Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) acaba de revelar descobertas cruciais sobre a distrofia muscular congénita Tipo 1A (MDC1A), também conhecida como distrofia muscular relacionada com LAMA2 (LAMA2-CMD). Este estudo inovador, desenvolvido ao longo de três anos e meio, lança nova luz sobre os mecanismos desta doença rara e potencialmente fatal, abrindo caminho para o desenvolvimento de futuras terapias.
A LAMA2-CMD é uma doença genética rara causada por mutações no gene LAMA2, responsável pela produção da proteína laminina-α2, fundamental para a estrutura e função muscular. Utilizando modelos de ratinho, a equipa identificou como a ausência desta proteína afeta profundamente o desenvolvimento das células musculares.
Os investigadores descobriram que as células musculares com deficiência em laminina-α2 enfrentam sérias dificuldades no crescimento, desenvolvimento e fusão. Estes processos são cruciais não apenas durante o desenvolvimento embrionário, mas também na recuperação de lesões musculares ao longo da vida. Além disso, as células afetadas apresentaram danos no ADN, stress oxidativo e disfunções mitocondriais, o que compromete severamente a sua funcionalidade.
Susana Martins, aluna de doutoramento de CIÊNCIAS ULisboa-CE3C e uma das autoras do estudo, sublinha a importância destas descobertas: “Compreender estes processos é fundamental para entender como a doença se desenvolve e progride, tanto antes como após o nascimento.”
O estudo, publicado na prestigiada revista ‘Life Science Alliance’, representa um avanço significativo na compreensão da LAMA2-CMD. Embora não ofereça uma cura imediata, estas descobertas abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias futuras, particularmente no campo da terapia génica.
Ana Rita Carlos (na imagem), investigadora de CIÊNCIAS ULisboa-CE3C, enfatiza o impacto potencial deste trabalho: “Apesar da sua raridade, com uma incidência de 10 a 14 casos por milhão de habitantes na Europa, a LAMA2-CMD tem consequências devastadoras para as famílias afetadas. Este estudo proporciona uma nova compreensão dos processos biológicos envolvidos, o que é crucial para o desenvolvimento de futuras terapias.”
A equipa de investigação está agora a focar-se em duas frentes principais: o estudo de células musculares obtidas de pacientes, para verificar se os processos observados podem ser revertidos em células humanas, e a exploração de estratégias de terapia genética que possam, no futuro, corrigir as mutações no gene LAMA2 e potencialmente curar a doença.
Esta investigação resultou de uma colaboração entre dois laboratórios de CIÊNCIAS ULisboa/Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C): o Laboratório de Matriz Extracelular no Desenvolvimento e Doença, liderado por Sólveig Thorsteinsdóttir, e o Laboratório de Mecanismos Moleculares de Doença, sob a direção de Ana Rita Carlos. O estudo beneficiou ainda da colaboração de outros grupos de CIÊNCIAS ULisboa, da Universidade de Nápoles em Itália, e do Jacqui Wood Cancer Center na Universidade de Dundee, Escócia.
Para a comunidade científica, este trabalho representa um passo fundamental na compreensão e potencial tratamento da LAMA2-CMD. Ao identificar novos alvos para possíveis intervenções terapêuticas, o estudo abre perspetivas promissoras para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por esta doença rara e grave.
À medida que a investigação avança, a esperança é que estas descobertas possam, no futuro próximo, traduzir-se em tratamentos concretos, oferecendo novas possibilidades para aqueles que sofrem desta forma de distrofia muscular congénita.
PR/HN/MMM
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