Graças ao verme marinho “Platynereis dumerilii”, um invertebrado cujos genes evoluíram muito lentamente, cientistas do “Centre National de la Recherche Scientifique” (CNRS) e da Universidade Paris-Sorbonne, em associação com outros investigadores da Universidade de São Petersburgo e da Universidade do Rio de Janeiro, mostraram que embora a hemoglobina tenha surgido em várias espécies de forma independente, na realidade descende de um mesmo gene, transmitido pelo seu último antepassado comum. Estas descobertas foram publicadas na “BMC Evolutionary Biology”.
Ter sangue vermelho não é uma característica peculiar dos seres humanos nem dos mamíferos. A cor provém da hemoglobina, uma proteína complexa especializada no transporte de oxigénio no sistema circulatório dos vertebrados, dos anelídeos (as minhocas são os membros mais conhecidos desta família de vermes), de moluscos (especialmente os caracóis de água doce) e de crustáceos (tais como dáfnias ou “pulgas de água”).
Pensava-se que para a hemoglobina aparecer em espécies tão diversas, deveria ter sido “inventada” várias vezes durante a evolução das espécies. Contudo, investigações recentes demonstraram que todas estas hemoglobinas nascidas “independentemente”, na realidade derivam de um único gene ancestral.
Os investigadores consideram que este animal evoluiu lentamente porque as suas características genéticas são próximas das do antepassado marinho da maioria dos animais, o “Urbilateria” (1). O estudo deste verme, comparando-o com outras espécies de sangue vermelho, ajudou a descobrir a origem da hemoglobina.
A investigação centrou-se na ampla família a que pertencem as hemoglobinas: as globinas, proteínas presentes em quase todos os seres vivos capazes de “armazenar” gases como o oxigénio e o óxido nítrico.
Este trabalho mostra que em todas as espécies com sangue vermelho, foi o mesmo gene que permitiu fabricar uma molécula de globina, denominada “citoglobina”, que evoluiu independentemente para se tornar um gene codificador da hemoglobina.
Os cientistas pretendem prosseguir as investigações, estudando quando e como surgiram as diferentes células especializadas dos sistemas vasculares dos bilatérios.
Nota (1): “Urbilateria” é o último antepassado comum dos bilatérios, ou seja, animais dotados de simetria bilateral (esquerda-direita) e de órgãos complexos.
https://doi.org/10.1186/s12862-020-01714-4
Informação bibliográfica completa:
Globins in the marine annelid Platynereis dumerilii shed new light on hemoglobin evolution in bilaterians. Solène Song, Viktor Starunov, Xavier Bailly, Christine Ruta, Pierre Kerner, Annemiek J. M. Cornelissen and Guillaume Balavoine. BMC Evolutionary Biology, December 29, 2020 – https://doi.org/10.1186/s12862-020-01714-4
NR/AG/Adelaide Oliveira
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