Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) está a investigar o impacto do sexo biológico no neurodesenvolvimento e nas barreiras cerebrais de recém-nascidos, com o objetivo de compreender por que razão os bebés do sexo masculino apresentam maior suscetibilidade a infeções graves, como a sepse, e a perturbações do neurodesenvolvimento, como o autismo e a hiperatividade. O projeto, designado BarriersReveal – Desvendar o papel do sexo nas barreiras cerebrais durante o período neonatal, é liderado por Vanessa Coelho-Santos, investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC, e vai decorrer ao longo de 18 meses.
A investigação foca-se no período neonatal, que abrange os primeiros 28 dias de vida, uma fase crítica em que o cérebro é particularmente vulnerável devido ao rápido crescimento dos vasos sanguíneos, ao amadurecimento da barreira hematoencefálica e à imaturidade do sistema imunitário. Estudos anteriores já indicaram que os bebés do sexo masculino têm maior propensão a condições associadas a infeções neonatais e neuroinflamação, mas os mecanismos fisiológicos que explicam esta diferença entre sexos permanecem pouco claros. A equipa procura agora desvendar como o sexo biológico influencia a maturação das barreiras cerebrais e a composição neuroimunológica, bem como os fatores que tornam o sexo feminino mais resiliente a estas complicações.
O estudo analisa três estruturas fundamentais do cérebro: as meninges, que envolvem e protegem o órgão e contêm células imunes; a barreira hematoencefálica, que controla a passagem de substâncias do sangue para o cérebro; e o plexo coroide, responsável pela produção do líquido cefalorraquidiano e pela regulação da resposta imunitária. Estas barreiras desempenham um papel crucial na proteção do cérebro contra infeções, toxinas e inflamações, especialmente nos primeiros dias de vida. Através de um modelo pré-clínico com murganhos recém-nascidos, os investigadores vão comparar a composição imunológica e o desenvolvimento destas estruturas entre machos e fêmeas, utilizando técnicas avançadas como a microscopia de dois fotões, que permite obter imagens cerebrais em tempo real com alta resolução, e a citometria de fluxo, que analisa detalhadamente as propriedades das células.
Financiado com cerca de 50 mil euros pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o projeto conta ainda com a colaboração de Juliane Gust, médica e investigadora do Instituto de Investigação Infantil de Seattle. Embora os dados iniciais sejam recolhidos em modelos animais, a equipa planeia, numa fase posterior, comparar os resultados com tecidos humanos, abrindo caminho para o desenvolvimento de terapias que possam prevenir complicações de saúde nos recém-nascidos. A investigação pretende assim lançar luz sobre as diferenças sexuais no neurodesenvolvimento e na resposta a infeções, contribuindo para intervenções futuras que protejam o cérebro durante este período de grande vulnerabilidade.
PR/HN/MM
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