Cadeia de supermercados norte-americana recusa ser bode expiatório do consumo excessivo de opiáceos

23 de Outubro 2020

A Walmart reagiu na quinta-feira à ameaça de processos civis pelo Departamento da Justiça, na crise dos opiáceos, denunciando em tribunal uma tentativa governamental de a responsabilizar pelo consumo excessivo destes medicamentos, que criam uma forte dependência.

Na queixa registada perante um tribunal federal no Estado do Texas, a cadeia de supermercados – que conta cerca de cinco mil superfícies nos EUA, quase todos com farmácia – estima que, ao criticarem os seus farmacêuticos por não terem recusado fornecer opiáceos receitados por médicos, o Departamento de Justiça e a agência de regulação dos medicamentos (FDA, na sigla em Inglês) colocam os farmacêuticos numa “situação insustentável”.

Um farmacêutico não tem a formação necessária para recusar fornecer medicamentos receitados por um médico certificado, argumentou a Walmart. Inclusive incorre no risco de “perder a licença” ou “prejudicar a saúde de um doente”.

Devido a um ‘marketing’ agressivo dos laboratórios farmacêuticos, junto dos médicos principalmente, a receita de medicamentos analgésicos opiáceos, que eram reservados para doenças graves, teve um crescimento exponencial no fim dos anos 1990.

Este consumo excessivo causou uma dependência dos opiáceos que esteve na origem de mais de 450 mil mortes por ‘overdose’, desde há 20 anos, segundo os Centros de Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em Inglês).

A Walmart acusa a FDA de procurar livrar-se dos seus “erros profundos” na gestão desta crise: várias auditorias concluíram que a agência federal não impediu, como devia, os laboratórios de produzirem quantidades cada vez maiores destes medicamentos nem, em 70% dos casos, retirado licenças aos médicos cujas receitas eram questionadas.

A Walmart pretende que o tribunal diga claramente não tem, nem os seus farmacêuticos, as responsabilidades legais que o Governo e a FDA lhe pretendem imputar.

Outros grandes distribuidores de medicamentos norte-americanos foram processados por autoridades locais ou estaduais, que os acusam de terem fechado os olhos a milhões de receitas de medicamentos opiáceos, apesar de saberem que criavam dependência entre os seus destinatários.

Um acordo foi encontrado entre três distribuidores e dois condados do Estado do Ohio, em outubro de 2019, o que abriu a via a uma resolução mais global, atualmente em negociação.

Na quarta-feira, o Ministério da Justiça anunciou que o Purdue Pharma, fabricante do opiáceo OxyContin, tinha aceitado declarar-se culpado, no quadro de um acordo quantificado em 8,3 mil milhões de dólares (sete mil milhões de euros).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Consórcio português quer produzir terapias inovadoras com células CAR-T

Um consórcio português que junta clínicos, investigadores e académicos quer desenvolver capacidade nacional para produzir terapias inovadoras com células CAR-T, uma forma avançada de imunoterapia que tem demonstrado taxas de sucesso em certos cancros do sangue, foi hoje divulgado.

Consumo de droga em Lisboa aumentou e de forma desorganizada

Uma técnica de uma organização não-governamental (ONG), que presta assistência a toxicodependentes, considerou hoje que o consumo na cidade de Lisboa está a aumentar e de forma desorganizada, com situações de recaída de pessoas que já tinham alguma estabilidade.

Moçambique regista cerca de 25 mil casos de cancro anualmente

Moçambique regista anualmente cerca de 25 mil casos de diferentes tipos de cancro, dos quais 17 mil resultam em óbitos, estimaram hoje as autoridades de saúde, apontando a falta de profissionais qualificados como principal dificuldade.

Ana Povo e Francisco Nuno Rocha Gonçalves: secretários de estados da saúde

O XXV Governo Constitucional de Portugal, liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro, anunciou a recondução de Ana Margarida Pinheiro Povo como Secretária de Estado da Saúde. Esta decisão reflete uma aposta na continuidade das políticas de saúde implementadas no mandato anterior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights