Um estudo recente publicado na revista Engineering, da Frontiers Journals, explora os mais recentes avanços na gestão de feridas, com destaque para os pensos bioativos sensíveis ao microambiente, desenvolvidos especificamente para tratar feridas diabéticas. Estas feridas representam uma das complicações mais graves da diabetes mellitus, afetando entre 19% e 34% dos diabéticos ao longo da vida e apresentando elevadas taxas de recorrência, o que dificulta significativamente a recuperação dos pacientes.
A cicatrização das feridas diabéticas distingue-se pela sua complexidade, envolvendo alterações em todas as fases do processo. Desde a hemostase, marcada por agregação anómala de plaquetas e formação deficiente da rede de fibrina, passando por uma inflamação prolongada devido à disfunção imunitária, stress oxidativo e maior risco de infeção, até à proliferação e remodelação celular comprometidas, cada etapa é afetada pela doença. O microambiente destas feridas caracteriza-se por níveis elevados de glicose, inflamação persistente, infeção contínua, hipóxia, desequilíbrio de fatores biológicos e alterações do pH, frequentemente alcalino, que favorece o crescimento bacteriano.
Para enfrentar estes desafios, os investigadores desenvolveram pensos bioativos capazes de responder de forma seletiva às condições do microambiente da ferida. Estes dispositivos inovadores dividem-se em estratégias de gestão passiva e ativa. Na gestão passiva, incluem-se pensos sensíveis à glicose, ao pH, antioxidantes, anti-inflamatórios, anti-infecciosos, sensíveis a fatores biológicos, temperatura e humidade, utilizando materiais como concanavalina A, glucose oxidase e derivados de ácido fenilborónico. Já a gestão ativa recorre a estímulos externos, como ultrassons, campos magnéticos ou luz, para desencadear a libertação controlada de fármacos e potenciar a cicatrização.
Apesar do potencial destes pensos inteligentes, a sua aplicação clínica ainda enfrenta obstáculos, nomeadamente a necessidade de garantir a biossegurança dos materiais inovadores e o cumprimento rigoroso das normas regulatórias. A aprovação por entidades como a Food and Drug Administration pode variar consoante as características de cada penso. O futuro da investigação passa pela otimização da biocompatibilidade, propriedades mecânicas, integração de sensores e desenho multifuncional, visando melhorar a eficácia destes dispositivos e oferecer novas soluções para o tratamento das feridas diabéticas.
NR/HN/Alphagalileo
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