Impacto da Covid-19 pode aumentar mortes por VIH, malária e tuberculose até 36% na África Subsariana

23 de Dezembro 2020

Os países de baixos e médios rendimentos poderiam ver o VIH, a tuberculose (TB), e as mortes por malária aumentar até 36% nos próximos cinco anos devido a perturbações dos serviços de saúde induzidas pela Covid-19, de acordo com um estudo publicado na revista “Lancet Global Health”.

De acordo com o Relatório Mundial sobre Paludismo de 2019, estima-se que tenham ocorrido 228 milhões de casos de paludismo em todo o mundo em 2018, tendo a Região Africana da Organização Mundial de Saúde (OMS) comunicado 213 milhões de casos, ou seja, 93%.

Em 2017, cerca de 2,5 milhões de pessoas contraíram tuberculose (TB) na África Subsariana e 665 mil morreram da doença.

O estudo prevê que, durante a pandemia de Covid-19, sem acesso à terapia antirretroviral para o VIH, ao diagnóstico e tratamento atempado da tuberculose, bem como o fornecimento de redes mosquiteiras tratadas com inseticida de longa duração para a malária, as mortes por VIH poderiam aumentar 10 por cento, sendo os números para a tuberculose e a malária de 20 e 36 por cento, respetivamente.

“Milhões de pessoas dependem de serviços para o VIH, TB e malária e estamos preocupados com o impacto que tais perturbações causariam”, diz Timothy Hallett, coautor do estudo e professor de Saúde Global no “Imperial College” de Londres.

O docente explica que as epidemias podem causar consequências em cadeia para os serviços de saúde, se as pessoas não puderem ou não quiserem procurar cuidados, ou se os sistemas de saúde ficarem sobrecarregados.

“Durante a epidemia de Ébola na Guiné, em 2014, morreram mais pessoas de paludismo nesse ano, devido à administração de menos tratamentos, do que pelo Ébola”, refere o estudo.

Timothy Hallett diz que em muitos países da África Subsariana, o VIH, a tuberculose e a malária estão entre as causas de morte mais comuns. “Contudo, nos últimos anos, registaram-se declínios significativos em muitas áreas, graças à ampliação dos programas”, afirma.

Os investigadores utilizaram um modelo informático para criar diversos cenários e, assim, analisar os efeitos de diferentes políticas sobre as mortes por VIH, TB e malária.

“Os nossos resultados sublinham as decisões extraordinariamente difíceis que os decisores políticos enfrentam”. Intervenções de supressão a longo prazo, bem geridas, poderiam evitar a maioria das mortes, evitando uma pandemia de Covid-19″, diz o estudo publicado na Lancet Global Health. “No entanto, se as intervenções não forem bem geridas, poderão levar a um grande pico de mortes por outras causas”.

O investigador assinala que as intervenções para minimizar o impacto da Covid-19 incluem a manutenção do tratamento para os que se encontram a fazer terapia antirretroviral, a continuação do diagnóstico atempado e do início do tratamento da tuberculose, bem como a distribuição de redes mosquiteiras.

Informação bibliográfica completa:

Alexandra B. Hogan and others – Potential impact of the COVID-19 pandemic on HIV, tuberculosis, and malaria in low-income and middle-income countries: a modelling study (The Lancet Global Health, 13 July, 2020).

AG/HN/Adelaide Oliveira

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