António de Sousa Uva Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP)

Ainda a COVID-19: se chamei onda-canhão à 1ª vaga será agora esta uma onda espraiada ou o canhão está logo ao virar da esquina?

10/14/2020

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Ainda a COVID-19: se chamei onda-canhão à 1ª vaga será agora esta uma onda espraiada ou o canhão está logo ao virar da esquina?

14/10/2020 | Opinião

A situação, por exemplo em Espanha, parece indiciar que a segunda onda foi mais precoce que os melhores vaticínios, modelizados ou não, e tudo leva a crer que temos as mesmas duas semanas (ou talvez um pouco mais) de “avanço” que tivemos na primeira onda, mas que teimamos em não aproveitar na sua plenitude. Espera-se que, no mínimo, usemos esse “avanço” (caso venha a haver recorrendo ao histórico de outras pandemias) numa terceira e, aparentemente, última vaga.

As três importantes diferenças que antes foram por mim apontadas esbatem-se. A pressão nas unidades prestadoras de cuidados de saúde de natureza clínica é cada vez mais “galopante” e menos tímida, a pressão nas Unidades de Saúde Pública passou de muito intensa a quase insuportável e veremos o que se passará num futuro próximo nas escolas e nos lares, cujos problemas emergem de forma vertiginosa. Tudo leva a crer que também poderão emergir problemas (leia-se surtos) nas empresas (oxala´não aconteça!).

Nos media emergem igualmente as comparações incomparáveis (qual comparação entre “alhos e carrinhos de mão”), por exemplo entre países numa espécie de “ranking” dos top five dos “melhores” ou dos “piores” (sempre a perspectiva da culpa em vez da perspectiva do risco …). Substitui-se, portanto, a aprendizagem da observação sistemática e com preocupações de rigor e o aproveitamento do tempo de antecipação das melhores abordagens de gestão do risco, com humildade e não se assume que muitas variáveis relacionadas com a partícula viral e com a sua disseminação na comunidade são ainda insuficientemente conhecidas para classificar as medidas em totalmente certas ou totalmente erradas e, muito menos, compará-las. Mas por exemplo:

Haverá alguma coisa a perder na utilização da máscara em espaços abertos, mais ou menos frequentados? Poder-se-á ganhar alguma coisa com essa opção de gestão do risco?

Outro exemplo, poderá melhorar-se muito a avaliação do risco (e posterior gestão) em Saúde Pública com o recurso a testes de antigénio? Poderão esses testes aclarar a classificação “alto risco” ou “baixo risco” na estratificação desse risco?

 Outro exemplo ainda, existirá alguma dúvida que o distanciamento físico é o “gold standard” da luta contra a pandemia? Se a resposta for afirmativa, não poderão daí retirar-se ensinamentos que “temperem” a manutenção da actividade económica com algumas limitações mais enérgicas (ainda que temporárias) de limitação dos contactos?

 Haverá alguma razão, que não vislumbro, para reduzir o tempo de quarentena para 10 (ou mesmo sete) dias num contexto da necessidade de manutenção reiterada da actividade económica? É que, se ainda não se valorizaram esses aspectos, quarentenas de 14 dias com número de novos casos de quatro dígitos (cada vez mais “gordos”) e contactos de alto risco com positivo de dois dígitos “avantajados” dão quarentenas muito extensas em cinco dígitos (igualmente muito “gordos”) que podem atingir 100.000 a 200.000 isolamentos em cada intervalo de duas semanas.

A rapidez de actuação é cada vez mais decisiva no combate à pandemia e, apesar disso, as cerca de duas semanas de avanço devem ser outro “gold standard” das nossas estratégias de acção. O mesmo é verdade no reforço excessivamente tímido das unidades de Saúde Pública com mais recursos indispensáveis à exigência dessa rapidez na resposta e onde, de facto, se pode “achatar a curva”, para além do exercício de cidadania que todos estamos a fazer.

É bom que se assuma que a vacina não parece vir a tempo de, dessa maneira sim, se obter a tão falada “imunidade de grupo”. Que tal a criação, entretanto e por exemplo, de um semáforo Rt por Concelho mais sedutor da adesão mais militante às medidas de prevenção, como por exemplo o uso de máscara no exterior?

Na minha área da Saúde Ocupacional, em empresas, esse reforço da comunicação do risco na sua percepção é muito usado pela sua eficácia no uso da protecção individual, por exemplo em áreas com maior ou menor exposição ao ruído enquanto factor de risco profissional e a decorrente maior ou menor probabilidade de perda da audição por sonotraumatismo. Mal comparado e recorrendo a uma metáfora, “o fiambre não se come às dentadas, fatia-se”.

1 Comment

  1. Eduardo T. Santana

    Como sempre acutilante e preciso
    Um abraço

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Sérgio Bruno dos Santos Sousa
Mestre em Saúde Pública
Enfermeiro Especialista de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública na ULSM
Gestor Local do Programa de Saúde Escolar na ULSM
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