequados, se revelou bastante eficiente para a aprendizagem em diversas áreas científicas, nomeadamente no âmbito da epidemiologia e da saúde pública.

Distance Learning Consulting (DLC) fornece uma excelente plataforma de e-learning e um experiente apoio pedagógico que garante a otimização da gestão do ensino e da aprendizagem. Na verdade, permite a produção e difusão dos conteúdos pedagógicos através de meios que possibilitam a aquisição e consolidação de conhecimentos de forma interativa e em constante autoavaliação. Possibilita ainda uma melhor gestão dos tempos de aprendizagem, pois permite aos formandos realizar a sua aprendizagem quando entenderem e ao seu próprio ritmo.

Assim, a ideia de fazer este curso online era um desejo antigo, tendo em conta o potencial deste método de ensino para a difusão do conhecimento. Foi possível concretizá-lo com o apoio da DLC, que forneceu os meios tecnológicos e a sua vasta experiência, essenciais ao sucesso do projeto.

HN – Quais as contribuições que o curso pode ter a nível profissional?

JC – O curso visa proporcionar a aquisição ou o aprofundamento de conhecimentos, bem como o desenvolvimento de competências no âmbito do raciocínio epidemiológico no contexto do uso do medicamento.

Como referi anteriormente, a Farmacoepidemiologia é reconhecida pelas agências reguladoras do medicamento e da saúde pública, assim como pelas empresas farmacêuticas responsáveis pela sua descoberta e produção, como uma área científica essencial para a avaliação do seu impacto positivo e negativo na saúde das populações. Por outro lado, a Farmacoepidemiologia é uma área científica de importância crescente para outros agentes do circuito do medicamento, como os médicos, os farmacêuticos e os enfermeiros, que são os responsáveis últimos pela cedência de medicamentos eficazes e seguros às populações, o que implicará avaliar o seu impacto positivo e negativo na saúde dos utilizadores.

É neste contexto que as agências reguladoras do medicamento, as empresas farmacêuticas e as organizações profissionais que tutelam ou intervêm na atividade médica e farmacêutica têm vindo a dar maior relevo à formação nesta área científica. Assim, a aquisição de conhecimentos, competências e capacidades no âmbito da Farmacoepidemiologia será seguramente uma mais-valia para todos os profissionais que participam no ciclo de vida do medicamento.

HN- Quais as condições necessárias para se inscrever?

JC – Consideramos um pré-requisito para a inscrição no curso uma formação académica superior, licenciatura ou mestrado, numa área científica adequada, ou uma experiência profissional relevante em atividades que, de alguma forma, estão associadas aos objetivos e às funções da Farmacoepidemiologia.

Importa recordar que o curso se destina a todos os profissionais de saúde que intervêm ou desejam intervir em qualquer das etapas do ciclo de vida do medicamento, da sua descoberta e investigação nos centros de pesquisa, à avaliação e monitorização nas agências reguladoras, na produção e distribuição nas empresas farmacêuticas e, finalmente, na prescrição e dispensa nos serviços dos sistemas de saúde, hospitais, clínicas e farmácias.

Mais informação sobre o curso Aqui.

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