Estudo demonstra benefícios da administração de exossomas na pré-eclâmpsia

12 de Dezembro 2023

Uma nova investigação científica revela dados promissores sobre o tratamento da pré-eclâmpsia, uma doença multissistémica que afeta cerca de 5 a 8% das gestações e que pode resultar em complicações graves para a mãe e para o bebé.

Esta condição é uma das principais causas de mortalidade materna, fetal e neonatal, estando associada ao atraso no crescimento intrauterino e ao nascimento prematuro. Caracteriza-se por um quadro de hipertensão arterial após as 20 semanas de gestação, associada à perda de proteínas na urina e lesão em vários órgãos, como rins, fígado e cérebro.

Até agora, o parto, ou, em casos mais severos, a sua indução, constitui o único tratamento definitivo para esta condição, sendo, por isso, necessário desenvolver estratégias capazes de prevenir a progressão da doença.

Os resultados de um estudo publicado na revista científica European Journal of Medical Research destacam o potencial terapêutico de vesículas extracelulares libertadas pelas células estaminais mesenquimais do cordão umbilical, chamadas exossomas, no tratamento da pré-eclâmpsia em modelo animal.

Estas células presentes no tecido do cordão umbilical têm sido objeto de interesse devido à sua capacidade de diferenciação em diferentes tipos de células, pela rápida autorrenovação e por, uma vez criopreservadas, apresentarem disponibilidade imediata para utilização clínica.

Ao longo do estudo, foram acompanhados animais tratados e não tratados com exossomas de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical chegando-se às seguintes conclusões sobre o tratamento experimental: tem um efeito positivo na pré-eclâmpsia, tendo conduzido a uma diminuição da pressão arterial nas mães; está associado a melhorias no desenvolvimento dos fetos, verificando-se um aumento do tamanho e do peso dos fetos à nascença, que resultam de melhorias nas trocas gasosas e de nutrientes entre as mães e os fetos; é capaz de promover a reconstituição de uma densa rede de vasos sanguíneos na placenta, o que permite uma melhoria na vascularização, crucial para o desenvolvimento saudável do feto; conduz a uma redução da concentração de um biomarcador de pré‑eclâmpsia, uma proteína que leva a uma disfunção do endotélio (i.e., do tecido que reveste os vasos sanguíneos).

A análise dos exossomas das células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical demonstrou um enriquecimento em proteínas envolvidas na regulação da comunicação, migração e sinalização celulares e na formação de novos vasos sanguíneos.

Os autores recorreram ainda a experiências in vitro, em que estudaram os efeitos dos exossomas de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical na disfunção endotelial que ocorre na pré‑eclâmpsia, tendo observado o efeito benéfico dos exossomas destas células sobre o modelo celular usado, melhorando a capacidade de proliferação e de migração celulares.

Globalmente, estes resultados sugerem que estes exossomas podem ser úteis na recuperação da disfunção endotelial característica da pré-eclâmpsia e fornecem evidências que suportam a consideração da sua administração como uma nova abordagem terapêutica para o tratamento da pré‑eclâmpsia.

Carla Cardoso, diretora do Departamento de I&D da Crioestaminal, expressa o seu entusiasmo em relação a estes resultados, que “destacam o potencial dos exossomas das células estaminais do cordão umbilical podem ter no desenvolvimento de novas opções terapêuticas para o tratamento desta condição grave que afeta muitas mulheres durante a gravidez, e cuja prevenção da sua progressão e tratamento são atualmente muito difíceis de conseguir”.

PR/HN

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