Redação, 29 abr 2020 (Lusa) – A diretora da OMS África alertou hoje para um aumento “dramático” de infeções pelo novo coranavírus na região África Ocidental e Central, que concentra 54% dos casos e 35% das mortes do continente e níveis “muito baixos” de testes.
“Os casos aumentaram dramaticamente nos países da África Ocidental e Central. A sub-região concentra agora mais de metade dos casos (54%) da região africana da OMS (47 países da África Subsaariana e a Argélia) e 35% por cento das mortes”, disse Matshindiso Moeti.
A responsável da Organização Mundial de Saúde (OMS) África falava durante uma conferência de imprensa virtual conjunta de várias agências das Nações Unidas a operar na África Ocidental e Central.
Matshindiso Moeti assinalou que dos 12 países da região africana da OMS com registo de transmissão local da doença, oito estão nesta sub-região, ou seja, países onde a propagação do novo coronavírus está generalizada na população.
Os 24 países da África Ocidental e Central registam quase 11.300 casos acumulados de covid-19 e mais de 300 mortes.
“Desde os primeiros três casos no Senegal, o passo da epidemia acelerou e, na semana de 13 de abril, os casos cresceram 113% na África Central e 42% na África Ocidental, que partiu de uma base maior em termos do número de casos”, indicou.
“Se as medidas de controlo não mudarem drasticamente, os casos nesta sub-região irão duplicar quase todas as semanas”, acrescentou.
Moeti manifestou “grande preocupação com a propagação do vírus” nesta região, onde o número de testes à doença tem sido “muito baixo”.
“Os países africanos da região da OMS estão a fazer nove testes em cada 10 mil pessoas, o que é muito baixo quando comparado com países como Itália, que está a fazer 200 testes por cada 10 mil pessoas”, apontou Matshindiso Moeti.
Números que são ainda mais baixos na sub-região da África Ocidental e Central, onde há países a fazerem apenas cinco análises por cada 10 mil pessoas.
Nesta região, o Gana surge como o país que mais testes está a fazer, com uma média de 30 análises por cada 10 mil pessoas.
Ainda assim, notou, todos os países desta região têm laboratórios com capacidade para processar as análises.
“A testagem é um primeiro passo fundamental para saber onde está o vírus para podemos parar a sua propagação. Há uma grande falta de testes e esta é a nossa prioridade no apoio aos países”, disse.
Por isso, a especialista adiantou estarem a trabalhar “urgentemente” com cientistas e parceiros para conseguir validar alguns dos testes rápidos que estão a ser produzidos em alguns países e mostrou-se “muito otimista” com o teste que está a ser desenvolvido pelo Senegal.
“Temos de ultrapassar a grande escassez de testes e o teste ‘low-cost’ que o Senegal está a desenvolver é muito promissor”, afirmou.
Na mesma conferência de imprensa participaram também os diretores regionais da Unicef, PAM, UNFPA, além do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a África Ocidental e Sahel, Mohamed Ibn Chambas.
Os responsáveis das organizações das Nações Unidas assinalaram que o aumento constante de casos representa um desafio adicional numa região que enfrenta desafios humanitários decorrentes de vários conflitos, da escassez de alimentos e de sistemas de saúde muito frágeis.
Alertaram também para a necessidade de mobilizar recursos financeiros e apoio técnico, não apenas para a resposta imediata à saúde, mas para prevenir o impacto social e económico que esta crise terá sobre milhões de pessoas que sobrevivem com base num rendimento diário.
Quatro dos nove países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) localizam-se na sub-região da África Ocidental e Central.
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe somam, no seu conjunto, 637 casos e três mortes desde o início da pandemia.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 217 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 860 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Lusa/HN
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