Estudo revela ligação entre depressão e dores menstruais

8 de Dezembro 2024

Uma nova investigação sugere que a depressão pode aumentar a probabilidade de uma mulher experienciar dores menstruais, lançando luz sobre a complexa relação entre saúde mental e reprodutiva.

Um estudo inovador conduzido por investigadores da China e do Reino Unido, publicado na revista Briefings in Bioinformatics, revelou uma ligação significativa entre a depressão e a dismenorreia, ou dores menstruais. A investigação, liderada por Shuhe Liu, estudante de doutoramento na Universidade Xi’an Jiaotong-Liverpool (XJTLU) na China, utilizou uma técnica especializada chamada randomização mendeliana para analisar a variação genética e identificar genes específicos que podem mediar o efeito da depressão nas dores menstruais.

Os investigadores analisaram aproximadamente 600.000 casos de populações europeias e 8.000 de populações do Leste Asiático, encontrando uma forte ligação em ambos os conjuntos de dados. Esta descoberta é particularmente relevante, dado que as mulheres têm o dobro da probabilidade de sofrer de depressão em comparação com os homens e frequentemente experimentam sintomas físicos mais graves, especialmente durante os anos reprodutivos.

O estudo também explorou o papel dos distúrbios do sono, frequentemente associados à depressão, como um possível mediador entre a depressão e a dismenorreia. Os resultados sugerem que o aumento dos distúrbios do sono pode exacerbar as dores menstruais, sublinhando a importância de abordar as questões relacionadas com o sono no tratamento de ambas as condições.

Uma das descobertas mais significativas do estudo é que a depressão pode ser uma causa, e não uma consequência, da dismenorreia. Esta conclusão baseia-se na falta de evidências de que as dores menstruais aumentem o risco de depressão, invertendo assim a compreensão tradicional da relação entre estas duas condições.

Os resultados deste estudo têm implicações importantes para a abordagem do tratamento de questões de saúde mental e reprodutiva. Liu enfatiza a necessidade de uma abordagem holística, sugerindo que os transtornos mentais devem ser considerados no tratamento de condições como as dores menstruais. Esta perspetiva pode levar a opções de tratamento mais personalizadas e a uma melhoria nos cuidados de saúde.

A investigação também destaca a importância do rastreio da saúde mental para pessoas que sofrem de dores menstruais severas. Ao reconhecer e abordar esta ligação, os profissionais de saúde podem oferecer um tratamento mais abrangente e eficaz, potencialmente reduzindo o estigma associado a ambas as condições.

Este estudo marca um passo significativo na compreensão da interligação entre os sistemas neurológicos e o resto do corpo. Ao explorar e compreender melhor estas relações, os investigadores esperam fazer uma diferença real para os milhões de pessoas que sofrem de dores menstruais e problemas de saúde mental.

A investigação foi supervisionada pelo Professor John Moraros e Dr. Zhen Wei da XJTLU, China, e pelo Dr. Dan Carr da Universidade de Liverpool, Reino Unido, demonstrando uma colaboração internacional robusta neste campo de estudo crucial.

Bibliografia:

Shuhe Liu, Zhen Wei, Daniel F. Carr, John Moraros November (2024) Deciphering the genetic interplay between depression and dysmenorrhea: a Mendelian randomization study Briefings in Bioinformatics https://doi.org/10.1093/bib/bbae589

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

ASPE condena diploma com a 3ª Alteração às Carreiras de Enfermagem

A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) manifestou, esta semana, a sua oposição à publicação do Decreto-Lei n.º 111/2024, de 19 de dezembro, que introduz a terceira alteração às carreiras de enfermagem. Segundo a ASPE, este diploma representa uma oportunidade perdida para resolver desigualdades históricas no setor e criar uma visão estratégica de longo prazo para a profissão.

MAIS LIDAS

Share This