Cientistas portugueses desvendam segredos da LAMA2-CMD

8 de Outubro 2024

Investigadores da Faculdade de Ciências da ULisboa identificam como a falta de laminina-α2 afeta o desenvolvimento muscular na distrofia muscular congénita Tipo 1A, abrindo portas para novas terapias contra esta doença rara

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) acaba de revelar descobertas cruciais sobre a distrofia muscular congénita Tipo 1A (MDC1A), também conhecida como distrofia muscular relacionada com LAMA2 (LAMA2-CMD). Este estudo inovador, desenvolvido ao longo de três anos e meio, lança nova luz sobre os mecanismos desta doença rara e potencialmente fatal, abrindo caminho para o desenvolvimento de futuras terapias.

A LAMA2-CMD é uma doença genética rara causada por mutações no gene LAMA2, responsável pela produção da proteína laminina-α2, fundamental para a estrutura e função muscular. Utilizando modelos de ratinho, a equipa identificou como a ausência desta proteína afeta profundamente o desenvolvimento das células musculares.

Os investigadores descobriram que as células musculares com deficiência em laminina-α2 enfrentam sérias dificuldades no crescimento, desenvolvimento e fusão. Estes processos são cruciais não apenas durante o desenvolvimento embrionário, mas também na recuperação de lesões musculares ao longo da vida. Além disso, as células afetadas apresentaram danos no ADN, stress oxidativo e disfunções mitocondriais, o que compromete severamente a sua funcionalidade.

Susana Martins, aluna de doutoramento de CIÊNCIAS ULisboa-CE3C e uma das autoras do estudo, sublinha a importância destas descobertas: “Compreender estes processos é fundamental para entender como a doença se desenvolve e progride, tanto antes como após o nascimento.”

O estudo, publicado na prestigiada revista ‘Life Science Alliance’, representa um avanço significativo na compreensão da LAMA2-CMD. Embora não ofereça uma cura imediata, estas descobertas abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias futuras, particularmente no campo da terapia génica.

Ana Rita Carlos (na imagem), investigadora de CIÊNCIAS ULisboa-CE3C, enfatiza o impacto potencial deste trabalho: “Apesar da sua raridade, com uma incidência de 10 a 14 casos por milhão de habitantes na Europa, a LAMA2-CMD tem consequências devastadoras para as famílias afetadas. Este estudo proporciona uma nova compreensão dos processos biológicos envolvidos, o que é crucial para o desenvolvimento de futuras terapias.”

A equipa de investigação está agora a focar-se em duas frentes principais: o estudo de células musculares obtidas de pacientes, para verificar se os processos observados podem ser revertidos em células humanas, e a exploração de estratégias de terapia genética que possam, no futuro, corrigir as mutações no gene LAMA2 e potencialmente curar a doença.

Esta investigação resultou de uma colaboração entre dois laboratórios de CIÊNCIAS ULisboa/Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C): o Laboratório de Matriz Extracelular no Desenvolvimento e Doença, liderado por Sólveig Thorsteinsdóttir, e o Laboratório de Mecanismos Moleculares de Doença, sob a direção de Ana Rita Carlos. O estudo beneficiou ainda da colaboração de outros grupos de CIÊNCIAS ULisboa, da Universidade de Nápoles em Itália, e do Jacqui Wood Cancer Center na Universidade de Dundee, Escócia.

Para a comunidade científica, este trabalho representa um passo fundamental na compreensão e potencial tratamento da LAMA2-CMD. Ao identificar novos alvos para possíveis intervenções terapêuticas, o estudo abre perspetivas promissoras para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por esta doença rara e grave.

À medida que a investigação avança, a esperança é que estas descobertas possam, no futuro próximo, traduzir-se em tratamentos concretos, oferecendo novas possibilidades para aqueles que sofrem desta forma de distrofia muscular congénita.

PR/HN/MMM

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