Biobancos: como a doação de amostras biológicas pela comunidade pode contribuir para a inovação científica

21 de Janeiro 2025

Ainda que na linha da frente da ciência estejam os investigadores e todos os que se dedicam a levar mais longe as fronteiras do conhecimento, para que este possa avançar é essencial a participação de todos. E é disso exemplo o papel dos biobancos, como o CHAIN Biobank da NOVA Medical School, cuja missão só se torna possível com a participação ativa da comunidade, através da doação de amostras.

Segundo Maria Assunção, coordenadora técnica do CHAIN Biobank, “os biobancos são infraestruturas de apoio à investigação que processam, organizam, preservam e distribuem amostras biológicas humanas e dados clínicos, como sangue e tecidos, funcionando como repositórios centrais para facilitar o acesso dos investigadores a recursos essenciais para estudos biomédicos”. Um trabalho na base do qual está a doação voluntária de amostras por parte da população, um ato de generosidade com impacto direto na saúde de todos.

De facto, há um papel ativo que todos podemos ter na investigação e no desenvolvimento de novas soluções terapêuticas, desconhecido por muitos, que passa pela doação de material biológico, como sangue ou tecidos resultantes de intervenções cirúrgicas que, de outra forma, seriam descartados. “Amostras e dados de saúde que podem ser guardados de forma anónima e cumprindo a legislação e os princípios éticos em vigor e que se podem traduzir em respostas sobre qual a melhor terapêutica para cada doente e novas soluções para várias doenças”, refere a especialista.

 

Disso é exemplo o trabalho feito na NOVA Medical School na área das doenças hereditárias da retina, um grupo de doenças oculares raras, na sua maioria incuráveis, e heterogéneas, que levam à cegueira. “Estabelecer uma coleção de biobanco orientada para estas doenças, criando recursos de boa qualidade, é uma ferramenta valiosa para impulsionar a investigação. A coleção inclui sangue total, plasma, soro e urina, e será complementada com amostras em casos de cirurgias oculares programadas (humor aquoso e vítreo, cápsula anterior do cristalino…).”

Para aumentar a sensibilização para a importância da doação, o CHAIN Biobank investe na literacia científica e na promoção de campanhas, destacando o valor e o impacto de cada contribuição. A reutilização das amostras é também um ponto-chave: “Valorizar cada amostra passa por garantir a máxima qualidade nos procedimentos técnicos, éticos e legais, assegurando transparência, confiança e a reprodutibilidade dos estudos”, salienta Maria Assunção.

Amostras líquidas, como sangue e seus derivados, urina, fezes, líquido cefalorraquidiano, humor aquoso e outros líquidos corporais, e amostras sólidas, como cálculos renais, cabelo e tecidos vários, obtidos como desperdício em procedimentos de cirurgia programada, são alguns exemplos de materiais que podem ser recolhidos e armazenados nestes biobancos.

Seguindo os princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable), o biobanco assegura que os dados são organizados de forma acessível e padronizada, incentivando a colaboração entre instituições e acelerando descobertas científicas inovadoras. A privacidade dos dadores é sempre garantida através de um rigoroso sistema de codificação e proteção de dados, assegurando o anonimato total em qualquer fase do processo.

Em apenas um ano de atividade, o CHAIN Biobank recolheu 769 amostras, incluindo sangue total, soro e plasma de 71 pacientes, usadas para investigação em doenças crónicas e infecciosas, o que eleva para mais de 41.000 as amostras disponíveis, pertencentes a mais de 11.000 participantes. As doações ocorrem de duas formas: através de projetos de investigação específicos, com consentimento informado dos pacientes, ou por campanhas abertas à comunidade em geral, sempre com aprovação ética para proteção de todas as partes envolvidas.

Apesar dos avanços, os biobancos enfrentam desafios como a sustentabilidade financeira e a necessidade de infraestrutura adequada. Superá-los implica o apoio contínuo da comunidade e um alinhamento constante entre os interesses científicos e as necessidades da população. Aqui, a participação de cada um faz a diferença. Contribuir com uma simples doação de amostra pode significar um futuro com diagnósticos mais rápidos, tratamentos mais eficazes e uma ciência mais justa e acessível para todos.

NR/PR/HN

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