Novos dados sobre segurança dos inibidores de JAK em doentes com artrite reumatoide

13 de Junho 2025

Novos estudos apresentados no congresso EULAR 2025 revelam que os inibidores de JAK não aumentam significativamente o risco de cancro em doentes com artrite reumatoide, trazendo dados tranquilizadores e novas perspetivas terapêuticas.

O congresso anual da European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR), realizado em Barcelona, trouxe novos dados sobre a segurança dos inibidores da Janus quinase (JAKi) no tratamento da artrite reumatoide (AR). Após as recomendações de precaução emitidas por autoridades reguladoras, na sequência do estudo ORAL Surveillance que apontou para um risco acrescido de cancro com tofacitinib face aos inibidores do fator de necrose tumoral (TNFi), persistiam dúvidas sobre o perfil de segurança destes fármacos.

Romain Aymon e a sua equipa apresentaram um estudo internacional de larga escala, envolvendo dados de 13 registos e mais de 53 mil inícios de tratamento em 33.127 doentes. O objetivo foi comparar a incidência de cancro em doentes com AR tratados com JAKi face a biológicos modificadores da doença (bDMARD), incluindo TNFi e outros mecanismos de ação (OMA). Ao longo do acompanhamento, registaram-se 219 cancros cutâneos não melanoma e 638 outros tipos de cancro. Embora a incidência bruta de cancro não melanoma tenha sido inferior nos TNFi (2,2 por 1000 doentes-ano) face aos JAKi (2,9) e OMA (3,1), a análise estatística não revelou diferenças significativas entre os grupos. O mesmo se verificou numa subanálise de doentes com mais de 50 anos e pelo menos um fator de risco cardiovascular, replicando os critérios do estudo ORAL Surveillance.

No campo dos cancros cutâneos, Viking Huss apresentou dados do registo sueco, focando-se no risco de carcinoma de queratinócitos (principalmente basocelular e espinocelular) em doentes com AR tratados com b/tsDMARDs. Foram identificados 94 casos em utilizadores de JAKi, 407 com OMA e 628 com TNFi. O risco relativo de um primeiro carcinoma de queratinócitos foi 1,72 vezes superior nos JAKi face aos TNFi. Entre doentes com história prévia deste tipo de cancro, o risco de um segundo diagnóstico foi 2,76 vezes maior com JAKi. Viking Huss sublinhou que “estes resultados sugerem que os doentes com AR tratados com JAKi têm uma incidência superior de carcinoma de queratinócitos, sobretudo basocelular, e que a vigilância dermatológica é aconselhável”.

Relativamente ao risco cardiovascular, Asmaa Beltagy apresentou uma análise retrospetiva de dois grupos de doentes com AR com mais de 40 anos, todos em tratamento com JAKi. Um dos grupos iniciou posteriormente um agonista do recetor do peptídeo semelhante ao glucagão tipo 1 (GLP-1RA), enquanto o outro não. Os resultados mostraram uma redução significativa do risco de síndromes coronárias agudas e trombose venosa profunda no grupo GLP-1RA, com tendência para menor risco de enfarte cerebral e doença arterial periférica. A incidência global de eventos cardiovasculares foi inferior no grupo que recebeu GLP-1RA, embora a sobrevivência mediana não tenha diferido significativamente entre os grupos.

Estes dados reforçam a necessidade de vigilância contínua e ajustamento individualizado das opções terapêuticas em doentes com AR, apontando para a segurança relativa dos JAKi quanto ao risco global de cancro, mas alertando para o aumento do risco de carcinoma cutâneo, sobretudo em doentes com história prévia. O potencial protetor dos GLP-1RA em termos cardiovasculares poderá abrir novas perspetivas para o tratamento destes doentes.

Referências: Aymon R, et al. Cancer incidence among rheumatoid arthritis patients treated with JAK-inhibitors compared to bDMARDs: data from an international collaboration of registers (the “JAK-pot” study). Presented at EULAR 2025; OP0232. Ann Rheum Dis 2025; DOI: 10.1136/annrheumdis-2025-eular.A21.

NR/HN/Lusa

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