Entrevista Luís Bronze: “Comorbilidades são fundamentais para a cabal modelação do risco cardiovascular”

25 de Abril 2021

“A HTA não existe separada de outras comorbilidades importantes”, tais como a doença cerebrovascular, a doença isquémica e até a diabetes mellitus, refere o cardiologista Luís Bronze, diretor de Saúde […]

“A HTA não existe separada de outras comorbilidades importantes”, tais como a doença cerebrovascular, a doença isquémica e até a diabetes mellitus, refere o cardiologista Luís Bronze, diretor de Saúde da Marinha Portuguesa e presidente eleito da Sociedade Portuguesa de Hipertensão. “A terapêutica deve ter em conta as referidas comorbilidades, pois estas são fundamentais para a cabal modelação do risco cardiovascular”.

 HealthNews – Qual é, na sua perspetiva, o papel das sociedades científicas no atual contexto pandémico?
Luís Bronze – As sociedades científicas são muito importantes genericamente para assegurar a informação científica mais atual e as boas práticas em relação à sua área científica de interesse. Esse papel surge ainda mais relevante, neste tempo pandémico em que as informações se sucedem, muitas vezes contraditórias, eivadas do “achismo” que caracteriza a ignorância associável a este tempo pandémico.

Enquanto presidente eleito da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), quais são os seus projetos e objetivos mais relevantes para o futuro da Sociedade?
Prefiro revelar o meu plano para depois da tomada de posse, mas sempre vou afirmando que pretendo incrementar o papel científico e público da SPH.

Este ano, o congresso da SPH, cuja comissão organizadora preside, incide sobre “Hipertensão e risco cardiovascular global”. Está aberto a outras especialidades e conta com um importante número de palestrantes nacionais e estrangeiros. Isso significa que a Sociedade continua a apostar na abertura a outras áreas do conhecimento?
O congresso, apropriadamente apelidado de “HTA e Risco CV”, inclui todas as áreas relacionadas com o risco cardiovascular. Deste modo, a diabetes mellitus, a doença vascular aterosclerótica, a doença renal, a doença coronária e outras têm uma interface comum com a HTA, que importa conhecer e que importa divulgar.

Este desiderato abrangente está na essência deste evento científico, que também congrega outras tantas especialidades médicas.

Um dos grandes temas do Congresso incide na importância da pandemia por SARS-CoV-2 na terapêutica hipertensiva. O que revela a evidência científica?
De uma forma geral, simplificada, e uma vez que o mecanismo de ação viral poderia sofrer interferências pelo mecanismo terapêutico de algumas classes de anti-hipertensores, entretanto não comprovadas. Compreensivelmente, haveria o risco de descontinuação terapêutica.

A SPH, desde o início da pandemia, informou que o suposto efeito deletério destas medicações, no contexto pandémico, não estava comprovado e que o comprovado risco de descontinuação terapêutica não era aceitável.

A terapêutica hipertensiva em doentes com comorbilidades e a importância dos novos agentes anti-diabéticos na terapêutica da HTA são outros dois temas em destaque. Que novidades existem nestas áreas e qual o impacto na prática clínica?
Os doentes devem cada vez mais ser observados numa perspetiva holística, devem ser vistos como um todo. A HTA não existe separada de outras comorbilidades importantes: a doença cerebrovascular, a doença isquémica e até a diabetes mellitus, entre outras. A terapêutica deve ter em conta as referidas comorbilidades, pois estas são fundamentais para a cabal modelação do risco cardiovascular…

A diabetes mellitus tem tido uma evolução terapêutica assombrosa, com agentes que são também importantes na limitação do risco cardiovascular global. Faz, portanto, todo o sentido incluir esta entidade no presente congresso.

O XV Congresso da SPH também dá destaque à temática “risco cardiovascular e Covid-19”. Está otimista relativamente à vacinação?
Estou otimista em relação ao plano de vacinação pois sou médico da Marinha Portuguesa e reconheço a capacidade organizativa do atual coordenador daquele plano. Por outro lado, e apesar das novas estirpes, acredito que as atuais vacinas serão capazes de limitar as formas mais críticas da doença.

 Considera que as perspetivas são agora mais animadoras em termos de uma resposta das estruturas de saúde para travar o impacto da pandemia em vários indicadores de saúde? Nomeadamente, na morbimortalidade cerebrocardiovascular?
Não estou na posse do conhecimento estatístico que permita estimar as perspetivas futuras em relação à pandemia. Penso mesmo que poucas previsões se poderão fazer com certeza científica. Espero, contudo, que o pior tenha passado, permitindo assim o retomar da normalidade, em relação ao atendimento não-covid.

Adelaide Oliveira

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