Saúde oral em Portugal: um sorriso cada vez mais caro

22 de Janeiro 2025

Barómetro da Saúde Oral 2024 revela que 300 mil portugueses não têm dinheiro para consultas dentárias. Dois terços da população não tem dentição completa e os hábitos de higiene oral pioraram.

O 9º Barómetro da Saúde Oral 2024, realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), revela um cenário preocupante para a saúde oral dos portugueses. Cerca de 300 mil pessoas, representando 30% dos que nunca vão ou vão menos de uma vez por ano ao médico dentista, apontam a falta de dinheiro como razão principal para não realizarem consultas de medicina dentária. Este número representa um agravamento de 5,6 pontos percentuais em relação a 2023.

O estudo mostra que mais de 1 milhão de portugueses nunca vai ou vai menos de uma vez por ano ao médico dentista. Em contraste, 65,4% dos inquiridos afirmam realizar consultas pelo menos uma vez por ano, uma ligeira melhoria de 1 ponto percentual face ao ano anterior. No entanto, a percentagem de pessoas que nunca marcou uma consulta para check-up aumentou 3,6 pontos percentuais, atingindo 27,4%.

A falta de acesso a cuidados de saúde oral reflete-se no estado da dentição dos portugueses. O barómetro revela que quase dois terços da população (65,7%) não tem pelo menos um dente, um agravamento de 6,8 pontos percentuais em relação a 2023. Mais preocupante ainda é o aumento de pessoas sem seis ou mais dentes, passando de 22,8% em 2023 para 28% em 2024.

As mulheres são as mais afetadas pela falta de dentes, com apenas 31,7% apresentando dentição completa, em comparação com 36,8% dos homens. Além disso, 31,4% das mulheres não têm seis ou mais dentes, contra 23,4% dos homens.
O relatório também aponta para uma deterioração nos hábitos de higiene oral. Em 2024, 74,4% dos inquiridos afirmam escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia, uma diminuição de 4,4 pontos percentuais em relação a 2023. Preocupantemente, 6,1% dos inquiridos escovam os dentes menos de uma vez por dia, um aumento de 3,5 pontos percentuais.

Face a esta situação, 98,2% dos inquiridos consideram importante ou muito importante o acesso à Saúde Oral através do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Além disso, 96,3% acreditam que o Governo deveria comparticipar os tratamentos dentários, tal como faz com os medicamentos. No entanto, apenas 2,5% dos portugueses acedem às consultas de medicina dentária via SNS ou cheque dentista, um ligeiro aumento de 0,5 pontos percentuais em relação ao ano anterior.

O bastonário da OMD, Miguel Pavão, alerta que “estes resultados envergonham o país e refletem a ausência de investimento na saúde oral”. Ele critica a falta de um Programa Nacional de Saúde Oral, prometido pelo Governo para o final de 2024, e apela para uma ação urgente que promova a articulação entre os setores público, privado e social.

Pavão enfatiza a necessidade de um programa prioritário para a saúde oral que envolva não só o Ministério da Saúde, mas também os da Segurança Social e da Juventude, visando a prevenção e intervenção em todas as fases da vida, especialmente junto dos grupos de risco.

Uma nota positiva do relatório é a diminuição contínua da percentagem de menores de 6 anos que nunca foram ao médico dentista. Este número caiu de 73,4% em 2021 para 49,6% em 2024, mostrando uma tendência positiva na consciencialização da importância da saúde oral desde tenra idade.

O Barómetro da Saúde Oral 2024 destaca a urgência de medidas concretas para melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde oral em Portugal, especialmente considerando o impacto significativo que a saúde oral tem na saúde geral e na qualidade de vida dos cidadãos.

PR/HN/MM

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