Uma nova revisão de estudos, publicada na revista Pediatric Discovery, lança luz sobre a complexa relação entre as bactérias respiratórias e as infeções pelo vírus sincicial respiratório (VSR) em crianças. A investigação, liderada pelo Hospital Infantil da Universidade Médica de Chongqing, analisou dados de 33 estudos para compreender como a colonização bacteriana nas vias respiratórias influencia tanto a gravidade imediata das infeções por VSR quanto a saúde respiratória a longo prazo em crianças.
O VSR é uma das principais causas de infeções do trato respiratório inferior em crianças menores de dois anos, resultando em significativa morbilidade e um pesado fardo económico para os sistemas de saúde em todo o mundo. Apesar da sua prevalência generalizada, a relação entre as bactérias respiratórias e a infeção por VSR permanecia pouco explorada.
A revisão identificou várias espécies bacterianas prevalentes nas vias respiratórias de crianças com infeções por VSR, incluindo Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e Staphylococcus aureus. Estas bactérias demonstraram ter efeitos significativos tanto nos resultados a curto como a longo prazo das infeções por VSR.
O Haemophilus influenzae, por exemplo, foi consistentemente associado a doenças mais graves, internamentos hospitalares mais longos e taxas mais elevadas de admissões em unidades de cuidados intensivos. Por outro lado, o Streptococcus pneumoniae apresentou resultados mistos: enquanto alguns estudos o associaram a infeções por VSR mais graves, outros sugeriram que densidades bacterianas mais elevadas poderiam na verdade proporcionar um efeito protetor, reduzindo o risco de doença grave.
As consequências a longo prazo destes perfis bacterianos também foram evidentes no estudo, com certas bactérias influenciando o desenvolvimento de sibilância recorrente ou asma. Por exemplo, a presença de Lactobacillus foi associada a um risco reduzido de sibilância na infância, enquanto níveis mais elevados de Moraxella catarrhalis e Streptococcus pneumoniae foram correlacionados com um risco aumentado de episódios recorrentes de sibilância.
Estes resultados enfatizam o papel crítico do microbioma respiratório na formação das fases aguda e crónica da infeção por VSR, sugerindo que a modulação dos perfis bacterianos poderia ser uma abordagem terapêutica importante para mitigar a gravidade da doença e prevenir complicações respiratórias a longo prazo.
O Dr. Yu Deng, autor correspondente do estudo, sublinhou a complexidade das descobertas e a necessidade de mais investigação: “O nosso estudo sublinha o papel fundamental que a microflora respiratória desempenha na formação dos resultados da infeção por VSR. No entanto, os resultados inconsistentes também refletem a natureza intrincada das interações hospedeiro-micróbio. É essencial uma investigação mais direcionada para compreender plenamente estas dinâmicas e desenvolver intervenções eficazes.”
As implicações desta investigação para os cuidados de saúde pediátricos são profundas. Ao elucidar o impacto de perfis bacterianos específicos tanto na gravidade das infeções por VSR como nas suas consequências para a saúde a longo prazo, o estudo abre caminho para potenciais novas estratégias de prevenção e tratamento. Intervenções que modifiquem o microbioma respiratório poderiam ajudar a reduzir a gravidade das infeções por VSR e potencialmente prevenir o desenvolvimento de condições crónicas como a asma.
A investigação contínua sobre os mecanismos por trás destas interações microbianas promete terapias baseadas no microbioma que poderão transformar a gestão do VSR e de outras doenças respiratórias em crianças. Esta abordagem inovadora poderá revolucionar o tratamento e a prevenção de infeções respiratórias na população pediátrica, melhorando significativamente a saúde e a qualidade de vida das crianças afetadas por estas condições.
Referências: https://doi.org/10.1002/pdi3.97
Artigo publicado na revista #29 HealthNews, aceda a mais conteúdos aqui
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