As redes sociais tornaram-se um campo importante para se exibirem e compararem com os outros. Como é que isso afeta a autoimagem das crianças e dos adolescentes? É prejudicial ou pode conduzir a uma melhor autoestima?
Utilizando dados do Trondheim Early Secure Study, os investigadores procuraram responder a estas questões com foco na avaliação da própria aparência (autoimagem física). A avaliação dos jovens sobre a sua própria aparência é de grande importância para a sua autoimagem global.
O Trondheim Early Secure Study é um projeto de investigação norueguês que estuda o desenvolvimento psicológico e social de crianças e adolescentes. Os investigadores têm obtido informações de pais, pessoal do jardim-de-infância, professores, e das próprias crianças desde os 8 anos de idade. Os participantes têm agora 16 anos de idade, e o sétimo inquérito de recolha de dados está em curso.
As crianças foram entrevistadas sobre a utilização das redes sociais a partir dos 10 anos de idade. A autoimagem foi medida através de um questionário. Mais de 40% relataram ter utilizado Instagram e Snapchat quando tinham 10 anos de idade. Dois anos mais tarde, esses números tinham duplicado. Quando os participantes tinham 14 anos, cerca de 95% estavam no Facebook, e 70 a 80% usaram Instagram e Snapchat (ver quadro).
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Quais as plataformas de redes sociais utilizadas pelos participantes?
Plataforma Idade 10 Idade 12 Idade 14
Meninas e Meninos Meninas e Meninos Meninas e Meninos
Facebook 3,7% 2,4% 12,9% 18,0% 93,2% 95,7%
Twitter 0,6% 2,0% 3,9% 7,8% 13,0% 22,2%
Instagram 42,7% 42,5% 83,2% 65,4% 69,3% 72,5%
Snapchat 43,3% 34,3% 86,6% 74,8% 83,7% 86,3%
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Os 725 participantes foram entrevistados sobre a sua utilização das redes sociais, e o quadro mostra quais as plataformas que utilizavam quando tinham 10, 12 e 14 anos, respetivamente.
Estudos que analisaram a ligação entre a utilização das redes sociais e a auto-imagem relataram algumas descobertas contraditórias. A razão pode estar no facto de o tipo de utilização das redes sociais não ter sido especificado. Neste estudo, os investigadores distinguiram, portanto, entre aquilo a que chamaram utilização das redes sociais “auto-orientada” versus o “uso orientado para o outro”.
Veja-se o exemplo de Lise. Ela publica constantemente fotografias de si própria no Instagram (uso “auto-orientado”), recebe muitos “likes” e comentários, o que pode potencialmente aumentar a sua autoimagem.
Frida, por outro lado, está mais inclinada a “gostar” e a comentar as fotografias de outras pessoas no Instagram (uso “orientado para o outro”).
Dado que as “selfies” são normalmente “retocadas” e representações “perfeitas”, Frida está constantemente exposta às “selfies” idealizadas de outras pessoas. A discrepância entre o que Frida percebe como norma e como ela própria se julga pode ser importante e prejudicial para a sua própria autoimagem.
Foi o que pensaram os investigadores. E, sim, os resultados indicam que as raparigas que ao longo do tempo “gostam” e comentam cada vez mais as mensagens dos outros desenvolvem uma autoimagem física cada vez mais pobre.
Mas pessoas como Lise não desenvolvem uma melhor autoimagem a partir da publicação de imagens de si própria. O uso auto-orientado também não ajuda a “protegê-las” contra o efeito negativo do uso “orientado para os outros”.
É concebível que o feedback positivo que Lise recebe quando publica uma imagem ou um texto tenha um efeito imediato e positivo na sua autoimagem, mas esse efeito é muito efémero.
Note-se que os investigadores estudaram como a utilização das redes sociais afetou a autoimagem física dos participantes dois anos mais tarde. Embora alguns estudos mostrem que a maioria das pessoas recebe comentários positivos sobre o que publica, algumas recebem comentários negativos, nenhum comentário ou “likes”. Isso pode afetar negativamente a sua autoimagem.
Os investigadores também levantaram a hipótese das pessoas com boa autoestima física serem mais propensas a publicar nos seus perfis do que aquelas que não estão tão satisfeitas com a sua própria aparência, mas as suas conclusões não confirmaram esta hipótese.
A relação entre o uso de redes sociais “orientado para os outros” e uma autoimagem física mais pobre era forte no que diz respeito às raparigas, mas não se verificou essa relação nos rapazes. Porquê?
A investigação mostra que as mulheres são mais propensas do que os homens a utilizar as redes sociais para se compararem com as outras (Haferkamp, Eimler, Papadakis, & Kruck, 2012). A comparação social também tem um efeito negativo mais forte na imagem corporal da mulher do que na imagem corporal do homem (Myers & Crowther, 2009). Estas razões podem explicar algumas das diferenças.
Os investigadores vão continuar a seguir os participantes no Trondheim Early Secure Study e esperam, assim, poder contribuir para uma maior compreensão sobre como a utilização das redes sociais afeta as crianças e os jovens.
Informação bibliográfica completa:
The impact of social media use on appearance self-esteem from childhood to adolescence – A 3-wave community study. Silje Steinsbekk, Lars Wichstrøm,, Frode Stenseng, Jacqueline Nesi, Beate Wold Hygen, Věra Skalická. Computers in Human Behavior
Volume 114, January 2021, 106528. https://doi.org/10.1016/j.chb.2020.106528
https://doi.org/10.1016/j.chb.2020.106528
NR/AG/Adelaide Oliveira
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