“Sempre, em Cabo Verde, gostamos muito de épocas festivas” e no natal e no fim do ano, “sempre é consumido muito álcool”, disse à Lusa, o ativista social Danielson Barros.
Danielson Barros é um dos 25 casos de superação reconhecidos recentemente pelo Governo de Cabo Verde, denominado de “embaixadores da esperança”, uma iniciativa para mudar esta realidade.
“Somos 25 embaixadores da esperança porque fomos os 25 jovens, adolescentes e adultos que deram a cara e contaram a sua história para que o mundo inteiro siga o nosso exemplo”, explicou.
Durante anos, Danielson Barros enfrentou os efeitos do consumo de álcool, que dominou a sua vida desde a infância.
Hoje dedica-se a inspirar jovens a deixarem o álcool e a procurarem ajuda.
“Com apenas 10 anos, já consumia álcool. Foram anos de destruição até que percebi: o álcool tinha controlo total sobre a minha vida”, revelou Danielson, destacando como a mudança de ambiente e o afastamento de “amizades tóxicas” foram cruciais para a sua recuperação.
Agora, há mais de 18 anos sem consumir álcool, Danielson apela: “Aqueles que nunca experimentaram álcool, que não o experimentem. E aqueles que querem deixar que procurem ajuda”.
“A bebida alcoólica não traz felicidade, traz destruição, separações e brigas dentro das famílias”, apontou.
O ativista lamentou que ainda existam poucas medidas para combater o consumo abusivo de álcool no país e pediu mais prevenção, ferramentas e apoio para quem quer abandonar essa prática, referindo que o consumo está a alastrar “ano após ano”.
O presidente da Fundação Menos Álcool Mais Vida, Manuel Faustino também alertou para o aumento do consumo de álcool em Cabo Verde, especialmente nesta época festiva, quando se intensifica.
“Não temos dados quantificados, mas a perceção que temos é que está a haver um aumento. E há mais mulheres a beber do que antes”, adiantou à Lusa Manuel Faustino.
Manuel Faustino explicou que a fundação está a trabalhar para quantificar os indicadores e validar essa perceção.
Os últimos dados publicados em outubro de 2021 concluíram que 17% da população cabo-verdiana parou ou reduziu o consumo de bebidas alcoólicas devido à pandemia da covid-19.
Segundo Manuel Faustino, com a chegada da época festiva, como o natal, o fim de ano, o consumo excessivo de álcool tende a ser normalizado ou até incentivado.
Neste sentido, o dirigente alertou para os problemas associados, como comportamentos de risco, violência, acidentes de trânsito e sérios danos à saúde.
“Nesses períodos, o consumo de álcool agudiza-se, muitas vezes associado a momentos de celebração e descontração”, referiu, alertando ainda que “a aguardente tem uma concentração de álcool nove vezes superior à da cerveja, o que aumenta os riscos de consumo abusivo, principalmente entre as camadas de menor poder aquisitivo, que optam por bebidas mais baratas, mas igualmente prejudiciais”.
O presidente da Fundação Menos Álcool Mais Vida defendeu uma maior responsabilidade tanto da população como das autoridades locais, que devem promover ações educativas sobre o consumo responsável.
“As câmaras municipais têm um papel importante, não no sentido de proibir o consumo, mas em educar sobre os limites do álcool e as normas a cumprir, especialmente para proteger grupos vulneráveis como crianças e gestantes”, afirmou.
Faustino concluiu com um apelo à consciência: “Queremos que as pessoas entendam que o álcool é uma substância tóxica. Não estamos aqui para proibir, mas para consciencializar sobre os perigos e promover um consumo responsável que não prejudique a saúde ou a segurança de todos.”
NR/HN/Lusa
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