Retoma da atividade assistencial ajudou a aumentar número de casos confirmados em todas as hepatites

28 de Julho 2023

Os casos confirmados notificados na plataforma SINAVE aumentaram em todas as hepatites no ano passado, ultrapassando os 400, um aumento que a Direção Geral da Saúde admite dever-se à retoma da atividade assistencial, afetada durante a pandemia.

acordo com último relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais, que é hoje apresentado, foram notificados na plataforma um total de 416 casos, dos quais 189 de hepatite C, 179 de hepatite B, 30 de hepatite A e 18 de hepatite E.

Segundo os autores do documento, este aumento do número de casos confirmados na plataforma de apoio SINAVE “poderá ser justificado com a retoma da atividade assistencial, que foi afetada pela pandemia de covid-19”.

O documento apresenta, pela primeira vez, dados referentes à hepatite E, que, apesar de menor magnitude quando comparada com as restantes hepatites, teve também um aumento de casos confirmados no ano passado (de 10 para 18).

A tendência de uma maior proporção de casos confirmados no sexo masculino mantém-se, representando cerca de 60% dos casos confirmados de hepatite B e 75% dos de hepatite C.

Considerando apenas os anos de 2021 e 2022, o documento indica que 45% dos casos confirmados de hepatite B têm apresentação crónica e 16% aguda.

Na maioria dos casos (84%) a forma provável de transmissão é desconhecida, em 4% admite-se que seja o contacto sexual heterossexual, em 3% a transmissão vertical (mãe/filho) e os restantes 9% terão outras formas de transmissão.

No que diz respeito à hepatite C, 41% dos casos confirmados têm apresentação crónica, 8% aguda e em 51% é desconhecida.

Nos anos de 2021 e 2022, em 38% dos casos confirmados a forma de transmissão da hepatite C era desconhecida, em 18% surgiu de lesões não ocupacionais (agulhas, mordeduras, feridas, tatuagens, piercings), em 15% por contacto sexual entre homens que têm sexo com homens, em 10% por contacto heterossexual e em 9% por contacto com sangue infetado.

Os últimos dados de prevalência nacional dizem respeito aos inquéritos serológicos nacionais 2015 – 2016, realizados pela Escola Nacional de Saúde Pública, pelo que os autores do relatório chamam a atenção para a necessidade de estudos mais recentes para se conhecer a atual prevalência nacional das hepatites.

Sobre os utentes em tratamento por problemas relacionados com o uso de drogas, relativamente à hepatite C, o documento indica que em 2021, após descidas consecutivas nos dois anos anteriores, houve um aumento da proporção de novas infeções “entre os injetores que iniciaram tratamento ambulatório”, sejam eles novos utentes ou readmitidos.

As hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes por ano (cerca de 4.000 por dia). Contudo, quando diagnosticadas precocemente, têm tratamento e são curáveis.

Na região europeia, 14 milhões de pessoas vivem com hepatite C e 112.500 morrem anualmente por esta infeção.

Portugal tem sido referido como um exemplo internacional no caminho para a eliminação das hepatites virais crónicas. Em 2021, registou uma taxa de 0,4 casos de hepatite C crónica diagnosticados por cada 100.000 habitantes, um valor inferior à média da UE/EEE (1,9 casos/100.000). No que se refere aos casos de hepatite C aguda, a taxa em Portugal foi de 0,1 casos/100.000 habitantes, também inferior à taxa de 0,3 casos/100.000 registada na UE/EEE.

A mortalidade por hepatites virais ultrapassa a mortalidade por outras doenças infecciosas, como a infeção por Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) (680 000), a malária (627.000), sendo similar à mortalidade por tuberculose (1,4 milhões).

Nas pessoas com hepatite C crónica, o risco de evolução para cirrose é de 15-30% aos 20 anos e, em caso de cirrose, a probabilidade de evolução para cancro no fígado é de 10-40% aos 20 anos.

A OMS estima que vivam em todo o mundo cerca de 58 milhões de pessoas com o vírus da hepatite C, que morram anualmente 290.000 por cirrose ou carcinoma hepatocelular, surgindo todos os anos cerca de 1,5 milhões de novas infeções. Para a hepatite B, as estimativas apontam para cerca de 300 milhões de pessoas que vivem com essa infeção, 820 000 mortes por ano e 1,5 milhões de novas infeções.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Prioridades para a Saúde nas Legislativas 2025: Propostas de Pedro Pita Barros

Pedro Pita Barros, especialista em economia da saúde e professor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), propõe para as legislativas de 18 de maio um reforço do SNS, valorização dos profissionais, aposta nos cuidados primários e continuados, redução dos pagamentos diretos das famílias, estabilidade na gestão das ULS e consensos na saúde oral e mental, destacando a necessidade de medidas concretas e transversais

Carlos Cortes: Prioridades da Ordem dos Médicos para o XXV Governo

Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, defende que o próximo Governo deve apostar na valorização dos recursos humanos, na reforma da gestão do SNS e na centralidade da pessoa nos cuidados de saúde. Propõe políticas de retenção de médicos, autonomia de gestão e humanização transversal do sistema.

Prioridades para a Saúde: Propostas de Fernando Leal da Costa para o XXV Governo Constitucional

Fernando Leal da Costa, Professor Universitário e ex-ministro da Saúde, defende como prioridades para o próximo Governo: revisão da Lei de Bases da Saúde e do Estatuto do SNS, reforma administrativa, reforço da gestão local, digitalização dos processos clínicos, controlo estatal da ADSE, redefinição dos recursos humanos, avaliação da eficiência, renovação hospitalar e aposta na prevenção.

Legislativas / Propostas dos partidos para a Saúde

Com a saúde como tema prioritário nos programas eleitorais, os partidos com assento parlamentar focam-se no aumento da remuneração dos profissionais, com a esquerda a ir mais longe para fixar médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Os programas eleitorais divergem sobretudo em matéria de parcerias público-privadas (PPP’s) em que os partidos mais à esquerda querem o fim destes contratos com privados enquanto a direita defende a sua eficácia.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights